2.12.2009

Literatura erótica

Acabei de voltar do Sesc Pinheiros onde ocorreu o primeiro dia do evento "Entrelinhas do corpo: encontros de literatura erótica", que vai até o dia 19/02. A programação completa inclui temas como erotismo nos quadrinhos, rodas de leitura e oficinas de criação literária.
Hoje, no evento de abertura, foram três curtas apresentações, cada uma se detendo sobre um aspecto da literatura erótica produzida aqui no Brasil. Ivan Marques, doutor em literatura pela USP e ex-diretor do programa Entrelinhas da TV Cultura, falou sobre o erotismo na obra de Carlos Drummond de Andrade, que só chegou ao público após sua morte com a publicação póstuma do livro "O amor natural", que reúne poemas de alta densidade erótica, aspecto jamais visto nos outros escritos do poeta mineiro. Estes poemas, aliás, foram deliberadamente ocultados por Drummond durante décadas, segundo Ivan Marques; inclusive, ele declarou na década de 70 que não queria publicá-los, pois não queria que seus poemas fossem confundidos com a onda de pornografia que, como um tsunami, crescia mais e mais no mercado editorial brasileiro.
Fazer uma espécie de arqueologia desta faceta do mercado editorial brasileiro foi tarefa de Gonçalo Junior, jornalista que já tem uma extensa produção editorial, voltada especialmente para o universo das HQs. Mostrando capas de raridades que ele descobriu vasculhando nos corredores empoeirados dos sebos, Gonçalo demonstrou que não só a história dessas publicações ainda não foi devidamente documentada e que, também, as dificuldades para fazê-lo são homéricas: muitos dos livros foram lançados por editoras desconhecidas, outros nem editoras possuiam, e alguns são até mesmo artesanais, com impressões de péssima qualidade e grampeados um a um. Segundo ele, estes livros eram vendidos marginalmente, possivelmente pelas próprias editoras aos interessados, mas desconhece-se como isso ocorria. Há indícios que em clubes privados de nudismo, que floresceram abundantemente na década de 60 e 70, estas publicações também circulavam. Nas livrarias, porém, eram inexistentes. O interessante é imaginar como funcionaria este autêntico mercado negro do desejo.
A vez do Marcelino Freire foi dominada pelo bom humor e pela exibição de uma animação feita para o conto "Homo Erectus", com a voz marcante de Paulo César Pereio. Abaixo, você pode conferir o vídeo, que realmente ficou muito bom, fazendo jus ao formidável texto.