7.03.2017

Dos latidos dos cães negros


Fazer emergir, do mais profundo dos desertos, a fonte primeva que apazigua a Sede Infinita que empurra nosso espírito fáustico rumo aos confins da Criação. Aeons futuros feitos de Gozo e Grandiosidade, nascidos sobre os ossos esmagados de gerações de humanos que cimentaram as pontes do Porvir. Aventura feita de escolhas indizíveis, de histórias secretas que não são mais ouvidas por ninguém. Ósculos trocados entre delícias e profanações, e de cada um nascerá uma nova revelação, uma nova gnose deixada aos pés do Mais Alto, daquilo que nos impele, a nós corações totalitários, que não cedemos nunca frente a todas as paixões feitas de ardor infinito, de incêndios sentimentais que transformam todos os amantes - mesmo os mais indecentes - em simples personagens de inofensivas historinhas eróticas para senhoras bem comportadas. 

Ladram os cães negros da noite, como sempre trazendo novas mensagens vindas dos mundos mortos, onde até mesmo o Amor é infecundo; nós lemos nos latidos as cartas que vem destes mundos longínquos, cartas com cheiro de incenso e sangue grafadas com estranhas letras que enlouquecem os homens ponderados, os homens cuja vida é rotina e apequenamento. Nós entramos nas casas dos homens com a Boa Nova dos Aeons Futuros, sussurramos poesias pervertidas e os convidamos a participar em júbilo das orgias com suas mulheres e lindas filhas. Eles negam o prazer e nós rimos do medo que exala de suas palavras covardes; envergonhados, choram como bebês seus cornos frescos nascidos da devassidão que embala o cavalgar indecente de suas esposas no falo que levantamos ao ar como um culto a tudo que é feito em nome da Beleza e da Eternidade. E é isso que faz pulsar o nosso desejo: Beleza nas Formas! Eternidade na Indulgência! A tudo isso sorvemos um último gole nos lábios úmidos das sorridentes filhas dos homens covardes. E extasiados morremos em um vórtex escuro que reluz, e no seu brilho secreto que apenas poucos podem ver toda a escuridão é feita de ouro.

(experiência de escrita automática após imersão meditativa em "The Book of Pleasure", de Austin Osman Spare)