3.13.2011

Rotina

O retorno aos dias cinzas, previsíveis, tolos e inconscientes. A rotina é uma bênção para quem não quer mais se preocupar, a rotina é uma forma de liberdade, uma maneira de viver, ser feliz, mesmo que brincando de faz de conta, mesmo que aceitando bobagens que não dizem nada. A rotina é uma disciplina que cultivo cada vez com mais fervor. Fora dos limites da previsibilidade e do repetitivo há um universo de eventos, pessoas, cores, sons e sensações que não animam sequer uma miserável célula de meu ser. O incessante devir e seu maremoto de acontecimentos, os estímulos, os fatos a analisar, as opiniões a emitir: apenas a lembrança destas coisas me deixa cansado. O exílio voluntário na repetição, na ordem pura e repetitiva, na lentidão que é como um bálsamo para este universo de pura velocidade cada vez mais acelerado: eis a fórmula a qual consagro meus dias, é para esse reduto onde nada de novo acontece que coloco em marcha minhas forças vitais. Evito, em uma palavra, cair no pecado do desperdício -e isso pode ser compreendido de diversas formas. Falo especialmente das diversões mundanas que, por mais que não as queira, acabo delas usufruindo, porém sempre com a sensação de estranhamento; de que nada ali me diz respeito; que as expressões felizes que me rodeiam nada mais são que construções pouco sólidas, e podem ser resumidas como um encontro vulgar entre o efeito do álcool e os apetites do baixo ventre; e que estando ali, mesmo com esses pensamentos, nada me diferencia de todos ao meu redor: sou como eles, exatamente como eles, e o álcool também me deixa eufórico e também danço e me divirto como qualquer outra pessoa. Medianamente como qualquer outra pessoa. Todas as problematizações são lixo, a escritura é lixo, a extravagância é lixo, o cheiro de cigarro impregnando minhas roupas, os aromas etílicos, a roupa amarrotada, os raios de sol já deixando tudo claro, a vida começando novamente e eu ainda sem a possibilidade de dormir pelas próximas horas.

2 comentários:

  1. Emilia Aratanha12:47 PM

    bom

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  2. continua mantendo a excelência em seus textos leandro, volta e meia visito este canto e me deparo com um sentimento do mundo de e para poucos.
    abraço!

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