tag:blogger.com,1999:blog-342463432014-01-02T07:06:27.787+14:00Dissolve CoagulaLeandro Marciohttps://plus.google.com/101175625277493088531noreply@blogger.comBlogger201125tag:blogger.com,1999:blog-34246343.post-23142393760723441162013-12-28T09:59:00.000+14:002013-12-28T12:05:00.923+14:00Comentários sobre o livro "Os filhos místicos do Sol"<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-4f4BFAEgesk/Ur3bWGApTxI/AAAAAAAAAEM/OEciOTnG9bQ/s1600/sol.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="271" src="http://2.bp.blogspot.com/-4f4BFAEgesk/Ur3bWGApTxI/AAAAAAAAAEM/OEciOTnG9bQ/s400/sol.jpg" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O livro "Os filhos místicos do Sol" foi lançado em 1971 em Paris, pela Editións Robert Laffont, e a edição brasileira chegou às livrarias em 1976 através da Difel Difusão Editorial, como um dos livros da coleção "Enigmas de todos os tempos". Eu não sei exatamente quantos livros compõem essa coleção, mas entre eles conheço outros três: "O livro da Tradição", "Hitler e as religiões da suástica" e "Hitler e a tradição cátara". Todos esses livros foram escritos pela dupla Michel e Jean Angebert, pseudônimos dos franceses Michel Bertrand e Jean-Victor Angelini, respectivamente. É bem fácil encontrar "Os filhos místicos do Sol" e "O livro da Tradição" no Estante Virtual; já os outros dois são mais raros, sendo que o último é praticamente impossível de ser encontrado e, com uma boa dose de sorte, não sairá por menos de R$ 200,00.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ante de irmos ao livro, um parênteses para que você, (talvez) um futuro leitor de "Os filhos místicos do Sol", não se decepcione: a tradução é um lixo. E não, eu não li o original francês e cotejei os textos, assinalando as imperfeições com uma paciência algo filológica - você as percebe claramente pela falta de fluência com que o texto se desenrola em determinadas partes. Há trechos onde as orações simplesmente não se encaixam, e é necessário ler e reler para que o sentido então floresça. Nas 341 páginas da obra, curiosamente, essa deficiência (que presumo ser da tradução, posto que já tive a oportunidade de debater erros tradutológicos em outra obra, de outra editora, e essa falta de "fluência" se repetia de maneira muito similar) apareceu mais monstruosamente presente no epílogo. Seria um indício de que a "tradutora", cansada, ficou ainda mais displicente, produzindo um texto com menos cuidados, uma tradução quase literal, palavra a palavra, prenunciando em quase três décadas os equívocos do Google Translator? [uma outra hipótese: a dupla francesa realmente escreve mal. Mas não acho que é o caso. Franceses podem ser uns porcalhões, mas escrevem bem, com elegância, vide o efeito que a vivência parisiense produziu no estilo de autores tão díspares como Cioran e Cortázar].</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Deixando de lado essas questões sobre a qualidade duvidosa da tradução, a tese do livro pode assim ser resumida: a influência decisiva (e por vezes terrível) que o Sol tem sob a vida dos seres humanos. Partindo de uma premissa, por assim dizer, astrológica, ou se preferirem o dito hermético "tanto em cima como embaixo" - isto é, que a movimentação e a posição dos astros no cosmos influencia indubitavelmente o destino dos homens em particular e da humanidade como um todo - os autores assinalam que nessa rede infindável de forças cósmicas, o Sol tem a primazia, sendo o centro de orientação das estrelas e planetas que compõe o Zodíaco. Premissa inegável, de fato, desde que você obviamente não entenda por astrologia essas vulgaridades baratas de "adivinhações" presente nos horóscopos diários de jornais e sites "esotéricos", que nada mais do que uma versão bastante deformada e "profana" da autêntica Astrologia, ciência antiquíssima (talvez a mais antiga a permanecer entre nós, mesmo que como um eco), e que a ânsia "objetiva" dos cientistas modernos relegaram a um patamar inferior de "crença", colocando a Astronomia como verdadeiramente "científica".</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;"><i>Na sua misteriosa alquimia, o Sol no plano astral condensa as forças inorgânicas imensas, as energias contidas no cosmos, e essa vitalidade prodigiosa, que parece constantemente renovada, participa verdadeiramente do poder divino e, por trás do Sol visível, deslumbrante luminária, permanece como um braseiro imenso, infinitamente mais vasto e mais terrível, o Sol invisível, o Sol negro dos magos e dos alquimistas, assim chamado devido ao seu terrível brilho, ao nossos olhos emanação do Logos Divino... Outrossim, não é dado aos humanos, pelo menos nessa vida, contemplar esse fogo espiritual, de tal forma brilhante que faria arder a nossa alma pela eternidade. Em compensação os textos sagrados da humanidade, tal como o Livro dos Mortos egípcio ou o Bardo Thödol tibetano, presumem essa luz que poderemos contemplar do outro lado do espelho, isto é, depois de nossa morte terrestre. É o Sol de Osíris dos sacerdotes de Mênfis, a "luz azul" do plano budístico, o "Sol dos mortos", o que, sozinho, guia as almas para o Espírito e transcende o mistério do Conhecimento Supremo. O segredo do logos, o conhecimento do Sol negro, caminho da vida e da morte, tal era a chave dos grandes mistérios conhecidos em outros tempos dos colégios de iniciação, dos pontífices atlantes, dos sacerdotes egípcios e dos grandes druidas antes da extinção da luz da Tradição soprada por um "vento de loucura" nascido em alguma parte da Judéia. (página 4)</i></blockquote><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-9gc0MmrZYXs/Ur3b6hcVdhI/AAAAAAAAAEU/l8WDeeoLKwY/s1600/sol+2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-9gc0MmrZYXs/Ur3b6hcVdhI/AAAAAAAAAEU/l8WDeeoLKwY/s320/sol+2.jpg" width="213" /></a>Mas o livro não é simplesmente uma interpretação astrológica de eventos e personalidades históricas. A referência teórica é mesmo anterior à Astrologia, considerada não em si, mas tão somente como uma herdeira de uma sabedoria muitíssimo mais antiga, que extrapola os limites da história oficial, do que hoje é tomado como "verdade histórica"; uma sabedoria que permanece codificada nos ritos de mistério da Antigüidade, nos tratados alquímicos da Idade Média, nas construções templárias repletas de simbolismos, e que possuem, segundo os autores, todos eles um mesmo tronco comum, perdido na névoa dos templos - a mítica Atlântida.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O que acabou de ser dito - Atlântida - surge quase como uma anátema sobre mim para alguns. Lida com espanto, a palavra remete aos nefastos programas da History Channel (que contribuem, através do recurso do ridículo, em colocar véus ainda mais pesados sobre determinadas questões, com o estratégico objetivo de obnubilar o entendimento geral, mas isso já é matéria para outro texto). Remete a fantasias sem nexo e a uma retórica "New Age" que é apontada com cinismo, cinismo "irreverente" repetido bilhões de vezes em memes que são o resumo e objeto cultural mais do que representativo da bobagem pós-moderna. Sobre isso, sobre esses possíveis olhares de reprovação ao se invocar Atlântida nesse texto, nada mais a dizer do que o que segue:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;"><i>(...) enquanto do ponto de vista da "ciência" se dá valor ao mito pelo que ele poderá fornecer de história, dá-se pelo contrário valor à própria história pelo que ela nos pode fornecer de mito, ou pelos mitos que se insinuam em suas malhas, como integração do "sentido" da própria história (Revolta contra o mundo moderno, edições Dom Quixote, 1989, página 16)</i></blockquote><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ou seja: a suposta "cientificidade" do History Channel e outros programas/publicações do tipo está bastante distante do ponto de vista sustentado pelos autores, que se aproxima muito do ponto de vista evoliano. Eles buscarão, ao analisar a trajetória de oito personalidades históricas - Akhenaton, Zoroastro, Alexandre o Grande, Juliano o Apóstata, Frederico de Hohenstaufen, Napoleão, Hitler e Mao Tsé-Tung - a influência que o mito do Sol desempenhou na biografia de cada um desses homens, homens que em diferentes épocas e de diversos modos promoveram gigantescas mudanças na história humana.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O capítulo dedicado a Akhenaton foi para mim o mais interessante. Esse faraó misterioso, que revolucionou o Egito em 1.300 a.C. implantando a primeira religião monoteísta da história - o culto ao Sol, a Aton - enfrentou o poderoso clero do deus Amon, tornou ilegal o culto aos antigos deuses e proclamou a si e a sua esposa Nefertiti como divinos e únicos representantes do Sol na terra. A nova religião tinha como principal sacerdote, justamente, o faraó: cristalização perfeita do papel imperial e religioso em concordância, próxima à configuração tradicional que estabelece que os poderes espiritual e temporal devem ser um único poder. E o mais interessante: Aton, o Sol, não deveria ser personificado em uma estátua, bem ao gosto dos egípcios. A única representação permitida de Aton era o disco solar, feito em ouro, que posicionado no centro-alto do templo, recebia os primeiros raios do Sol, resplandecendo em um milagre de luminosidade - a adoração feita desse modo assemelha-se aos primórdios da religião romana, onde os deuses eram tidos como forças, como <i>numen</i>, presentes no universo e envolvendo a tudo e a todos os momentos da vida.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Outro capítulo que merece destaque é o último (na verdade, um epílogo) dedicado ao "Sol Vermelho" de Mao Tsé-Tung. Tendo em mente o leitor que o livro foi escrito em 1971 e, portanto, as informações sobre a China eram infinitamente escassas, a pesquisa realizada pelos autores por si só já merece aplausos; mas mais do que isso, trouxe para mim aspectos sobre a Revolução Cultural que eu desconhecia completamente, como por exemplo a Sociedade Hung, uma milenar sociedade secreta, espécie de Maçonaria chinesa, para fazermos uma comparação extremamente grosseira. Segundo os autores, os quadros do alto comando do Partido Comunista são todos membros da sociedade Hung. De fato, parece crível: a China pode ter hoje uma abertura muito maior ao mundo ocidental, e recentemente, em seu plano quinqüenal, acenou para uma liberalização ainda mais acentuada. Mas a hierarquia do Partido e o controle absoluto da sociedade chinesa permaneceram intactos, o que demonstra a existência de um "núcleo duro" e uma centralização total do poder. Há sempre uma aura de mistério, de algo não dito, sobre a China e suas intenções no cenário geopolítico mundial. Citamos um trecho do livro, que na verdade é citação de um outro, "L´agonie de la Vielle", feita pelos Angebert:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;"><i>A situação... permite prever um terremoto capaz de engolir nossa Atlântida... Três catolicismos desmoronam: o catolicismo de Roma, o de Washington e o de Moscou - e sobre suas ruínas medra silenciosamente o joio do nacionalismo (...) Suprema irrisão: se um sentimento internacional nascer, encontrará amanhã impulso e fundamento na ameaça que representarão um bilhão de chineses nacionalistas, xenófobos e armados até os dentes. Ele será pois branco e racista. Nesse dia, sobre o imenso campo das ruínas da moral cristã (a moral socialista foi apenas uma tradução moderna da anterior), uma ordem nazificante estenderá a vasta envergadura de suas asas. Do Valhalla, Hitler poderá fazer esta reflexão: "Enganei-me somente da data. Fui muito apressado." Sim, o presidente Mao, "Sol vermelho, irradiante, glória do Universo e flor maravilhosa da criação", pensa na reação que arrisca a desatar, ou bem, está de tal forma confiante na inelutável decadência da sociedade ocidental? Sabe-se que alemães e japoneses pagaram muito caro essa tendência de subestimar o adversário... Passar-se-á o mesmo amanhã?</i></blockquote><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A dimensão apocalíptica do aviso nos parece ridícula. Vemos a China apenas pelos olhos da mídia como um país "comunista" que se rendeu ao capitalismo. Mas será apenas isso mesmo? O enorme apetite por commodities faz a China comprar minérios, grãos e combustível de todas as partes do mundo. No recente leilão do pré-sal, um dos consórcios é chinês - trocaremos a tecnologia deles com o petróleo pátrio. E toda essa energia levada ao solo chinês, que fins terá além da óbvia manutenção da enorme população chinesa? A sociedade Hung possivelmente ainda permanece com influência nas decisões estratégicas do país, e talvez ainda alimente o sonho de dominação do "Sol vermelho" de Mao Tsé-Tung. É necessário, portanto, ver além dos véus e entender os sinais que indicam sentidos além dos óbvios.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Enfim, "Os filhos místicos do Sol" apresenta uma releitura de biografias históricas sob uma perspectiva nada oficial. Para os que apreciam temas esotéricos e interessam-se pela Tradição, é uma leitura complementar que possibilita ver o jogo de forças aeônicas atuando na História e exercício interessante para descobrir, nas entrelinhas, as formas tradicionais de vida em choque com suas antíteses.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Leandro Ramoshttps://plus.google.com/114737267621127931955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34246343.post-89304161850494446892013-10-30T15:36:00.001+14:002013-12-24T06:25:58.179+14:00Germinal<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/blog-na-rede/2013/10/black-blocs-o-assassinato-do-menino-douglas-e-o-inferno-anunciado-3804.html/fernaodias_Mario-Angelo_Sig.jpg/image_preview" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="250" src="http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/blog-na-rede/2013/10/black-blocs-o-assassinato-do-menino-douglas-e-o-inferno-anunciado-3804.html/fernaodias_Mario-Angelo_Sig.jpg/image_preview" width="400" /></a></div><br />Lí <a href="http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/blog-na-rede/2013/10/black-blocs-o-assassinato-do-menino-douglas-e-o-inferno-anunciado-3804.html" target="_blank">essa notícia </a>e, na hora, lembrei-me desse trecho do Germinal:<br /><br /><div style="text-align: justify;"><i>"Era a visão vermelha que arrastaria a todos, fatalmente, numa dessas noites sangrentas desse fim de século. Sim, uma noite, o povo em torrentes, desenfreado, correria assim pelos caminhos, gotejando o sangue burguês, exibindo cabeças, semeando o ouro dos cofres arrombados. As mulheres gritariam, os homens abririam suas queixadas de lobos, prontos para morderem. Sim, seriam os mesmos farrapos, o mesmo matraquear de tamancos grosseiros, a mesma turba assustadora, suja, de hálito fétido, varrendo o mundo caduco com a sua irresistível avalancha de bárbaros. Arderiam incêndios, nas cidades não ficaria pedra sobre pedra, regredir-se-ia à vida selvagem das florestas após o grande cio, o grande rega-bofe, e, que os pobres, numa só noite, extenuariam as mulheres e esvaziariam as adegas dos ricos. Não sobraria nada, as fortunas e os títulos das situações adquiridas desapareceriam, até o dia em que talvez desabrochasse uma nova sociedade. Sim, eram essas coisas que estavam passando pela estrada, como uma força da natureza, e vinha delas o vento terrível que lhes açoitava os rostos."</i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Zola, esperançoso, é também cauteloso: diz que "talvez" desabrocharia uma nova sociedade. No incêndio que assola a Zona Norte de São Paulo, parece-me que dos destroços pouca coisa sobrará, que a ânsia de destruição minará todas as possibilidades de renascimento. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O niilismo em sua mais crua cristalização. O vento terrível da revolta popular. Os sintomas claros - e cada vez mais evidentes - do fim de um ciclo. Sigo como um observador curioso, procurando ler nas entrelinhas dos noticiários as mensagens ocultas e tentando compor um cenário mais abrangente de tudo. </div> Leandro Ramoshttps://plus.google.com/114737267621127931955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34246343.post-56372609236606269872013-10-11T17:34:00.002+14:002013-10-11T18:10:34.773+14:00Algumas razões de não escrever mais aqui<div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-b8pu7sNrcqw/UldwMPZ9B8I/AAAAAAAAADM/Q-SCKLlRTP0/s1600/altar.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="http://1.bp.blogspot.com/-b8pu7sNrcqw/UldwMPZ9B8I/AAAAAAAAADM/Q-SCKLlRTP0/s400/altar.jpg" width="400" /></a></div><br />Foi com algum tipo de surpresa que ontem, ao visitar o blog, constatei que em 2013 realizei simplórias seis postagens. Algumas poucas pessoas que acompanham as postagens aqui devem ter considerado a ausência como a morte do blog. Entretanto, eu nunca o considerei morto, talvez por uma espécie de mórbida afeição por coisas moribundas. Mas para prestar uma espécie de satisfação a todas as almas que aqui vinham, deixo algumas palavras de esclarecimento.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Se, nos anos anteriores, eu já tinha meu cotidiano marcado por um ritmo de trabalho frenético, 2013 tratou de acelerar ainda mais esse aspecto de minha vida. Nunca trabalhei tanto como nesse ano. Somado a isso, iniciei uma pós-graduação que consumia o já escasso tempo livre, como forma de aprimorar minhas qualificações profissionais. Em resumo: não contente com a quantidade de trabalho que eu tinha, tratei de aumentar o ritmo e criar condições para que novas responsabilidades sejam adquiridas no futuro. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A esses dois fatores juntamos a preguiça. Na verdade, não é preguiça, mas um esgotamento físico e mental que me assola quando cruzo a porta de casa. É o preço a ser pago para tornar-se "eficiente". Busco conforto, então, em um prato de comida, na música (ouço agora os acordes de Dylan Carlson, esse oásis de calmaria em dias tão sempre repletos de caos), na leitura ou simplesmente na técnica que mais gosto: deitar no sofá, acender um cigarro e como que submergir nele, deixando que as almofadas me abracem, até que uma sonolência me capture - e então levanto, vou para o quarto e durmo, para começar no dia seguinte tudo de novo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A pedra rola até o topo, cai, e você vai lá empurrando de novo para cima.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Gosto de imaginar que a vida é assim como todo mundo: envelhecemos e nos tornamos todos iguais. É extremamente confortável imaginar que se trata de um fatalismo, que mais cedo ou mais tarde até o mais irascível fã do Crass vai cogitar em fazer um seguro de vida. Mas isso é só uma crença, e como todas as crenças é duvidosa, em geral existe apenas como um frágil argumento para tornar a vida mais tolerável. Toda crença tem um pouco desse poder de permitir ao crente uma estratégia de fuga quando a situação se torna crítica. A minha é ver a minha vida se tornar medíocre e considerar que a de todo mundo é igual. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O caminho para a mediocridade tem muita relação com a passagem do tempo e o acúmulo de compromissos que isso traz. Com vinte anos, eu tinha um conjunto de preocupações mais ou menos reduzido, mas certamente sem comparação com os que tenho hoje. Compromissos que envolvem dinheiro principalmente: esses são os mais nocivos. É através dessas dívidas que se multiplicam no tempo que somos arrastados para a vala comum dos vencidos. O dândi se transforma no proletário quando os juros do cheque especial batem à porta. A mediocridade é a transformação das relações humanas em um tipo onde o peso da matéria se acentua e passa de coadjuvante a protagonista - quanto mais envolvida nos véus da influência materialista, mais medíocre uma vida se torna. E isso não significa que apenas existências plenas de recursos materiais sejam medíocres. Não estou fazendo uma elogio do voto de pobreza, tão ao gosto desses tempos contaminados por uma moral de escravo. A vida medíocre se instala assim que preocupações materiais se tornem as principais, ocupando a maior parte do tempo/energia que temos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Então, sempre quando chego em casa, olho com desdém um bar que fica em uma esquina próxima. Sempre vejo lá, sentado na mesma mesa, um homem gordo, que fuma e bebe às vezes sozinho, às vezes acompanhado. Tento imaginar que tipo de vida ele tem e só consigo vê-lo suado, rindo aquela sua gargalhada imbecil, rodeado de outros igualmente imbecis. Gosto de me imaginar uma pessoa incrivelmente mais interessante do que aquele gordo - afinal eu chego em casa e leio, enquanto ele fica lá se matando e engordando como um porco; eu escuto música decente, enquanto aquele infeliz tem uma experiência musical baseada em ritmos de FM e sons de botequim; mas principalmente eu chego em casa tarde, pois estava trabalhando, enquanto que ele fica todo dia em um bar jogando conversa fora. Em uma palavra: sinto-me superior àquele homem gordo mas, no momento seguinte, penso que tudo isso é simplesmente inveja, recalque, que na verdade tenho muito em comum com aquele homem que não conheço e já odeio, e então calo meus pensamento, subo pelo elevador, entro em casa, deito no sofá e morro.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Para começar no dia seguinte tudo de novo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Entre uns momentos de descanso e outro, tenho rabiscado textos sem fim em um caderno. Eles fazem parte de um fanzine, que compilará uma série de pequenas histórias, cujo tema é o encontro amoroso. Eu já publiquei aqui no blog algumas dessas histórias, mas acho que quando se trata de amor, a tela do notebook é demasiado pobre. Amor é algo que se faz na base do tato, do encontro entre duas (ou mais) epidermes, é algo que é inseparável do contato. Por isso a insistência de levar para o impresso essas pequenas histórias, que estão sendo rabuscadas, geralmente, aos finais de semana. Dar qualquer prazo de quando isso estará pronto seria uma mentira a mais entre tantas que já contei, então digo apenas que, algum dia, se os deuses assim quiserem, essa publicação ficará pronta.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Isso tudo para dizer que cada vez menos frequentarei o Dissolve Coagula. Pelo menos até o final do ano. Não sei se é pelo fato de eu ter feito da Internet o meu ganha-pão, mas no tempo livre que sobra por vezes tenho um ciclópico cansaço de fazer qualquer coisa relacionada com a rede. Nos meses mais recentes, eu até cheguei a gastar um tempo considerável com redes sociais, me metendo inclusive em uma série de discussões. Mas foi tamanha a energia empreendida nessas "interações" que até isso me cansou e, além disso, sou péssimo em argumentar e defender meu ponto de vista, ainda mais em um ambiente onde, claramente, ninguém quer discutir nada, mas tão somente fincar pé em uma posição de modo bastante irrefletido e dogmático, ou então fazer piada com tudo e todos - e esse clima "irreverente" me cansou a um ponto que bloqueei tantas pessoas que preferi abandonar o uso do meu perfil, por não fazer mais sentido. No final das contas, a lição aprendida é que discussão na Internet é igual a Para-Olimpíadas: mesmo que a vitória seja sua, no final você sempre será um retardado. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Escrever esse post enquanto os acordes do senhor Carlson ecoam pela sala foi uma exceção prazerosa, mas para esse sabor permaneça é necessário saber dosá-lo adequadamente. Quem sabe no final do ano escrevo de novo aqui. Agora, volto para o cotidiano estupidificante que me faz pensar o que estou fazendo de errado e se algum dia vou acordar com a sensação de que é tarde demais para mudar.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/tlq_5RVtNyk" width="420"></iframe>Leandro Ramoshttps://plus.google.com/114737267621127931955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34246343.post-43198468975705293902013-06-02T20:17:00.001+14:002013-06-03T17:31:20.696+14:00Resenha de "O cemitério de Praga", de Umberto Eco<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-CUjvh83OVgQ/UarhBa3Fi-I/AAAAAAAAAB0/4_Y7XVOEPdk/s1600/DSCN2183.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-CUjvh83OVgQ/UarhBa3Fi-I/AAAAAAAAAB0/4_Y7XVOEPdk/s1600/DSCN2183.JPG" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Comecei a ler Eco através de seus textos sobre semiótica e tradução (especialmente o "Quase a mesma coisa", livro saborosíssimo sobre a arte da traduzir, mas que certamente agrada não somente aos profissionais de tradução). Só depois é que fui ler "O nome da rosa" e "O pêndulo de Foucault" - esse último, aliás, é até agora o meu preferido, pela sua estrutura narrativa completamente sinuosa, os cruzamentos de dimensões temporais, os testemunhos escritos que constroem a ação narrativa, as teorias da conspiração que surgem mesclando política, esoterismo, sociedades secretas... E nesse romance mais recente, O cemitério de Praga, todos esses elementos estruturais comparecem mais uma vez, como marca indelével do estilo do autor, mas com sabores e cores novos, que me fizeram questionar em qual ramificação romanesca o livro se encaixaria: é um romance histórico? Ou um adepto do realismo fantástico? Sem conseguir muitas respostas, compartilho a seguir algumas das minhas impressões sobre a leitura.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">"O cemitério de Praga" é um livro de 478 páginas repartido em 27 capítulos que contempla o período de, aparentemente, pouco mais de 60 anos (de mais ou menos 1830 até 1898) da vida do protagonista Simone Simonini. Nesse longo percurso, o leitor encontra no primeiro capítulo a voz de um oculto Narrador que descreve o ambiente: uma residência pequena, nos redutos mais pobres de Paris, onde há um cômodo repleto de móveis e objetos de decoração antigos, e no outro, entre perucas e roupas de manequim, uma espécie de diário, sobre o qual ele diz o seguinte:</div><blockquote class="tr_bq"><i><br /></i><br /><div style="text-align: justify;"><i><i>“Tampouco espere o Leitor que o Narrador lhe revele que ele se surpreenderia ao reconhecer no personagem alguém já nomeado precedentemente, porque (dado que essa narrativa começa justamente agora) ninguém foi nomeado antes, e o próprio Narrador ainda ignora quem é o misterioso redator, propondo-se a sabê-lo (junto com o Leitor) enquanto ambos bisbilhotam intrusivos e acompanham os sinais que a pena daquele homem está traçando sobre aqueles papéis.”</i></i></div><i></i></blockquote><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Então desde o começo sabemos: a história que leremos está, na verdade, presente em uma espécie de diário, que o Narrador encontrou (não sabemos em que circunstâncias) e que compartilhará conosco, seu Leitor. Na verdade, serão dois diários distintos: o de Simone Simonini e do abade Dalla Piccola. Temos, então, três registros escritos que se alternam durante o romance: Narrador, Simonini, Piccola. Não sei se na versão italiana a diagramação resolveu isso como na edição brasileira, onde cada um desses registros aparece com uma fonte diferente – talvez como forma de guiar os olhos do leitor pelo labirinto de datas, lugares e personagens secundários que surgirão. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-tcb8_7kpA3c/UarhoxAmH5I/AAAAAAAAAB8/nvsX6UZEgBQ/s1600/ESTILOS+DE+ESCRITA.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-tcb8_7kpA3c/UarhoxAmH5I/AAAAAAAAAB8/nvsX6UZEgBQ/s1600/ESTILOS+DE+ESCRITA.jpg" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por ser um diário algo tardio, o romance se estrutura em duas dimensões temporais diferentes: uma é a que está presente nas datas do diário, iniciado em 24 de março de 1897 e que termina em 20 de dezembro de 1898 (praticamente um ano e oito meses); a outra é dimensão de tempo da história contada nos diários, que reúne acontecimentos de 1830 até a data final de 1898. Essas duas dimensões temporais encontram um ponto de suspensão nas intervenções do Narrador: atuando como um compilador dos fatos, um leitor em primeira mão dos diários, ele também comenta trechos de ambos, resumindo passagens e fazendo citações; compartilha, assim, com o leitor (que somos nós), as mesmas perguntas que temos ao longo da leitura: afinal, quem é Simonini? Quem é Dalla Piccola? Por que ambos estão sem memória? São, como suspeitam, a mesma pessoa, ou melhor, duas pessoas diferentes que compartilham o mesmo corpo? </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Além da dimensão temporal e da confusão em torno da identidade dos protagonistas, outro ponto a salientar são os personagens: todos, com exceção de Simone Simonini, são figuras que realmente existiram, não foram inventados pelo autor. Os jornais e revistas citados (e são dezenas deles) também o são. Até mesmo os acontecimentos que se desenrolam têm como pano de fundo fatos históricos: Simonini, após a morte do avô, junta-se ao exército de Garibaldi, nas suas campanhas na Itália, com o intuito pouco nobre de frustrar a insurreição; participa, como um agente secreto contra-revolucionário, da Comuna de Paris; envolve-se no episódio do caso Dreyfus, sendo peça fundamental no complô para incriminar o oficial judeu. Uma situação bem interessante e quase anedótica ocorre em um restaurante parisiense, onde Simonini encontra um tal doutor Froïde, que lhe fala sobre suas pesquisas sobre hipnose e o uso da cocaína como tônico fortificante... Ele desconfia das palavras desse desconhecido Froïde (sim, essa é grafia que aparece no diário de Simonini) principalmente porque ele é, certamente, um judeu – e o ódio contra os judeus, assim como uma intensa glutonia e misoginia, é o que mais caracteriza o inescrupuloso Simonini. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Aqui entramos um pouco mais no tema do livro em si, que é a gênese dos Protocolos dos Sábios de Sião, o célebre texto anti-semita divulgado pela Okhrana, a polícia secreta russa, em 1897, que fala sobre um plano de dominação mundial arquitetado pelos judeus. Esse livro, de origem bastante controversa, é um daqueles registros que extrapolam suas limitações textuais e promovem verdadeiros abalos sísmicos na sociedade. É bastante difícil imaginar um Hitler, por exemplo, em um mundo que não tivesse conhecido os Protocolos. Ainda hoje, grupos neonazistas acreditam piamente na autenticidade desse texto, mesmo com todas as controvérsias sobre sua origem – e é essa origem controversa que Eco explora no romance, com doses cavalares de ironia.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-5jJ-60bIQ8k/Uarh56ilwpI/AAAAAAAAACE/R5m4sKLIvd0/s1600/DSCN2176.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="300" src="http://4.bp.blogspot.com/-5jJ-60bIQ8k/Uarh56ilwpI/AAAAAAAAACE/R5m4sKLIvd0/s400/DSCN2176.JPG" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O livro é recheado de ilustrações da época em que se passam os acontecimentos, provenientes do acervo do Umberto Eco, colecionador voraz. Essa aqui é sensacional.</td></tr></tbody></table><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Resumindo tremendamente a história, Simonini ouvia sempre do avô histórias de que os judeus eram “o povo ateu por excelência”, que matava crianças em rituais sanguinários, que venerava o demônio, que em conjunto com os maçons (cujos líderes eram todos judeus) fazia seus planos de agitação política puramente com fins de acumular todo o ouro do mundo e assim dominar completamente a Humanidade. Anos mais tarde, mediante seu envolvimento com a espionagem e os serviços secretos da Itália e da França, começa a perceber o quão os judeus eram mal vistos por esses serviços; que em todos os países europeus havia casos de judeus envolvidos com atividades ilícitas; que, sendo ele agora um agente com certa credibilidade, poderia ganhar uma pequena fortuna se, valendo-se de sua habilidade para criar documentos falsos, fizesse chegar às mãos das pessoas certas algo que comprovasse que os judeus tinham realmente um plano secreto para dominar o mundo. Esse documento precisaria ser crível, antigo, original, e deveria agradar seja quem fosse que o comprasse: assim, mediante adulterações de fontes jesuíticas, admiração por Dumas e um espírito inventivo sem igual, Simonini começa a confeccionar o texto. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Acompanhamos a produção desse documento, que levou anos para ficar pronto e, redação após redação, foi recebendo as influências de diversos setores, todos transbordando anti-semitismo: os jesuítas, grupos maçons, os russos. E de acordo com os ódios particulares de cada um deles, Simonini vai construindo a delirante versão do manuscrito, camada após camada, pacientemente esperando o comprador certo. E é de Herman Goedsche, o novelista alemão (que realmente existiu) que aparece no romance como um dos principais inimigos de Simonini, que são proferidas as palavras mais certeiras sobre o anti-semitismo que anima a ambos, com uma dose de ironia genial:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;"><i>“- Convém retomar as palavras de Lutero, quando dizia que os judeus são maus, venenosos e diabólicos até o miolo; foram durante séculos nossa praga e pestilência, e continuavam sendo no tempo dele. Eram, nas palavras de Lutero, serpentes pérfidas, peçonhentas, ásperas e vingativas, assassinos e filhos de demônio, que mordem e lesam em segredo, não podendo fazê-lo abertamente. Diante deles, a única terapia possível seria uma schärfe Barmherzigkeit – Goedsche não conseguia traduzir, e entendi que deveria significar uma “áspera misericórdia”, mas que Lutero queria falar em ausência de misericórdia. Convinha incendiar as sinagogas – e aquilo que não ardesse deveria ser coberto por terra para que ninguém pudesse jamais ver uma pedra restante –, destruir as casas deles e fechá-los em um estábulo como os ciganos, tirar-lhes todos aqueles textos talmúdicos nos quais só eram ensinadas mentiras, maldições e blasfêmias, impedir-lhes o exercício da usura, confiscar tudo o que possuíam em ouro, moeda sonante e jóias, e colocar nas mãos dos rapazes judeus machado e enxada e nas mãos das moças, roca e fuso, porque, comentava Goedsche com risotas, Arbeit macht frei, “só o trabalho liberta”. A solução final, para Lutero, seria expulsá-los da Alemanha, como cães raivosos.”</i></blockquote><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-vvhaL2_pAHI/UariXzKUh6I/AAAAAAAAACM/iBv0aP6p1AQ/s1600/DSCN2178.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://2.bp.blogspot.com/-vvhaL2_pAHI/UariXzKUh6I/AAAAAAAAACM/iBv0aP6p1AQ/s400/DSCN2178.JPG" width="257" /></a>Certamente, a intenção de Eco não era fazer de seu romance uma trincheira anti-semita (engraçado até mesmo lembrar que, na época de seu lançamento, ouve alguns resmungos de grupos ultra-ortodoxos sobre o livro – que certamente não o leram) mas ele conseguiu mostrar como o sentimento antijudeu era razoavelmente comum em muitos círculos europeus, inclusive entre vários extratos populares; e em como nesse caldo cultural de intolerância bastou algumas palavras fantasiosas (as de Simonini) para fazer nascer um sentimento de ódio disseminado. Isso não se aplica apenas ao anti-semitismo. Na verdade, julgo que o principal argumento do livro é que a construção de “verdades”, em muitíssimos casos, não passa de um ato discursivo: diz-se, e algo já é. O Verbo pairando sobre as águas. A voz dos homens criando suas realidades. E hoje temos quantas vozes criando verdades? Amplificadas por ondas invisíveis, as verdades disseminam-se em televisores, celulares, telas de computador, salas de cinema. A neutralidade impossível dos conteúdos que circulam e que nos atingem em todas as direções é algo que já ninguém mais acredita há pelo menos duas décadas, e mesmo assim nem mesmo entre os setores mais esclarecidos isso foi levado à sério até suas últimas conseqüências, isto é, em assumirmos que até em uma porcaria de um iPad há um valor ideológico cristalizado (virtualização do conhecimento, da experiência de comunicação). Temos legiões de Simoninis, agentes secretos, produtores de verdades, atuando nas redações dos jornais, nas agências de publicidade, nos estúdios de cinema, sempre prontos para construir novas verdades customizadas ao gosto do freguês. Verdades que, uma vez proferidas (como fala do âncora na TV, como texto na tela, como imagens no filme), tornam-se essa complexa e imensa fraude que chamamos de realidade.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Seria, para fechar, O cemitério de Praga um romance histórico, por ter como pano de fundo acontecimentos e pessoas reais? É de Lukács a definição que o romance histórico é aquele cuja estratégia narrativa consegue “reconstituir com minúcia os componentes sociais, axiológicos, jurídicos e culturais que caracterizam” uma determinada época. Ora, o texto de Eco traz muito disso como pano de fundo onde as ações de Simonini se desenrolam; entretanto, nosso protagonista é um elemento puramente ficcional; e mais do que ficcional, a sugestão de que os Protocolos foram produzidos por um agente secreto italiano exilado em França chega a ser surreal, contrariando qualquer noção de realidade. Devido a isso, então, ainda podemos colocá-lo na rubrica de romance histórico? Tendo a achar que não: Eco vale-se de um pano de fundo histórico, é fato, mas sem a ambição de fazer de seu romance uma reconstituição de uma época ou, pelo menos, essa não é a sua ambição primeira. Tenta, antes e mais do que tudo, criar uma realidade outra, baseada no fantástico, na suposição de que um único homem – Simonini – impulsionou a criação de um dos textos mais controversos de todos os tempos. Suposição forçada para muitos, mas nem tudo o que é forçado é impossível.</div><div style="text-align: justify;"><br /><div style="text-align: center;"><b>Compre "O cemitério de Praga"</b></div><div style="text-align: center;"><b>na Saraiva em até 4x sem juros</b></div><div style="text-align: center;"><b><a href="http://el2.me/HbTT" target="_blank">Veja oferta</a></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://el2.me/HbTT" target="_blank" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="100" src="http://1.bp.blogspot.com/-SUStY4pbTUs/UawLV7EQoFI/AAAAAAAABJU/jMaYsuDFWx4/s200/livro.jpg" width="65" /></a></div></div><br />Leandro Ramoshttps://plus.google.com/114737267621127931955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34246343.post-23394915797361035172013-05-10T17:46:00.000+14:002013-06-07T09:48:55.648+14:00Pedaço de papel com anotações feitas em uma sala de embarque<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-dSfzumvColU/UYxtU_93niI/AAAAAAAAABk/VH1bXB_rPkA/s1600/check-in+no+aeroporto.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="225" src="http://3.bp.blogspot.com/-dSfzumvColU/UYxtU_93niI/AAAAAAAAABk/VH1bXB_rPkA/s400/check-in+no+aeroporto.jpg" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">Inacreditável a quantidade de LIXO que é possível ouvir apenas sentado por nada mais que meia hora em uma sala de embarque de aeroporto. Palavras que sintetizam os diálogos que pude ouvir: consumo, reclamações, queixinhas, vazio, sentimentalismo, patético, exibicionismo, putas, inveja, esnobismo, teatro, o verbo comprar conjugado em todos os tempos possíveis, Freeshop, medo, profissionalismo, moda, ausência de gosto, ridículo e olhares estupefatos ao me ver escrevendo nesse bloco de papel. Todos ao redor com seus notebooks e tablets, e eu aqui me sujando com tinta de caneta e buscando sintetizar o horror desse lugar que, sinceramente, não deveria existir. Sonho com tempos dos bandeirantes, das rotas de mulas, de longos trajetos percorridos em semanas. Encurtamos as distâncias, relativizamos o tempo. Outrora havia toda uma outra maneira do tempo, do espaço e das pessoas interagirem. Talvez tudo fosse uma enorme merda. Mas me parece que nesse "avanço" o que foi perdido supera, em valor, todos os (supostos) ganhos. Mas não é o progresso, em suma, um <i>abandonar</i> de possibilidades? No jogo infinito dos erros e acertos humanos, o que nos marca como signo fatal é o desperdício, a destruição dos caminhos que poderíamos percorrer. Deixamos de lado as mulas, agora que nos contentemos com os aviões.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>PROLEGÔMENOS DA FUTURA ARTE DE ORGANIZAR AEROPORTOS SILENCIOSOS</b></div><br /><ul><li style="text-align: justify;">um aeroporto silencioso é aquele onde se fala o mínimo possível; </li><li style="text-align: justify;">pessoas que desejam falar (seja com outra pessoa ou através de um aparelho celular) terão filas, salas de embarque e aviões específicos;</li><li style="text-align: justify;">sensores de som espalhados pelo aeroporto silencioso identificaram sinais de conversa abusiva. Os que desrespeitarem a regra serão automaticamente amordaçados e transferidos para áreas isoladas do aeroporto, até que fiquem calmos e deixem de falar;</li><li style="text-align: justify;">área reservada para escritores, filósofos, poetas e quaisquer outras atividades intelectuais. Lá imperará o silêncio e meios analógicos de expressão. Portadores de notebooks, tablets, Kindles e outros não poderão entrar nessa área. Proíbe-se comer e beber (as mastigações e goles produzem um desagradável ruído), mas fuma-se à vontade;</li><li style="text-align: justify;">gordos, crianças e pessoas que andam devagar terão aviões e salas de embarque específicos;</li><li style="text-align: justify;">nas filas de despacho de bagagem, haverá um triagem realizada por especialistas em leitura facial: os espertos e organizados serão direcionados a uma fila, enquanto que os não-espertos e não-organizados para outra. Iguais com iguais, democraticamente no mesmo espaço, podendo até mesmo acenar uns para os outros - mas em filas diferentes;</li><li style="text-align: justify;">graças à medida anterior, é natural que a fila dos espertos e organizados ande muito mais depressa que a dos não-espertos e não-organizados, que ficam sempre enrolados procurando os documentos no momento de despachar as bagagens</li><li style="text-align: justify;">os Freeshops não terão autorização para vender suas mentiras em aeroportos silenciosos;</li><li style="text-align: justify;">não haverá avisos sonoros: os passageiros deverão acompanhar em telões os seus portões de embarque e mudanças em horários de pouso e decolagem;</li><li style="text-align: justify;">é vedado também o uso de óculos de sol dentro do aeroporto silencioso, péssimo hábito muito comum em aeroportos tradicionais.</li></ul> Leandro Ramoshttps://plus.google.com/114737267621127931955noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-34246343.post-46334575880165922992013-05-02T06:16:00.000+14:002013-05-02T06:17:01.393+14:00Rito sacrificial, induzido por D.R. Hooker<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-M6vBUvU-u7s/UYE-Mm4XIZI/AAAAAAAAABU/NID8x24sc6g/s1600/1-sacrifice_of_isaac-caravaggio.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="350" src="http://4.bp.blogspot.com/-M6vBUvU-u7s/UYE-Mm4XIZI/AAAAAAAAABU/NID8x24sc6g/s640/1-sacrifice_of_isaac-caravaggio.jpg" width="490" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i><br /></i><i><br /></i><i><b>Nota: para corretamente ler o que se segue, acione o play na música abaixo. Em seguida, comece a leitura.</b></i><br /><center><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="300" src="http://www.youtube.com/embed/iyqieYQgSkU" width="480"></iframe></center><br />Voltava para casa no metrô lotado da Grande Cidade, sempre abarrotado de gente de todos os tipos, tamanhos e graus de educação. E cotidianamente em frente a tantos rostos que nada me dizem, a tantos destinos com os quais não me importo e que, apesar disso, tenho que compartilhar (forçosamente, mas ainda compartilhar) o mesmo ridículo espaço de um vagão de metrô, e isso há tantos anos que é como se todos esses destinos já fizessem parte de minha família, minha enorme família São Paulo lar de todos os imbecis orgulhosos de seus preconceitos e de seus divertimentos baseados em preços altos e longas filas. E então entro no vagão lotado, me esgueiro entre todos e consigo me encostar em uma porta; ligo o MP3 (maravilha tecnológica, escudo a nos proteger do caos das multidões) os primeiros acordes de uma música desconhecida, que nunca tinha antes ouvido; presto atenção na letra, e aos poucos sinto hipertrofiar o meu desacordo em relação ao mundo; foi como uma epifania musicalmente induzida, escancarando perante os meus incrédulos olhos todos os meus pecados, todas as minhas faltas, todas as minhas omissões; e não apenas humilhado graças ao peso fatal de todas essas revelações, que anjos arremessavam sobre mim (pois nesse momento eu já via uma imensa falange de anjos rodopiando sobre mim, sobre todos ali) percebi, refletido no rosto de todos os que forçados compartilhavam aquele vagão comigo,os meus próprios pecados; e misturado ao reflexo de meus pecados misturavam-se os deles também, e estavam todos nós ali imersos em erros, em abominações; e a cada novo acorde daquela maravilhosa música, mais forte em mim se tornava a revelação de que todos somos desgraçados pecadores, que o sacrifício na Cruz jamais nos absolveu, que na verdade a morte de Cristo abriu as portas para uma nova era de crimes. Então eu ouvi, além da música, uma angélica voz sussurrar-me ao ouvido (e era o mais doce som que já ouvi em minha vida) que chegada era a hora, o momento em que toda a minha existência enfim se justificaria, o clímax redentor e definitivo. E como em um filme (mas não era um filme, oh Deus, não era) tudo ficou lento, poeticamente fluindo como em uma romântica seqüência cinematográfica, e naquela metrô cheio fedendo a pecado, lodaçal de todas as depravações, altissonante tocaram dez mil trombetas em honra ao Senhor dos Exércitos, (mas nenhum pecador pode ouvi-las, continuaram em seu impassível estado-zumbi de trabalhadores cansados e insatisfeitos) e compreendi que esse era o aviso final; vi então na minha frente o Arcanjo Miguel com seu olhar incandescente, e aquele olhar não poderia ser mais expressivo, era como uma ordem que dele emanava, e com lágrimas nos meus disse "amém!" e de suas misericordiosas mãos recebi um toque -brevíssimo, casto, como convém aos anjos- e nada mais precisou ser dito, de repente compreendi tudo: retirei da mochila o facão que tinha comprado anos atrás (sem entender o porquê, agora mais cristalino que a glória divina) e iniciei os ritos sacrificiais; o sangue das ovelhas precisava cair, o pecado extirpado para sempre, o advento de um mundo novo e santo. Como foi lindo contemplar os anjos cantando, mãos postas em glória a Ele, e os golpes de facão no pescoço das ovelhas (que antes eram simples pecadores) jorrando o sangue como em chafariz; e já eram incontáveis os gritos e gemidos, os confusos olhares de pavor e perplexidade (tolos, não sabiam que o holocausto que presenciavam era na verdade um ato de renascimento, virginal oferenda de fluidos vitais santificados, limpando o mundo do Pecado). Ouvia o choro das mulheres implorando para que eu parasse, e como aquele choro me enchia de júbilo, um júbilo muito próximo da fúria (pois naqueles choramingos havia apenas o desejo de permanecerem com suas existências de pura luxúria e depravação, essas amaldiçoadas filhas de Eva, tão corruptíveis como sua mãe). Ouvia também o grito dos homens, ou melhor, de rebotalhos de homens, fúteis espécimes masculinos que nada mais tinham da altivez moral dos heróis do passado. Arruinados por uma vida onde o pecado era a regra, não compreendiam (ou compreendiam e se faziam de tolos? Difícil discernir isso agora, os estratagemas do Inimigo são tão ardilosos...) que eu estava ali como o mensageiro da salvação eterna, a eles entregue como um presente de Deus, tendo seus anjos misericordiosos como testemunha. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O rito sacrificial foi breve, durando tão somente o caminho entre duas estações. Chegando no Trianon, as ovelhas sobreviventes (como queria tê-las matado todas) correram confusamente para fora do vagão; permaneci ajoelhado entre as ovelhas sacrificadas, mãos estendidas ao alto contemplando as falanges angélicas rodopiando em espiral entre os esplendores dos Nove Céus. Não demorou muito para que os policiais, esses cães do Reino do Anticristo, me imobilizassem com toda a sua costumeira truculência. Eu chorava, e minhas lágrimas eram todas feitas de uma pura e incrível felicidade. O Arcanjo Miguel observava enquanto eu era arrastado para fora do vagão. No seu olhar era notável a serenidade, a beleza, a compaixão. </div>Leandro Ramoshttps://plus.google.com/114737267621127931955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34246343.post-18622130993663833132013-03-29T14:36:00.002+14:002013-03-29T14:36:31.064+14:00Quando a Democracia e a Tradição entram em choque<div style="text-align: justify;"><i>"Mas a Periferia do mundo, nós, ainda enfrenta o processo universalizante - a destruição acelerada de qualquer entidade social holística, a fragmentação e atomização da sociedade inclusive através da tecnologia (internet, telefones móveis, redes sociais), onde o principal ator é estritamente o indivíduo, divorciado de qualquer contexto social natural e coletivo. Um importante testemunho do uso dúplice da promoção da democracia foi explicitamente descrito em um artigo pelo especialista político e militar americano Stephen R. Mann, quem afirmou que a democracia pode trabalhar como um vírus autogerador, fortalecendo as sociedades democráticas existentes e historicamente maduras, mas destruindo e imergindo no caos sociedades tradicionais não preparadas adequadamente para isso". (trecho de "A Quarta Teoria Política", de Alexander Dugin).</i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O referido texto de Stephen R. Mann é "Chaos theory and strategic thougth, que <a href="http://www.dtic.mil/cgi-bin/GetTRDoc?AD=ADA528321" target="_blank">pode ser lido aqui</a>. E a citação de Dugin ajuda a explicar o vídeo abaixo, certamente o mais violento que já pude ver na vida - e vale dizer que o vídeo foi filmado na Praça Tahir, no Egito, local onde ocorreram protestos em prol da "democracia", todos amplamente ovacionados pela mídia ocidental. Só faltou algum imbecil global chamar os protestos de "festa da democracia", como insistem em chamas as eleições por aqui. Queria ver se chamaria de festa se fosse a mãe deles ali sendo o bolo, repartido com selvageria.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Sem mais, o vídeo. Vale também ler o texto que a mulher escreveu <a href="http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/03/depoimento-estupro-mulher-egito.html" target="_blank">aqui.</a><br /><br /><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="300" src="http://www.youtube.com/embed/KZyo74ESr2s" width="490"></iframe><br /><br />Leandro Ramoshttps://plus.google.com/114737267621127931955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34246343.post-29929926608701297472013-03-18T14:48:00.001+14:002013-06-04T00:59:19.969+14:00Nichos de mercado, minorias e as trombetas de Kali-yuga<br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-XEfi6eABB0g/UUZi9P5RbxI/AAAAAAAAAA8/4ZOcbii1JRI/s1600/tony+ramos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="332" src="http://4.bp.blogspot.com/-XEfi6eABB0g/UUZi9P5RbxI/AAAAAAAAAA8/4ZOcbii1JRI/s400/tony+ramos.jpg" width="490" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A notícia de que alguns homens consideraram preconceituoso o comercial da Gillete <a href="http://g1.globo.com/economia/midia-e-marketing/noticia/2013/02/gillette-vai-parar-no-conar-por-suposto-preconceito-contra-peludos.html" target="_blank">(veja a matéria aqui) </a>soou aos meus ouvidos como mais uma das trombetas a anunciar a micareta de Kali-yuga.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Se antes o coro de reclamações contra os padrões estéticos era composto majoritariamente por mulheres, agora é a vez dos homens se juntarem a essa “luta” e, também eles, colocarem a cruz da opressão sobre seus másculos ombros – que já não são tão másculos assim, ou melhor, o próprio conceito de masculinidade, homem e virilidade estão sendo colocados em cheque, relativizados e atuando como mais uma substância a compor o cenário pós-moderno da sexualidade, onde o <i>continuum </i>amorfo é a regra.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">É importante partir, antes de tudo, do óbvio: eu não nego que a mídia adote um padrão de beleza. Aliás, não apenas um, mas vários: aquele mundo onde a televisão, os jornais, o cinema, etc propagavam apenas UM padrão, apenas UMA estética aceitável, este mundo está morto e claramente se decompondo perante nossos olhos, embora seu estado de putrefação ainda não nos tenha levado a desistir de analisar a realidade com as carcomidas óticas herdadas do passado. Os grandes grupos de mídia e as agências de publicidade aprenderam que a diversidade vende: a pluralidade de cores de pele, tipos de cabelo, orientação sexual e crenças são fatores que, se bem administrados, podem gerar muitos lucros. Os usos estereotipados que miseravelmente algumas novelas e programas humorísticos ainda fazem de negros e homossexuais, acredito, diminuirão cada mais, até ao ponto de se tornarem inexistentes. Como fatores dessa mudança, de um lado está a pressão realizada por grupos de direitos humanos, e do outro os interesses comerciais que encaram essas “minorias” como nichos de mercado - e esse último fator é, decisivamente, o que tem mais força e influência. O caso mais recente é a negociação aberta entre Rede Globo e o pastor Silas Malafaia para uma mais do que provável “novela evangélica”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A tática que está por trás de tudo isso: antes os tentáculos da opressão determinavam dois grandes adversários bem definidos – Capital versus Trabalho. Porém, pelo menos desde o Maio de 68, a ala dos trabalhadores se esfacelou em uma miríade de fronts. Já enfraquecida pelo corporativismo sindical, responsável pela separação dos trabalhadores em sindicatos de categorias tão numerosos quanto ineficientes, o Trabalho foi ainda mais segmentado pelas ações de “guerra cultural”, que torna o trabalhador também um “estudante”, “mulher”, “negro”, “homossexual” e diversas outras micro-identidades, incomunicáveis entre si. E mais do que incomunicáveis, tais identidades terminam por obscurecer a identificação dos oprimidos como pertencentes a um grupo infinitamente mais vasto, em antítese fundamental com o onipresente Capital. A “causa histórica” do Trabalho contra o Capital cede à tentação da luta cultural, quando na verdade deveria manter-se dentro dela o tempo todo, como única forma de gerar uma oposição realmente significativa. Mas não é isso o que acontece: especializam-se de tal forma as frentes de luta e radicalizam-se tanto as posições que terminam por, finalmente, tornarem-se herméticas; perde-se o foco em relação a opressão de fundo econômico, invisível mola propulsora de todas as demais; todos enfrentam seus próprios e customizados moinhos de vento, tomando-os por gigantes; e sem grandes obstáculos para enfrentar (greves, por exemplo), os negócios prosperam. Patrões de todo o mundo, regozijai-vos</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Achei muito curiosa a solidariedade entre homens e mulheres no choramingo contra a imposição de um “padrão” de beleza. Uma solidariedade não declarada, decerto, mas que mostra homens reivindicando uma bandeira que era antes um patrimônio (quase exclusivamente) feminino. Antes de lançar alvíssaras a isso, como os mais exaltados poderão fazer (sempre é bom desconfiar dos exaltados), quero observar como ambos os sexos distanciaram-se, nas últimas décadas, de seus respectivos, vamos chamar assim, “arquétipos”, galgando passos rumo a um novo paradigma de comportamento ainda impossível de vislumbrar com clareza, mas dos quais podemos observar contornos ainda difusos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Primeiro as mulheres: sai de cena o modelo de “mãe” e “dona de casa”, ocupa seu lugar a mulher “independente”, cuja máxima realização é a “executiva bem sucedida”. Não apenas uma profissional altamente qualificada, mas também sexualmente ativa, buscando conscientemente parceiros/as sem a pretensão de laços firmes e duradouros. No linguajar comum, a mulher "ganha espaço". A versão sentimental e apaixonada de uma mulher em busca de um marido e do sonho da maternidade é trocada por outra onde o “sucesso” compensa a quebra do dogma reprodutivo ("você tem que ser mãe"), visto como acessório para a realização plena como mulher. É importante frisar que esse arquétipo, socialmente determinado, encontra portanto gradações, aliás muito interessantes: quanto mais burguês é o núcleo social de uma mulher, quanto mais possibilidades financeiras ela possui, tanto mais fácil é abraçar esse novo arquétipo. Em outras palavras: é o grau de riqueza, de condições materiais, que permite a essas mulheres o acesso a uma liberalidade antes exclusiva para os machos. Além disso, justamente essa riqueza proporciona a chance de subtrair-se de atividade tipicamente “femininas”: a “mãezona executiva” contrata babás e empregadas para efetuar as tarefas domésticas. E quanto mais empregadas ela tem para efetuar tais tarefas “menores”, tanto mais bem sucedida ela é. Resultado: cria-se uma “casta” de sub-empregadas, que enxergam nas patroas bem-sucedidas um exemplo, não raro admirado com inveja – e não se percebe, de nenhum dos lados, que a “executiva bem sucedida” e a “empregada do lar”, no final das contas, são ambas desgraçadamente esmagadas nas engrenagens do MESMO sistema, e forçadas a enxergarem-se entre si com desconfiança, como autênticas inimigas [<a href="http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2012/05/na-caca-babas-maes-de-sp-usam-psicologa-head-hunter-e-facebook.html" target="_blank">essa matéria aqui sobre "caçadoras de babás"</a> é bem ilustrativa, além de ser um convite ao vômito]. E esse desprezo pelas tarefas domésticas é ainda mais acentuado – que ironia! – nesse país miserável que é o Brasil, onde qualquer palerma classe média contrata uma empregada para ir na sua casa de quinze em quinze dias, por achar que limpar banheiro, esfregar o chão é algo “menor”, “cansativo”, e que convém pagar para outra pessoa – no caso, sempre uma mulher pobre – para fazer o serviço “sujo”. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Claro: há muitas outras que ainda nutrem o sonho da maternidade, de encontrar um “bom marido”, de se apaixonar e criar laços duradouros. Constituir um lar, enfim. Isso certamente ocorre e em uma quantidade absurda, mas o importante aqui é constatar que esse arquétipo da “mãe” perde sua hegemonia e convive, sem hostilidade, com o da “executiva bem sucedida”. Ocorre, inclusive, simbioses bem curiosas: a diretora de uma companhia torna-se ainda “mais mulher” quando consegue equilibrar o sucesso profissional com a maternidade e um casamento feliz. Amálgama de ambos os modelos, a “mãezona executiva” é, mais que uma síntese, o sintoma de uma época de transição que não ainda não desprendeu-se totalmente das formas do passado, que ainda caminha incerta em direção ao seu futuro. Mas os fatos contemporâneos indicam que será a executiva, mais do que a mãe, que por fim “vencerá” a “disputa”: relações pessoais cada vez mais virtualizadas e sujeitas a um compromisso “líquido” (Zygmunt Bauman); o imediatismo disso decorrente, não havendo mais espaço e sequer sentido ter filhos; o dinheiro mediando cada vez mais amplamente as interações entre as pessoas (nesse sentido, o mediano <a href="http://www.blogger.com/Clarissa!%20%20Em%20primeiro%20lugar,%20devo%20dizer%20que%20gostei%20bastante%20do%20seu%20coment%C3%A1rio,%20que%20ajudou%20a%20problematizar%20alguns%20aspectos%20que%20meu%20texto%20n%C3%A3o%20deu%20conta%20-%20e%20alguns%20deles%20s%C3%A3o%20bem%20importantes.%20Vou%20comentar%20cotejando%20alguns%20trechos%20de%20seu%20coment%C3%A1rio:%20%20%22Acho%20que%20temos%20que%20discutir,%20que%20no%20momento%20em%20que%20ela%20vai%20pro%20mercado%20de%20trabalho,%20h%C3%A1%20uma%20sensa%C3%A7%C3%A3o%20de%20que%20a%20estrutura%20patriarcal%20%C3%A9%20quebrada,%20mas%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20porque,%20tirando%20alguns%20exemplos%20espec%C3%ADficos%20dessa%20super%20mulher%20executiva,%20o%20que%20temos%20hoje%20s%C3%A3o%20mulheres%20se%20fazendo%20em%20mil%20para%20dar%20conta%20da%20dupla%20jornada%20e%20ainda%20da%20ditadura%20do%20corpo.%20Ou%20seja,%20ela%20foi%20pro%20mercado%20de%20trabalho%20competir%20com%20o%20homem,%20mas%20continua%20sendo%20respons%C3%A1vel%20pela%20casa%22:%20concordo.%20A%20pr%C3%B3pria%20linguagem%20mostra%20isso,%20quando%20vejo%20homens%20comentando%20que%20%22ajudam%20nas%20tarefas%20dom%C3%A9sticas%22%20-%20por%20ajudar,%20entende-se%20que%20a%20tarefa%20N%C3%83O%20%C3%A9%20dele,%20e%20o%20m%C3%A1ximo%20a%20ser%20feito%20%C3%A9%20dar%20uma%20m%C3%A3ozinha.%20Essa%20dupla%20jornada%20de%20trabalho%20torna-se%20ainda%20mais%20brutal%20quanto%20mais%20pobre%20%C3%A9%20a%20mulher,%20ali%C3%A1s.%20%20%22Acho%20que%20essa%20%22liberdade%20sexual%20da%20mulher%22%20%C3%A9%20muito%20mais%20uma%20mercadoria%20(das%20academias,%20das%20lojas%20de%20lingerie,%20das%20revistas%20Cl%C3%A1udia,%20da%20ind%C3%BAstria%20de%20cosm%C3%A9ticos,%20da%20ind%C3%BAstria%20do%20aspartame,%20etc)%20do%20que%20uma%20nova%20consci%C3%AAncia%20sobre%20autonomia%20do%20corpo%20e%20sexualidade%22:%20exato,%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20uma%20nova%20consci%C3%AAncia,%20mas%20est%C3%A1%20se%20tornando%20uma.%20A%20influ%C3%AAncia%20do%20mercado%20sobre%20os%20COMPORTAMENTOS%20%C3%A9%20clara,%20e%20no%20est%C3%A1gio%20atual%20do%20capitalismo%20n%C3%A3o%20podemos%20desconsiderar%20a%20influ%C3%AAncia%20que%20ele%20exerce%20tamb%C3%A9m%20na%20PSIQUE%20das%20massas%20(ali%C3%A1s,%20%C3%A9%20preciso%20esclarecer:%20hoje,%20vejo%20o%20mercado%20n%C3%A3o%20apenas%20como%20uma%20%22entidade%22%20que%20abarca%20o%20aspecto%20econ%C3%B4mico%20da%20vida,%20mas%20como%20uma%20manifesta%C3%A7%C3%A3o%20concreta%20de%20tend%C3%AAncias%20meta-hist%C3%B3ricas,%20digamos,%20%22ae%C3%B4nicas%22,%20cujas%20influ%C3%AAncias%20procuram%20materializar%20todos%20os%20aspectos%20da%20vida%20e%20destruir%20qualquer%20possibilidade%20de%20transcend%C3%AAncia,%20tornando%20a%20exist%C3%AAncia%20algo%20unidimensional.%20Por%20isso,%20essa%20%22liberdade%20sexual%22%20%C3%A9%20uma%20mercadoria%20sim,%20mas%20TAMB%C3%89M%20mais%20um%20componente%20nessa%20%22guerra%20espiritual%22%20que%20%C3%A9%20ainda%20muito%20mais%20vasta%20e%20dif%C3%ADcil%20de%20compreender,%20mas%20isso%20%C3%A9%20tema%20para%20depois...).%20A%20sensibilidade%20mais%20%22libertina%22%20(lembrando%20que%20%C3%A9%20sempre%20uma%20%22libertinagem%22%20pautada%20pelo%20mercado)%20espraia-se%20pelo%20tecido%20social%20como%20uma%20praga,%20e%20a%C3%AD%20temos%20o%20ato%20sexual,%20que%20%C3%A9%20das%20experi%C3%AAncias%20mais%20%C3%ADntimas%20que%20uma%20pessoa%20pode%20ter,%20sendo%20colocado%20como%20simples%20%22curti%C3%A7%C3%A3o%22%20-%20e%20PRINCIPALMENTE%20curti%C3%A7%C3%A3o,%20n%C3%A3o%20mais%20algo%20que%20tem%20um%20sentido%20de%20%C3%AAxtase,%20conex%C3%A3o,%20etc.%20No%20v%C3%A1cuo%20disso,%20prospera%20a%20ind%C3%BAstria%20porn%C3%B4%20de%20massa,%20os%20Viagras%20e%20a%20infelicidade%20conjugal%20que%20busca%20sua%20v%C3%A1lvula%20de%20escape%20nos%20puteiros%20da%20vida.%20%20Ah:%20eu%20cito%20no%20texto%20o%20%22Pagando%20por%20sexo%22,%20e%20s%C3%B3%20agora%20vi%20que%20n%C3%A3o%20linkei%20com%20uma%20mat%C3%A9ria.%20Acho%20que%20voc%C3%AA%20vai%20se%20interessar:%20http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/eliane-brum/noticia/2012/07/chester-prefere-pagar-pelo-sexo.html%20%20:***" target="_blank">“Pagando por sexo” </a>chega a ser profético) são alguns dos elementos favoráveis à cristalização de um novo arquétipo feminino que nada mais é que a plena realização do <i>self made man</i> em uma versão feminina, espécie de <i>femme fatale</i> não apenas para os homens, mas também para os mundos dos negócios.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-bJmZdojGigA/UUZjzfVvG8I/AAAAAAAAABE/EWxvyjC93E4/s1600/Ken+sensual.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="197" src="http://4.bp.blogspot.com/-bJmZdojGigA/UUZjzfVvG8I/AAAAAAAAABE/EWxvyjC93E4/s200/Ken+sensual.jpg" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">sim, é um boneco Ken que faz a barba ¬¬</td></tr></tbody></table><div style="text-align: justify;">E os homens? Bem, estes nada ganharam – pelo contrário, inconscientemente desesperam-se com a perda de seu maior prestígio arquetípico: a manutenção de um lar. Não são mais imprescindíveis como “chefes de família”. Há mulheres que ganham o mesmo ou até mais que eles. De todas minhas experiências profissionais significativas – três ao total – em TODAS eu tive como chefes não homens, mas mulheres. A visão de um respeitável homem chegando em casa após o trabalho, com a íntima convicção de ter labutado pelo sustento dos filhos, essa visão não é mais possível: em nossas cidades cada vez mais caras, o salário de apenas um membro não garante o sustento da família. Em outras palavras: se antes o capitalismo, em sua fase mais áurea, proporcionava à classe média o nobre sonho do pai-de-família-provedor--e-esposa-rainha-do-lar, agora esse mesmo capitalismo necessita que ambos, pai e mãe, vendam suas energias para as engrenagens do sistema girar. Olhando por esse prisma, a "conquista" feminina é relativizada e mostra-se como uma caminhada da prisão doméstica em direção ao inferno das relações trabalhistas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mais uma vez insisto: o que importa discutir aqui é o “modelo arquetípico”, e não as particularidades sociais de sua aplicação. Sabemos que, entre os pobres de qualquer lugar, sempre foi regra todos os membros da família trabalharem como única forma de garantir o sustento do lar. Isso, ao invés de contradizer, serve como comprovação do que eu disse acima, isto é, que as condições do capitalismo atual estão ainda mais brutais do que aquelas do nascente mundo industrial: apenas chegamos em um estágio onde a exploração é tão ostensiva que termina por ocupar TODOS os aspectos da vida, sendo impossível fazer um contraste entre situações livres e opressivas (Lembro de um caso citado por um amigo meu, professor de Língua Portuguesa em um renomado – e caro – colégio paulistano: um aluno, após ler um texto, pergunta a ele: “professor, essa palavra que aparece toda hora no texto, ´opressão´, o que é? Eu não conheço essa palavra...´ – e pela reação silenciosa da classe dava a entender que MUITOS ali também não sabiam... Se você sequer sabe o significado da palavra “opressão”, conseguirá identificar uma <i>situação</i> opressiva?).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Outra perda arquetípica que os homens sofreram: a hegemonia nos jogos da conquista amorosa. Nem falo a respeito do cortejo galante, esse sonho de poetas, mas na conquista carnal pura e simples nos bares e boates. Antes, era ao homem que cabia a ação de "chegar junto". Hoje, nem apenas isso não acontece como são elas que, muitíssimas vezes, tomam a iniciativa perante mancebos e mesmo homens maduros completamente apalermados. Tal como qualquer homem, elas também buscam uma noite sem compromisso, uma simples "curtição” descartável, um fugaz prazer imediato que se resolve com o encontro entre líquidos seminais. No final das contas, foi bom para todos que as mulheres tenham ganhado maior liberdade nos jogos amorosos: mais desinibidas, mais vorazes, podendo experimentar posições e sensações que antes estavam marcadas pelo estigma do pecado. Entretanto, falo de outra coisa: a triste constatação de que essa doce liberalidade também ganhou aspectos ridículos. Vemos que todos aqueles comportamentos antes censurados nos homens, e antes exclusivos deles (ser “comedor”, beberrão, dado a brigas, etc), são então compartilhados com a esfera feminina, em uma democrática distribuição de tudo o que é desprezível. Igualados nos vícios e nas burradas, homens e mulheres “baladeiros” são o fruto inesperado do Maio de 68, fruto com o qual ninguém sabe ao certo como lidar.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Há somente “perdas” para os homens? Não necessariamente. Agora, é possível que eles sejam mais vaidosos, que se preocupem mais com a aparência, que se dediquem a comprar roupas e a se vestir com mais cuidado. Não estou falando de cortar o cabelo, fazer a barba e não usar roupas rasgadas: que fique claro que não foram os metrossexuais que inventaram a vaidade masculina. Ela sempre existiu, mas antes circunscrita a determinados procedimentos mais restritos e “austeros”. Falo da vaidade que motiva homens a buscarem cirurgias plásticas para afinar o nariz, clínicas para depilar a perna, salões de beleza para hidratar o cabelo – ou seja, práticas que antes eram exclusivas das mulheres. O Doctor Ray é o paradigma desse tipo de homem que nutre uma verdadeira obsessão pela aparência. Adotam práticas “femininas”, como fazer as unhas com uma manicure, sem se sentirem “menos” homens por isso.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Então é esse o cenário pós-moderno: mulheres agregando características “masculinas” ao seu comportamento (funcionárias altamente qualificadas, sexualmente livres, independentes), enquanto homens tornam-se mais “femininos” (cuidados com a aparência, divisão de tarefas domésticas). O resultado disso parece ter como resultado o prenúncio de novo tipo de ser humano, amorfo, capaz de transitar por padrões e comportamentos que, no passado, estavam enraizados e constituíam uma identidade mais ou menos sólida. Em outras palavras: coloca-se no torvelinho todas as opções comportamentais, faça com que todas se misturem promiscuamente sem restrições; acrescente a essa mistura desaprovação de qualquer limite que se queira impor a essa tendência aglutinadora; permita que seja dado livre fluxo a uma enxurrada de mutações, simbioses e reformulações sobre qualquer tipo de comportamento antes sexualmente determinado – desde que, é claro, todas essas combinações possam ser enquadradas em um canto na prateleira das opções de identidade e, consequentemente, comercializada como tal. O que importa, sempre, é categorizar tais identidades como potenciais nichos de mercado. O Sacro Consumo santifica tudo. Já é assim hoje: por exemplo, na Frei Caneca, rua paulistana que se tornou o point da cultura GLS da cidade, a especulação imobiliária construiu diversos condomínios residenciais de alto padrão, com foco exclusivo para o “segmento GLS masculino” – considerado um “público” formado por profissionais altamente qualificados e, portanto, bem remunerados. Importante ressaltar que se trata de uma fatia do GLS: até onde é meu conhecimento, nunca pensaram em fazer condomínios com foco em abrigar travestis, que dentro do espectro GLS estão entre os mais marginalizados e onde o envolvimento com a prostituição é muito mais acentuado – em uma palavra, são pobres, não podem pagar o altíssimo padrão de vida da região. E não por acaso, são os que mais sofrem preconceito e violência nas ruas das cidades. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O que surge, então, no horizonte dos arquétipos? É impossível ver com clareza: tudo o que temos diante dos olhos é um amontoado de contornos difusos que, no limite, apontam para uma quimera que reúne em si tudo o que é de Si e do Outro, anulando qualquer diferença. É o sonho igualitário hipertrofiado de tal forma que nada mais resta a não ser indivíduos completamente padronizados, indistinguíveis, agindo mediante os mesmos impulsos e motivações. Não creio que isso se concretize algum dia, entretanto: seria esperar da História algo tão extremo que não tem possibilidade de existir no mundo dos homens. O desafio é saber distinguir nos discursos oficiais, na cultura televisiva, etc aquilo que é meramente propaganda do ideal igualitário proposto pelo Deus Mercado (que na verdade é a supressão de toda a diferença) do que é corajoso combate contra a violência voltada a negros, mulheres, gays, etc. Retomando o comercial da Gilete, mola propulsora desse texto, não se tratava ali de nenhuma “violência” contra homens peludos, mas tão somente uma estratégia publicitária que precisava de planejamento, para não deixar os “Tony Ramos style” com raivinha. Certamente na próxima eles acertam, e aí ninguém vai reclamar: todos se sentirão igualmente representados nos rituais de consumo – esses sim, jamais devem ser questionados. É aí que está o nosso fracasso: aceitar o dogma do mercado, assumir que todos são consumidores e portanto merecem seus “direitos” quando, na verdade, deveríamos questionar as megaestruturas do consumo e do trabalho – que não permanecem somente intactas mas prosperam sobre todos, com crises ou sem crises, sejam “minorias” ou não.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Leandro Ramoshttps://plus.google.com/114737267621127931955noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-34246343.post-77348579502692649242013-01-30T17:05:00.000+14:002013-01-30T17:06:07.813+14:00Tom & Jerry e a globalização<div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-NNOZrA4cxBE/UQiMxoBiOeI/AAAAAAAABIA/9adTxyczxs4/s1600/new-world-order.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="250" src="http://3.bp.blogspot.com/-NNOZrA4cxBE/UQiMxoBiOeI/AAAAAAAABIA/9adTxyczxs4/s640/new-world-order.jpg" width="480" /></a></div><br />Eu estava em um churrasco de final de semana e, em um horário já adiantado da noite, a tortuosa conversada embalada por cervejas e outros sortilégios etílicos descambou para a temática social: protestos, greves e essas coisas. Em um dado momento, comentei sobre como foram excitantes as manifestações anti-globalização, ocorridas nos anos da virada da primeira década do século XXI; de como eu e meus amigos daquela época nos preparamos para os embates com tropa de choque, comprando bolinhas de gude para jogar nos coxinhas, etc; do clima de contestação geral que fez com que o centro velho de São Paulo e a avenida Paulista fossem tomados por milhares de pessoas em um combativo protesto para denunciar os rumos nefastos, aceleradamente neoliberais, que o mundo estava tomando. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Eis que então uma moça participante da conversa diz: "ter participado de uma manifestação <i><b>anti</b></i>-globalização denuncia sua idade". Todos riem. Eu também.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A conversa seguiu adiante, mudou de rumo, todo mundo ficou bêbado, a noite foi passando e dezenas de outros temas foram discutidos até ela terminar. Mas aquela frase - "ter participado de uma manifestação anti-globalização denuncia sua idade" - ficou comigo. Mais precisamente: o que ficou comigo foi o destaque dado pela moça ao prefixo "anti". No contexto, o indicativo de minha "velhice" estava no fato não de eu ter participado de uma manifestação no longínquo ano 2000, mas sim em participar, justamente, de um<i> protesto contra a globalização. </i>A risada geral tinha um pouco disso: como é possível que as pessoas tenham protestado contra algo que é tão <i>natural</i>? Afinal, a globalização começou lá com as navegações, quando os europeus chegaram à América, e então as trocas entre os países se aceleraram em tal velocidade, quantidade e constância que, hoje, almoçamos comida italiana feita por imigrantes bolivianos em um restaurante de São Paulo cujos donos são descendentes de poloneses. Que grande absurdo alguém querer protestar contra a globalização. É quase como se fossemos às ruas reivindicar que a chuva molhasse menos as coisas. Todos riem. Eu deveria rir também, mas não consigo mais.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No verbete da Wikipedia sobre o termo "anti-globalização", coloca-se que este "<i>é um movimento que reivindica o fim de acordos comerciais e do livre trânsito de capital"</i> e que os seus adeptos opõem-se <i>"à formação de blocos comerciais como o <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/NAFTA" target="_blank">NAFTA</a> e a <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/ALCA" target="_blank">ALCA</a></i>". Mais adiante, cita um trecho de obra de Daniele Conversi, que define a globalização <i>"como a importação, em via de mão única, de itens culturais estandartizados e ícones de um único país, os Estados Unidos, numa 'americanização' altamente superficial, incoerente, fracional e deficiente, em que os outros povos 'como macacos, imitam algo que eles nem mesmo entendem'". </i>Motivações ambientais, culturais e étnicas também fazem parte do amplo espectro de reivindicações anti-globalistas, que em fins dos anos 90 e início dos anos 2000 ajudaram a formar um bloco de oposição que unia comunas, socialistas, anarcos e tantos outros. Uma honesta descrição do período pode ser lida <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Antiglobaliza%C3%A7%C3%A3o" target="_blank">aqui</a>.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">De certo modo, naquele mundo pré-11 de setembro, era legítimo questionar a globalização, que nada mais era que um pomposo nome, relativamente novo, para designar a expansão do capitalismo financeiro. Vendia-se a globalização como algo "inevitável" e "positivo", capaz de "gerar empregos" e "diminuir a pobreza". Nunca se falava, entretanto, que o que estava sendo ensinado era a agir como macaco, a imitar o <i>american way of life</i>, a incorporar no cotidiano os hábitos e padrões mentais estadunidenses. Claro que, naquela época, ninguém prestava a mínima atenção nas críticas que eram feitas. Duvido muito que algum almofadinha que trabalhava na Paulista, ao ver a avenida tomada por milhares de jovens gritando slogans contra a globalização, tenha de repente pensado "é verdade, esses caras estão certos" (é mais sábio esperar das pessoas o comportamento de rebanho inconsciente que elas sempre tiveram. Desde a Queda é assim, e até o Final dos Tempos assim será).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Entretanto, após os eventos do 11 de setembro de 2001, a balança do poder pendeu favoravelmente à expansão dos Estados Unidos que, sob a desculpa de "lutar contra o terrorismo", causou um dano avassalador no cada vez mais forte movimento anti-globalização. De repente, levantar essa bandeira passou a ser considerado quase que como uma declaração de pró-terrorismo para a mídia mais coxinha. E ser a favor do terrorismo era (é) um ato de profunda selvageria, de insensibilidade perante a "catástrofe" que se abateu sobre os Estados Unidos - e apesar disso nada se dizia (diz) sobre os ferozes gastos bélicos desse país, de todos os bombardeiros por eles orquestrados, por todas as destruidoras campanhas armadas na Coréia, Vietnã, Iraque, Afeganistão e dezenas de outros países. Enfim: o 11 de setembro simplesmente foi um dos melhores acontecimentos que a política externa estadunidense poderia querer, pois garantiu que sua esfera de influência se estendesse por praticamente todo o planeta. A globalização, então, alcança as condições para tornar-se uma realidade.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Realidade total, absoluta e inquestionável. Realidade que nos envolve completamente, sem espaço para o pensamento ir além de seus limites - afinal, como ir <i>além</i> de algo que não se pode sequer <i>ver</i>? </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ter participado de uma manifestação anti-globalização coloca-me como uma espécie de homem cujo tempo já passou. A globalização deixou de ser um conceito, um tema para discussão e um motivo para sair às ruas em protesto: ela é a própria realidade. E se tomarmos como principal base ideológica da globalização o liberalismo e a sua proposta de ordenar a vida como um grande mercado, subscrevo letra por letra as palavras de <a href="http://www.dissolvecoagula.com/2011/11/axe-is-name-of-mine-de-alexander-dugin.html" target="_blank">Alexander Dugin</a> quando diz que, na pós-modernidade (= o mundo que vive a vitória incontestável da globalização), o liberalismo deixa de ser um arranjo ideológico para ser o <i>único</i> conteúdo da existência, para ser "uma ordem objetiva de coisas c<i>ujo desafio não é apenas difícil, mas tolo</i>" (grifo meu). </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">É por isso que todos riram quando aquela moça falou, com certa ênfase no prefixo, em "manifestação <i><b>anti</b></i>-globalização". Riram porque o humor é feito disso: de coisas tolas, absurdas. Quando eu era pequeno, ria muito vendo o rato Jerry jogando um piano sobre o Tom: o pobre gato ficava achatado como uma pizza. Depois ele assoprava o dedo, inflava e voltava ao normal. A graça estava justamente nessa irrealidade tão boba. Talvez incitar a criação de um olhar crítico sobre a globalização nas condições atuais seja tão inútil quanto explicar para uma criança que o desenho do Tom e Jerry é uma coleção de impossibilidades. Seja como for, caso subsistam registros materiais de nosso tempo para os homens do futuro (esqueçam essa história de que o mundo vai acabar, que todos os homens morrerão: nossa espécie é tão amaldiçoada que não seremos agraciados com a dádiva do Fim) espero que eles reconstruam a pós-modernidade de um modo honesto, isto é, sem festas ou coloridos, sem sorrisos ou meias-palavras, mas com o devido rigor e coragem que, nos homens de hoje, estão em níveis tão baixos; e que nessa reconstrução consigam mostrar o horror que é esse mundo sem face, onde o dinheiro nivela tudo no chão, na lama da mediocridade, onde não há espaço para nenhuma diferença que não seja aquela que reza o credo do consenso liberal e suas leis.<br /><br /></div>Leandro Marciohttps://plus.google.com/101175625277493088531noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-34246343.post-68784487444413319542012-12-28T13:19:00.002+14:002012-12-28T13:19:19.093+14:00O burguês, por Hermann Hesse<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-skS9AODRCy8/UNzW8cYchBI/AAAAAAAABHA/5ELNjJxfLnQ/s1600/hermann_hesse.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="365" src="http://2.bp.blogspot.com/-skS9AODRCy8/UNzW8cYchBI/AAAAAAAABHA/5ELNjJxfLnQ/s640/hermann_hesse.jpg" width="490" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">"O “burguês”, como um estado sempre presente da vida humana, não é outra coisa senão a tentativa de uma transigência, a tentativa de um equilibrado meio-termo entre os inumeráveis extremos e pares de opostos da conduta humana. Tomemos, por exemplo, qualquer dessas dualidades, como o santo e o libertino, e nossa comparação se esclarecerá em seguida. O homem tem a possibilidade de entregar-se por completo ao espiritual, à tentativa de aproximar-se de Deus, ao ideal de santidade. Também tem, por outro lado, a possibilidade de entregar-se inteiramente à vida dos instintos, aos anseios da carne, e dirigir seus esforços no sentido de satisfazer seus prazeres momentâneos. Um dos caminhos conduz à santidade, ao martírio do espírito, à entrega a Deus. O outro caminho conduz à libertinagem, ao martírio da carne, à entrega, à corrupção. O burguês tentará caminhar entre ambos, no meio do caminho. Nunca se entregará nem se abandonará à embriaguez ou ao ascetismo; nunca será mártir nem consentirá em sua destruição, mas, ao contrário, seu ideal não é a entrega, mas a conservação de seu eu, seu esforço não significa nem santidade nem libertinagem, o absoluto lhe é insuportável, quer certamente servir a Deus, mas também entregar-se ao êxtase, quer ser virtuoso, mas quer igualmente passar bem e viver comodamente sobre a terra. Em resumo, tenta plantar-se em meio aos dois extremos, numa zona temperada e vantajosa, sem grandes tempestades ou borrascas, e o consegue ainda que à custa daquela intensidade de vida e de sentimentos que uma existência extremada e sem reservas permite. Viver intensamente só se consegue à custa do eu. Mas o burguês não aprecia nada tanto quanto o seu eu (um eu na verdade rudimentarmente desenvolvido). À custa da intensidade consegue, pois, a subsistência e a segurança; em lugar da posse de Deus cultiva a tranqüilidade da consciência; em lugar dos ardores mortais, uma temperatura agradável. O burguês é, pois, segundo sua natureza, uma criatura de impulsos vitais muito débeis e angustiosos, temerosa de qualquer entrega de si mesma, fácil de governar. Por isso colocou em lugar do poder a maioria, em lugar da autoridade a lei, em lugar da responsabilidade as eleições."</div><br />Trecho de "O lobo da estepe", do Hermann Hesse.Leandro Marciohttps://plus.google.com/101175625277493088531noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-34246343.post-28989476047515858322012-12-21T17:26:00.000+14:002012-12-21T17:26:05.015+14:00Fim do mundo<div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-8-Thd7wfEaQ/UNPWUFBUz4I/AAAAAAAABGM/AlhkS400KY0/s1600/fim-do-mundo-600x375.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="280" src="http://4.bp.blogspot.com/-8-Thd7wfEaQ/UNPWUFBUz4I/AAAAAAAABGM/AlhkS400KY0/s400/fim-do-mundo-600x375.jpg" width="450" /></a></div><br />Escrevo isso nos momentos que antecedem o Fim do Mundo, o 21/12/2012, que todos sabem que não irá acontecer mas ficam alardeando, com o cinismo fanfarrão que é a insígnia máxima da cultura moderna [o período anterior é completamente contraditório e assim permanecerá, como prova de que a doença cínica contamina a todos, e não me excluo do séquito dos enfermos]. O ano, pesado, arrasta-se ao seu final e, como quase todo mundo, proponho-me a fazer um balanço do ano dois mil e doze de Nosso Senhor.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Nas leituras, gastei boa parte do meu tempo em 2012 com René Guénon. Ainda estou nos princípios da extensa obra dele, seguindo as instruções de leitura contidas <a href="http://www.reneguenon.net/IRGETGuenonComoEstudar.html" target="_blank">neste guia do Instituto René Guénon de Estudos Tradicionais </a>. Resolvi empreender a leitura completa das obras de Guénon por um motivo: o crescimento de pessoas, editoras, encontros e grupos que levantam a bandeira da Tradição Primordial mesclando-a com política, ativismo e outras tendências da Via da Ação, muitas vezes com claro interesse beligerante, e que consideram a obra de Guénon um "atraso", um "erro", "passiva" demais em um mundo que pede, a todos os momentos, que se passe da contemplação para o campo de batalha. Só o tom imperativo de tais discursos, onde defende-se que estamos nos momentos extremados do Fim dos Tempos, onde em breve o mundo vai acabar, me dá uma espécie de nojo misturado com cansaço: parece que estou ouvindo as mesmas ladainhas apocalípticas daqueles crentes fanáticos que pregam na Praça da Sé, com suas Bíblias cheirando a axilas mal lavadas. Publiquei muitos textos do Alexander Dugin aqui no blog, autor pelo qual nutri bastante interesse nos últimos meses, e que é um dos que se enquadram muito bem na rubrica daqueles que defendem a "Tradição" com um tom propagandístico, partidário e político. Entretanto, após ler dois livros dele, a conclusão que chego é que pouquíssimo da Tradição encontrei em seus escritos, praticamente nada de "verdadeiramente espiritual", mas em contrapartida encontrei um tipo de pensamento que coloca no liquidificador uma série de fontes das mais contraditórias, embeleza com uma verborragia carregada de termos apocalípticos e põe na prateleira das idéias prontas para o consumo de jovens que, cansados da democracia, buscam uma nova utopia salvadora, e de preferência que tenha cheiro de mísseis e marchas militares antigas. Cansado que estou das utopias, e desde há muitos anos, passo adiante e deixo os delírios de Dugin e companhia para quem tenha interesse na loucura de acreditar em um mundo melhor, e fico com o "atrasado" René Guénon.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Na música consegui, finalmente, voltar a ter uma "rotina" com ensaios em uma banda, o que não fazia desde 2009 com o fim do Life is a Lie (que esteja repousando eternamente). Digo "rotina" assim, entre aspas, pois os ensaios foram esporádicos, até porque não se trata exatamente de uma banda no sentido tradicional do termo. Gravamos as músicas, ou pelos 99% delas, na sala da casa de um dos integrantes, graças ao maravilhoso ser humano Steve Jobs e sua empresa Apple. É incrível como um Macbook pode fazer gravações com qualidade e facilidade impressionantes. E o melhor: com custo zero, praticamente. Possibilidades enormes, sem dúvida, mas ainda confesso que é bem estranho fazer música sem estar no clima de estúdio, rodeado de amplificadores, instrumentos, etc. Creio que no primeiro semestre de 2013, finalmente, lançaremos as músicas que produzimos ao longo do ano [como em todas as bandas da qual participei, o processo de composição é bem lento, quase penoso; nunca serei um "músico produtivo", daqueles que lançam dezenas de lançamentos ao longo do ano, todos excelentes; essa afirmação, contudo, jamais tirará do meu altar de ídolos o hiper produtivo Mikko Aspa, o homem que nunca dorme e participou/é as bandas Noise Waste, <a href="http://www.youtube.com/watch?v=u9Dix_1l9sE" target="_blank">Grunt</a>, <a href="http://www.youtube.com/watch?v=mLReJOWiKcc" target="_blank">Nicole 12</a>, <a href="http://www.youtube.com/watch?v=HP_gB3Ppb0k" target="_blank">Clandestine Blaze</a>, <a href="http://www.youtube.com/watch?v=1F5TZgo5dig" target="_blank">Deathspell Omega</a>, <a href="http://www.youtube.com/watch?v=SbawVv0t9cM" target="_blank">Bizarre Uproar</a>, <a href="http://www.youtube.com/watch?v=1H_F6j0rM94" target="_blank">Stabat Matter</a> (deve ter outras quinhentas) e também administra uma gravadora, uma revista, um fórum de discussões (onde sempre participa com posts gigantescos) e uma produtora de filmes pornôs]. Não ouvi muita música nova esse ano, pelo menos não na quantidade dos anos anteriores (claro reflexo de um ano agitado onde trabalhei mais do que nunca). Os que mais me chamaram a atenção foram os seguintes:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>- Blood of the Black Owl </b>- "Light the fires!"</div><div style="text-align: justify;"><b>- Preterite </b>- "Pillar of winds"</div><div style="text-align: justify;"><b>- Aluk Todolo</b> - "Occult rock"</div><div style="text-align: justify;"><b>- Ianva </b>- "La mano di gloria"</div><div style="text-align: justify;"><b>- Abuse Patterns </b>- Reproducing the Pathology</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O restante do que ouvi ou é antigo ou é rock, como Madball, que me peguei ouvindo novamente tempos atrás, ou Cwill, que é velho demais e eu escutei com a vivacidade de uma recém-descoberta pois a memória abandona-me mais e mais. Entretanto, o que mais me interessa ouvir atualmente é completamente distante de música; ruídos, experimentações, elementos desconexos me animam mais que melodias. Talvez porque proporcionem um escudo sonoro mais eficaz contra o mundo exterior, isolando-me do som nauseantes das conversas no metrô. Aliás, desenvolvi esse ano uma quase-fobia, que é a de entrar no metrô sem meu MP3 player. O trajeto deixa-me sufocado: as nuvens sonoras de conversas odiosas, o som das risadas desgraçadamente agudas de algumas mulheres, os filhos da puta que gritam nos celulares e tornam públicas suas discussões sobre NADA. Uso, então, meus fones de ouvido como um casulo de onde saio somente quando cruzo a porta de minha casa.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No campo da escrita, consegui desenvolver uma parte de um novo livro - um romance, para ser mais exato. Tem pelo menos dois cadernos com um monte de folhas anotadas, rascunhos de rascunhos, que precisam de uma ordem ainda. Não é algo que eu tenha deixado morrer, mas claramente releguei a um segundo plano, seja por compromissos profissionais, seja por ver em boa parte dos escritos uma vaidade enorme, que me fez ter muita vergonha de existir. No final das contas, muito da literatura é feito sobre vaidade, ou pelo menos a vaidade é a mola propulsora do escritor, que deseja publicar e ver seu nome "imortalizado" em uma folha de papel. Declarada ou não, ela sempre está. Mas acho que exagerei em muitas partes, e a meta é reescrever tudo o que foi feito, com o firme propósito de tornar minha sensibilidade quase nula em tudo o que virá. Nada do que sentimos, é importante; o mundo passa muito bem sem nossas queixas, nossas alegrias, nossas esperanças. Isso é tão claro para mim que chega a ser desonroso publicar qualquer linha que exceda o justo limite de uma vaidade controlada com férrea disciplina. Justamente por isso, a tendência é escrever menos e menos, até extinguir-me. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em relação à vida pessoal, este ano consegui solidificar laços muito importantes, tanto amoroso quanto de amizade. Foi excelente a convivência que tive com poucas mas valorosas pessoas, que não necessito nomear aqui. Conquistei, também, alguns novos amigos, pessoas com as quais aprendi muitas coisas e mantenho uma relação que desejo aprofundar no novo ano. Ao mesmo tempo, foi possível ver com mais clareza ainda o que me distancia de um monte de outras pessoas, o que me distancia de suas paixões e ambições, de suas perturbadas maneiras de existir e relacionar-se com os demais. Envoltas em um maremoto de contradições, anseios descontrolados e atitudes irresponsáveis, a maioria das pessoas me deixa com uma sensação de enorme preguiça. Considero-me, de certo modo, bastante diferente delas; não comungo de seus sonhos, de seus "problemas", de suas rotinas. Coloco-me o direito, apenas, de manter-me distante de tudo aquilo que não considero saudável, assim como de empurrar com um gesto, violento se necessário, qualquer ameaça ao meu círculo de convivência. É muito trabalhoso ter muitos amigos, e na verdade ter muitos amigos é no fim das contas não ter nenhum amigo de verdade. Por isso é melhor ter sempre cada vez menos e assim acumular mais - uma matemática estranha que parece saída de um livro de auto-ajuda, mas é o que a vida tem me mostrado na base do exemplo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Para dar o clima de tensão necessário para a entrada de um novo ano, uma bela canção para encerrar o post:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><iframe allowfullscreen="allowfullscreen" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/wERU4NiAtlE" width="420"></iframe>Leandro Marciohttps://plus.google.com/101175625277493088531noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-34246343.post-75582645245154933022012-09-12T14:53:00.000+14:002012-10-25T10:21:54.024+14:00A estética do intenso e o fim da arte clássica<div id="divSpdInPix"><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-EHGpoRCuVzE/UE_akEzu7jI/AAAAAAAABEM/IJ4UZKMq1UY/s1600/escultura.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-EHGpoRCuVzE/UE_akEzu7jI/AAAAAAAABEM/IJ4UZKMq1UY/s400/escultura.jpg" width="490" /></a></div><div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt;"><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 16.5pt; text-align: justify;">Publiquei o ensaio abaixo, pela primeira vez, no blog do projeto <a href="http://ugrapress.wordpress.com/" target="_blank">Ugra Press</a>, no longínquo ano de 2010. Organizando antigos documentos, encontrei o arquivo original e, relendo-o, percebi que alguns detalhes poderiam ser melhorados e, algumas partes, retiradas. Acredito que agora cheguei a um texto mais denso e definitivo, e que poderá ser, no futuro, complementado por novas reflexões, se a vida me permitir.</span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ele surgiu após a leitura de um livro do intrépido Paul Veyne, autor que já figurou aqui recentemente <a href="http://www.dissolvecoagula.com/2012/06/in-hoc-signo-vinces-paul-veyne-e-o.html" target="_blank">em uma resenha</a>, e que não cansará de ser evocado em novos escritos. Veyne afirma que nós, leitores contemporâneos de literatura, padecemos de um preconceito: só nos apetece textos que transbordem, que exagerem, que sejam intensos. </span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 16.5pt;">Estará Veyne, <a href="http://histoireparis8.canalblog.com/images/Paul_Veyne.jpg" target="_blank">o homem mais feio do mundo</a>, correto ao propor isso? É esse o ponto de partida para o texto que segue. A seção de comentários, ao final, estará lá esperando para receber críticas e instigar debates.</span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div><h3><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>O intenso sabor moderno</b></span></span></h3><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><i>“Quanto a mim, creio que importa bastante que a obra de arte seja a obra de um homem completo. Mas como é possível que se atribuísse outrora tamanha importância ao que hoje é considerado tão naturalmente como irrelevante? Um amador, um connaisseur do tempo de Júlio II ou de Luís XIV, ficaria muito espantado se lhe contassem que quase tudo o que ele considerava essencial na pintura é hoje não somente negligenciado como está radicalmente ausente das preocupações do pintor e das exigências do público. Além disso, quanto mais este público é refinado, mais ele é avançado, ou seja, está distante dos antigos ideais a que me refiro. Mas é do homem total que estamos, assim, nos distanciado. O homem completo está morrendo.” (Paul Valéry, Degas, dança, desenho)</i></span><o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><br /></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">No epílogo de seu livro<i> A Elegia Erótica Romana, </i>o historiador francês <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Paul_Veyne" target="_blank"><b><span style="color: #888888; text-decoration: none; text-underline: none;">Paul Veyne</span></b></a> tenta fornecer ao leitor uma explicação cujo tom assume, em determinados momento, uma espécie de pedido de desculpas: se o leitor sentiu tédio ao ler as traduções das elegias realizadas ao longo do livro, deve atribuir tal tédio não às imperícias do tradutor mas, unicamente, ao nosso gosto moderno moldado pela <i>intensidade.</i> O que exatamente Veyne quis significar ao empregar a palavra intensidade e como ela influencia nossa sensibilidade literária serão as questões que tentarei problematizar ao longo desse texto.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Apesar de, segundo Veyne, a estética de hoje ser moldada pelo intenso, houve períodos onde esse valor não impregnava a criação e a apreciação das obras. Um desses períodos foi o da arte clássica, ou pelo menos das manifestações artísticas que de alguma maneira mantiveram-se fiéis ao seu credo. Tal credo, dito de forma extremamente abrangente (o que para muitos será uma blasfêmia, já que resumirei em breves linhas uma produção de mais de dois mil anos), tinha como pedra angular o conceito da <i>imitação de modelos perfeitos, </i>ou <i>mímese</i>. Algumas obras eram consideradas a mais alta realização do Belo, sendo o artista tanto melhor quanto mais conseguisse se aproximar, através da imitação, desse ideal de beleza. Se eu quisesse escrever um poema épico e vivesse na Roma do século II d.C., deveria me inspirar na Odisséia de Homero, ou na Eneida de Virgílio, e através de tais modelos consagrados construir o meu texto - a ponto de mesmo de copiar, literalmente, partes inteiras desses poemas que me precederam. <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A imitação deveria ocorrer mediante a observação de alguns limites, já bem determinados pela tradição. Como esse texto pretende dar conta de literatura, farei uma brevíssima explicação dos três ingredientes principais dessa arte, segundo a estética clássica: <i>gêneros, técnicas</i> e <i>faculdades</i>.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Os gêneros dividem-se em três: <i>épico</i>, <i>lírico </i>e <i>dramático. </i>Em uma conceituação ampla, pode-se dizer que o gênero fornecia para o escritor do período clássico um campo de ação muito nítido: era tácito que só caberia escrever um poema épico se nele estivessem presentes feitos de algum herói aristocrata. Se quisesse retratar situações envolvendo membros das classes baixas deveria, de acordo com a lei dos gêneros, escrever uma comédia, sendo inconcebível pensar em uma poesia épica onde cozinheiras, escravos e ladrões estivessem presentes. Era principalmente o tema ou, em termos rigorosamente clássicos, a <i>matéria </i>do poema que definia a <i>forma </i>do texto.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Concomitante à boa adequação às leis do gênero, havia também uma coleção de <i>técnicas</i> para a correta realização da mímese. Tais técnicas, de substância retórica, podem ser resumidas em quatro: a <i>verossimilhança</i> (o que é dito deve parecer crível), os <i>caracteres </i>ou <i>personagens </i>(que devem agir de acordo com critérios verossímeis, isto é, se se tratam de personagens históricos devem agir de acordo com os fatos, se mitológicos de acordo com o pano de fundo lendário, etc), o <i>maravilhoso </i>(intervenção de leis divinas, imprevistos que deturpem/contrariem as leis da natureza, etc) e a <i>unidade</i> (o texto deve ter uma coerência espacial e temporal bem definidas, sendo reprovável narrativas que tentem dar conta de recortes espaciais ou temporais demasiado longos).<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Por último mas não menos importante, o escritor clássico deveria valer-se de três faculdades: a <i>imaginação, </i>a <i>emoção </i>e a <i>razão. </i>Tais faculdades, comuns a todos os homens, são os grandes instrumentos do escritor. Delas, por assim dizer, “brotam” as palavras. Todavia, a estética clássica reconhece o primado da razão sobre todas as outras: o ajuste racional mantém o que é imaginado dentro dos limites da verossimilhança, assim como impede que a emoção transborde no texto a ponto de que a clareza e a unidade fiquem comprometidas. Permitia-se e valorizava-se o <i>gênio</i> e o <i>furor poético,</i> fruto da inspiração das Musas, mas mesmo aqueles, se não submetidos aos bons cuidados da razão, perdiam sua validade. O contrário também era condenado: uma arte puramente racional, sem a ocorrência da sensibilidade e da imaginação, já não seria mais arte e sim filosofia.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Podemos ver nessa grosseira e sem dúvida lacunar explanação que estamos diante de uma estética sólida e minuciosamente construída: suas muitíssimas peças se encaixam com natural perfeição, relacionam-se e ajustam-se equilibradamente em <i>infinitas</i> combinações. Dou ênfase ao “infinita”: muitas são as acusações de que as exigentes prerrogativas da literatura clássica e sua ambição de copiar modelos perfeitos agiam como limitadores da originalidade e da capacidade expressiva dos escritores antigos. Isso não é verdade: a inovação sempre esteve presente, embora não se medisse o valor de um escritor por meio dela, e arrisco dizer que tampouco estava nomeada. Leituras atentas de obras clássicas mostram que os autores se permitiam tentativas de mesclar os inseparáveis gêneros: por exemplo Virgílio, que no canto I da Eneida narra a paixão da rainha de Cartago, a exuberante Dido, com versos que poderiam muito caber em um poema lírico (o tratamento de temas amorosos nunca antes acontecera em uma épica, pelo menos não com as cores quentes que Virgílio ali empregou). Obviamente, tudo ocorre de forma muito sutil e nossa sensibilidade moderna, distante do latim clássico há séculos, só percebe isso após anos de dedicados estudos. De qualquer modo, o importante é manter no espírito algumas coisas antes de continuarmos: que a estética clássica era composta de rígidas regras de composição; que quando essas regras eram “burladas”, tudo ocorria de forma muito sutil e elegante; e que nenhum escritor imaginava tais regras como um obstáculo.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Tudo isso, ninguém contesta, acabou. Essa literatura está morta.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Todavia conceitos têm uma vida mais extensa do que as épocas que os viram nascer: mesmo que seja difícil se emocionar com as elegias traduzidas pelo Paul Veyne, o fato é que a literatura ocidental se desenvolveu baseada nos pressupostos que orientaram a escritura daquelas elegias. É a partir daqui que saímos de um estágio puramente explicativo e quase escolar para tentar dar conta da mudança que ocorreu: como o Ocidente migrou de uma estética orientada por padrões clássicos para uma outra que subverte tais padrões, onde o intenso adquire um valor antes inédito.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Afirma Veyne no livro já citado que o “momento intenso” surge com o Romantismo. É a partir dele que começarão a surgir escritos que subvertem os padrões de clareza, da objetividade e da perfeição em nome de um <i>transbordamento</i>. Mas o que seria isso? Veyne cita <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Hippolyte_Taine" target="_blank"><b><span style="color: #888888; text-decoration: none; text-underline: none;">Hippolyte Taine</span></b></a>, escrevendo sobre <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/William_Cowper" target="_blank"><b><span style="color: #888888; text-decoration: none; text-underline: none;">William Cowper</span></b><b><span style="color: #772124; text-decoration: none; text-underline: none;">,</span></b></a> um pré-romântico:<o:p></o:p></span></span><br /><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><i><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> </span></span><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; line-height: 16.5pt;">“Ele não tem o ar de pensar o que escutamos, não fala a não ser a si mesmo. Não insiste sobre suas idéias, como os clássicos, para colocá-las em relevo ou salientá-las; </span><b style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; line-height: 16.5pt;">anota a sensação, e depois é tudo</b><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; line-height: 16.5pt;">. Não são mais palavras que se escuta, </span><b style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; line-height: 16.5pt;">mas emoções que se sente</b><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; line-height: 16.5pt;">. Nisto consiste a grande revolução do espírito moderno; o espírito, ultrapassando as regras conhecidas da retórica e da eloqüência, </span><b style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; line-height: 16.5pt;">penetra na psicologia profunda</b><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; line-height: 16.5pt;"> e não emprega mais as palavras a não ser para enumerar as emoções.” (grifos meus)</span></i><br /><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; line-height: 16.5pt;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Palavras, antes utilizadas para apresentação de idéias tecnicamente ordenadas pelas faculdades do escritor, admitem agora, com os escritores românticos, apenas um senhor: as emoções. Toda a preceptiva clássica será, a partir do Romantismo, diluída em nome de uma bandeira de luta que não admitirá compromissos: a liberdade criativa do artista em expressar a si mesmo, e expressar-se <i>intensamente</i>. Será sob essa bandeira que não apenas os românticos construirão seu discurso, mas também muitíssimos outros e, no século XX, será a vez das vanguardas, última pá de terra no túmulo nos conceitos estéticos de verniz clássico.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Voltemos ao Romantismo. O fato de que hoje o Goethe de <i>Os sofrimentos do jovem Werther </i>seja lido com voracidade não muda o triste destino de todos aqueles que, no século XVIII, se mataram após ler essa obra que já contém em si muito da intensidade que os futuros escritores românticos irão explorar. Trechos de Werther tais como “Eu não sei, a cada dia, o que vou amar no dia seguinte” mostram que operava-se no espírito da época uma <i>crise</i> sem resposta: era como se sufocado estivesse algo que precisasse queimar e corromper os próprios limites. <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Marshall_Berman" target="_blank"><b><span style="color: #888888; text-decoration: none; text-underline: none;">Marshall Berman</span></b></a> foi perspicaz em analisar o Manifesto Comunista como a primeira obra de arte moderna: seu vocabulário rico em grandiosas imagens de destruição não é mero esforço retórico para agenciamento de militantes, mas registra em nível estilístico (inconsciente?) uma ânsia expressiva intensa e, por isso, anticlássica. Aliás – e Veyne sublinha isso – não parece ser coincidência que os séculos da intensidade estética e das vanguardas artísticas sejam, também, os séculos mais <i>burgueses. </i>Eram os últimos séculos de um mundo antigo, regido por princípios antigos, por legislações régias herdeiras da Tradição já esquecida, onde o <i>impessoal</i> tinha um peso importante (no mundo feudal, o indivíduo <i>era</i> o seu estamento). Não admira que um grupo de comerciantes cada vez mais ricos, em um mundo onde o dinheiro circulava cada vez mais, se julgasse no direito de possuir mais poder, e reclamasse para si mais atenção e possibilidades de auto-afirmação – que é o mesmo que ultrapassar a limitação do estamento, uma quebra na regulação impessoal do feudalismo. Disso nasceu conseqüências de todas as naturezas, inclusive estéticas. Veyne me parece muito correto ao propor que a marca distintiva dessa estética é a intensidade, e que ela não respeita, na sua ânsia expressiva, qualquer distinção de gênero, qualquer freio às emoções. <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">“Emoção intensa, associada a uma intensa ostentação de imagens: eis o que é a poesia destes dois últimos séculos”: Veyne deve ter em mente Rimbaud nesse momento; mas embora não cite, já que as citações dele são sempre européias , nessa mesma rubrica do intenso eu consigo colocar <a href="http://www.whitmanarchive.org/biography/chronology.html" target="_blank"><b><span style="color: #888888; text-decoration: none; text-underline: none;">Walt Whitman</span></b></a>, que no poema <i>Song of Myself </i>produz um imenso cortejo de versos que transbordam intensidade:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><i style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 16.5pt;"><span lang="EN-US" style="color: #333333;"><span style="font-size: small;"><br /></span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><i style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 16.5pt;"><span lang="EN-US" style="color: #333333;"><span style="font-size: small;">Do you see O my brothers and sisters?</span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;"></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;"><i style="background-color: white; line-height: 16.5pt;"><span lang="EN-US" style="color: #333333;">It is not chaos or death… it is form and union an plan… it is eternal life….</span></i></span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;"><i></i></span><br /><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;"><i><i style="background-color: white; line-height: 16.5pt;"><span lang="EN-US" style="color: #333333;">it is happiness.</span></i></i></span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;"><i></i></span><br /><div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt;"></div><div style="text-align: justify;"><i style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 16.5pt;"><span lang="EN-US" style="color: #333333;"><span style="font-size: small;">The past and present wilt…. I have filled them and emptied them,</span></span></i></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;"></span><br /><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;"><i style="background-color: white; line-height: 16.5pt;"><span lang="EN-US" style="color: #333333;">And proceed to fill my next fold of the future.</span></i></span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;"></span><br /><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><br /></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Entendemos melhor a Veyne quando lemos coisas assim: perto de linhas como essa, versos de Propércio, de Horácio ou de qualquer outro poeta antigo nos parecem… opacos. Mas é nesse juízo que temos uma armadilha difícil de perceber: quando encontramos algum “brilho” em um texto literário não estamos vendo algo que, a rigor, não existe? Toda estética é um conjunto de escolhas quase sempre inconsciente, e a estética do intenso, que acostumou nosso gosto a apenas aceitar imagens em abundância, gritos altissonantes e emoções que transbordam não é a mais correta, mas <i>uma das possíveis. </i>Falta à arte uma <i>essência</i>.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Para conduzir ao final dessa reflexão, cito Veyne:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><br /></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;"><i>“A renúncia à clareza começa com Rimbaud (…) consome os últimos restos de prosaísmo e de redundância que facilitavam o entendimento, mas diluíam o grau de intensidade (…) . Aconteceu algo grosseiramente comparável na pintura; é a busca da intensidade que levou à densificação insuperável de um Cézanne, à simplificação da forma e, finalmente, à abstração, para que nenhum elemento de paisagem ou de figura venha distrair o espectador da pura contemplação estética e diluir a intensidade da pura pintura. No romance, o mesmo desdém pelas velharias retóricas resultou de início no realismo burguês”.</i><o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><br /></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Talvez ele tenha sido um pouco duro ao falar que no processo de intensificação da pintura tenha existido um estágio de simplificação da forma. Decerto, nem toda simplificação formal demanda um <i>empobrecimento: </i>o soneto é uma forma simples se comparada à épica, mas nem por isso de menor riqueza estética. O mesmo se pode dizer do romance burguês: a simplicidade e a crueza do relato realista e a sua radicalização no Naturalismo são “reações” contra as exigências retóricas, mas nem por isso são textos “menores”. A escrita automática dos surrealistas é a radicalização absoluta da negação das exigências de estilo de origem clássica, e a receita de <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Tristan_Tzara" target="_blank"><b><span style="color: #888888; text-decoration: none; text-underline: none;">Tzara</span></b></a> para fazer um poema através de recortes de jornais, embora anedótica, segue a mesma via. Ambas, se lidas em si, talvez não nos digam nada, mas possuem um significado e filiam-se ao gosto pelo intenso apontado por Veyne.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A conseqüência que me parece a mais imediata da negação dos princípios retóricos e a elevação da intensidade emocional como valor artístico principal é a legitimação da literariedade de um texto baseada apenas na opinião (isto é literatura porque eu <i>sinto</i> o que eu escrevo). Isso é ruim? Se você for uma das múmias da Academia Brasileira de Letras, claro que será. Se você é fã de Bukowski, vai achar que não e vai querer socar os caras da Academia. De qualquer modo, estamos no olho do furacão. Não temos um distanciamento histórico suficiente para entender o que acontece com a literatura recente (e ao dizer isso me refiro a essa que vem sendo produzida nos últimos cem anos). Foram necessários alguns bons séculos para que Veyne visse nas elegias romanas não confissões de poetas apaixonados, mas sim apenas brincadeiras literárias doutíssimas, cheias de armadilhas para leitores desatentos. Isso não impede, porém, de que algumas proposições sejam feitas.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Nesse ponto final da jornada, retomo a epígrafe desse texto: “é do homem total que estamos, assim, nos distanciado”. O tom pode parecer apocalíptico para espíritos mais sensíveis, mas é exagerado acreditar que se o registro da emoção e dos sentimentos for o único caminho para a futura literatura (por ser o mais “autêntico” e “genuinamente artístico”, o que sabemos ser uma bobagem) então estamos em um caminho de empobrecimento? Ou – e isso me parece o mais instigante e a grande herança da estética do intenso – saberemos como os sentimentos e o exagero podem ser beneficiados pelo apuro estilístico? Fazer profecias nunca foi o meu forte, mas as indagações sobre o futuro serão sempre necessárias se quisermos ver com alguma clareza aquilo que está na ordem do dia. Como primeiro ensaio para a nossa abordagem sobre literatura aqui no blog, creio que já deixamos para você, destemido leitor desse texto, algumas delas.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 16.5pt; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Alguns dos livros consultados para a composição desse ensaio foram:</span></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify; text-indent: 0px;"><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 16.5pt; text-indent: -18pt;">- <i>A Elegia Erótica Romana,</i> de Paul </span>Veyne<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 16.5pt; text-indent: -18pt;">. Editora Brasiliense;<br />- </span><span style="background-color: transparent; line-height: 22px;"><span style="color: #333333; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>Folhas de relva</i>, de Walt Whitman. Edição bilíngüe (caprichadíssima) da Iluminura;<br />- </span></span><span style="background-color: transparent; line-height: 22px;"><span style="color: #333333; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>Tudo o que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade</i>, de Marshall Berman. Editora Companhia das Letras.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify; text-indent: 0px;"><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-indent: -18pt;"> </span></div><br /></div> <script type="text/javascript"><!-- descrColor="000000";titleColor="00BCDC";urlColor="00BCDC";borderColor="000000";bgColor="FFFFFF";altColor="FFFFFF";coddisplaysupplier="6d15faae38634fcab73ab5a2741a9843";formatId="9";numads="4";type="1"; --></script><script type="text/javascript" src="http://adrequisitor-af.lp.uol.com.br/uolaf.js"></script><script type="text/javascript"><!-- descrColor="000000";titleColor="00BCDC";urlColor="00BCDC";borderColor="000000";bgColor="FFFFFF";altColor="FFFFFF";coddisplaysupplier="6d15faae38634fcab73ab5a2741a9843";formatId="9";numads="4";type="1"; --></script><script type="text/javascript" src="http://adrequisitor-af.lp.uol.com.br/uolaf.js"></script>Leandro Marciohttps://plus.google.com/101175625277493088531noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34246343.post-7405846084751799112012-09-11T14:01:00.001+14:002012-10-17T11:38:44.490+14:00A mercantilização do livro: o "manifesto dos 451"<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-0h-cnUUk1Rc/UE59Bqm5esI/AAAAAAAABDA/zQjpR4blE_M/s1600/cropped-Readers.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="270" src="http://4.bp.blogspot.com/-0h-cnUUk1Rc/UE59Bqm5esI/AAAAAAAABDA/zQjpR4blE_M/s640/cropped-Readers.jpg" width="490" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Livros são um excelente negócio. Por mais tenebrosas que sejam as estatísticas mostrando que <a href="http://g1.globo.com/vestibular-e-educacao/noticia/2012/03/numero-de-leitores-caiu-91-no-pais-em-quatro-anos-segundo-pesquisa.html" target="_blank">o brasileiro lê menos de dois livros por ano</a>, o mercado editorial cresce (ainda que timidamente). Em números absolutos, foram produzidos no ano passado 499.796.286 unidades de livros que correspondem a 58.192 títulos (entre inéditos e reimpressões): uma oferta quase infinita de possibilidades de leituras, que transforma as livrarias em verdadeiros shopping centers, elevando algumas ao pomposo status de atração cultural de algumas cidades - é o caso da Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na capital paulista. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Amantes de livros, e de literatura em especial, tenderiam a ver esse cenário como positivo. Afinal, melhor ter essa abundância de livros do que não alguns poucos e mirrados lançamentos. Entretanto, o que estaria nos bastidores dessa opulência editorial, fenômeno que não é restrito ao Brasil? Como a produção de e-books e e-readers estimula esse crescimento? Que interesses ocultos (perversos?) estão presentes nos preços fabulosos oferecidos pela Amazon? As sociedades estão de fato se beneficiando desses processos? Ou tudo não passa de um sintoma da decadência cada vez mais acelerada, onde a cultura é tão somente mais um aspecto da vida a se degradar?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">São questionamentos como esses que motivou a criação do grupo "Les 451", em Paris, que lançou o seu manifesto no último dia 5 de setembro nesse site e assinado por 451 profissionais do mercado livreiro (revisores, editores, escritores, bibliotecários, etc). Entre seus signatários, o filósofo italiano Giorgio Agamben, autor que já tive a oportunidade de ler/comentar alguns textos e que foi um dos motivos a colocar aqui uma tradução do manifesto, publicado de modo inédito em língua portuguesa graças à iniciativa de <a href="https://twitter.com/bolivar_torres" target="_blank">Bolívar Torres</a> e <a href="http://churiana.tumblr.com/" target="_blank">Juliana Fausto</a>. Fica aqui meu agradecimento a ambos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Sem mais delongas, o manifesto.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>O livro e a armadilha da mercadorização</b></div><div style="text-align: justify;">Nós, o coletivo de 451 profissionais da cadeia de negócios do livro, começamos a nos reunir há algum tempo para discutir a situação presente e futura de nossas atividades. Tomados em uma organização social que separa as tarefas, a partir de um sentimento comum – fundado em experiências diversas – de uma degradação acelerada das maneiras de ler, produzir, compartilhar e vender livros, consideramos que hoje a questão não se limita ao setor, e procuramos soluções coletivas para uma situação social que nos recusamos a aceitar.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A indústria do livro vive em grande parte graças à precariedade que aceitam muitos de seus trabalhadores, seja por necessidade, paixão ou engajamento político. Enquanto estes tentam difundir ideias ou imagens capazes de mudar nossos pontos de vista sobre o mundo, outros têm entendido que o livro é sobretudo uma mercadoria com a qual é possível conseguir lucros substanciais</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Sabendo tanto como se apropriar dos grandes princípios de independência ou de democracia cultural quanto praticar a avalanche publicitária, a exploração salarial e a diversidade do monopólio, as Leclerc, Fnac, Amazon, Lagardère e outros grandes grupos financeiros querem nos fazer perder de vista uma das dimensões essenciais do livro: um elo, um encontro.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Enquanto isso, quer se trate de profissionais simbolicamente reconhecidos ou de pequenos serviços indispensáveis à toda cadeia econômica, cultural e social, as profissões ligadas ao livro são desqualificadas e substituídas por operações técnicas nas quais tomar tempo se torna inconcebível.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A indústria do livro não tem de fato necessidade senão de consumidores impulsivos, de networkers de opinião e de outros temporários maleáveis? Muitos de nós se encontram então presos às lógicas do mercado, desprovidos de qualquer pensamento coletivo ou de perspectivas de emancipação social – hoje em dia terrivelmente ausentes do espaço público.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Enfraquecida pelo critério do sucesso, a produção de ensaios, de literatura ou de poesia se empobrece, os recursos de livrarias ou de bibliotecas se esgotam. O valor de um livro se dá em função de seus números de venda e não de seu conteúdo. Não será mais possível ler senão o que é bem-sucedido. Ora, enquanto o CEO da Amazon, Jeff Bezos, declara que “atualmente as únicas pessoas necessárias para a edição são o leitor e o escritor”, certas pessoas continuam a trabalhar com livros, livrarias, gráficas, bibliotecas ou em editoras em escala humana. Apesar de nossa vontade de resistir, nós somos, como a imensa maioria, cercados pela informática, pelas lógicas gerenciais e pelos finais de mês difíceis.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Embarcamos igualmente em uma pseudodemocratização da cultura, que continua a se nivelar por baixo, e se reduzir ao empobrecimento e uniformização das ideias e dos imaginários, para corresponder ao mercado e à sua racionalidade. Atônitos, tentamos nos manter atualizados: nos viramos com os programas, as encomendas on-line, os corretores automáticos, as deslocalizações, a avalanche de novidades rasas, as ameaças dos bancos, a alta dos aluguéis e as digitalizações selvagens.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Todavia, não podemos resolver reduzir o livro e seu conteúdo a um fluxo de informações digitais e clicáveis ad nauseam; o que nós produzimos, compartilhamos e vendemos é antes de tudo um objeto social, político e poético. Mesmo em seu aspecto mais modesto, de divertimento ou de prazer, fazemos questão de que permaneça cercado por seres humanos. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Rejeitamos claramente o modelo de sociedade que nos está sendo proposto, alguma parte entre a tela e a grande superfície, com seus bip-bips, seus néons e seus fones crepitantes, e que tende a conquistar todas as profissões. Pois, pensando na atualidade das profissões, nós pensamos igualmente em todos que vivem situações similares demais para serem anedóticas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Dessa maneira, os médicos segmentam seus atos para melhor contabilizar, os trabalhadores se esgotam preenchendo tabelas de avaliação, os carpinteiros já não podem plantar um prego que não seja ordenado por um computador, os pastores são convocados a equipar suas ovelhas com chips eletrônicos, os mecânicos obedecem às suas ferramentas informatizadas e a mochila eletrônica nas escolas é para daqui a pouco. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A lista é tão longa que é preciso se agrupar para parar esta máquina cega de progresso. Em vez de esperar a próxima medida europeia de rigor ou o enésimo ataque do ministério da cultura contra a cadeia de profissões do livro, preferimos nos organizar desde já.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por exemplo, encontrando alternativas, criando cooperativas mútuas de compra, unindo-nos por melhores condições salariais, ou ainda inventando lugares e práticas que convêm melhor à nossa visão de mundo e à sociedade em que desejamos viver.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">É justamente porque tomamos a medida do desastre atual que estamos otimistas: tudo está para ser construído. Antes de mais nada, queremos parar de jogar eternamente a culpa uns nos outros e cortar na raiz a resignação e o derrotismo ambientes. Lançamos então um chamado a todos aqueles e todas aquelas que se sentem interessados a se encontrar com o objetivo de compartilhar nossas dificuldades e necessidades, nossos desejos e projetos. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Fonte: <a href="http://italwaysrains.tumblr.com/post/31066842844/o-livro-e-a-armadilha-da-mercadorizacao">http://italwaysrains.tumblr.com/post/31066842844/o-livro-e-a-armadilha-da-mercadorizacao</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Versão original em <a href="http://les451.noblogs.org/">http://les451.noblogs.org/</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><script type="text/javascript"><!-- descrColor="000099";titleColor="CD0000";urlColor="CCCC00";borderColor="FFFFFF";bgColor="FFFFFF";altColor="FFFFFF";coddisplaysupplier="6d15faae38634fcab73ab5a2741a9843";formatId="9";numads="4";deslabel="rodapé";type="1"; --></script><script type="text/javascript" src="http://adrequisitor-af.lp.uol.com.br/uolaf.js"></script> Leandro Marciohttps://plus.google.com/101175625277493088531noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34246343.post-47289521292021973842012-09-01T05:38:00.001+14:002012-09-01T05:38:30.231+14:003ADFZPA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-RsDRAAuw1aY/UEDWTDTi_fI/AAAAAAAABCQ/AhxR-yeLlKI/s1600/cartaz_para_net.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="http://1.bp.blogspot.com/-RsDRAAuw1aY/UEDWTDTi_fI/AAAAAAAABCQ/AhxR-yeLlKI/s640/cartaz_para_net.jpg" width="452" /></a></div><br />Foi lançada a convocatória para o <b>3º Anuário de Fanzines, Zines e Publicações Alternativas (3ADFZPA)</b> dos mecenas do underground, a <a href="http://ugrapress.wordpress.com/" target="_blank">Ugra Pres</a>s. Desta vez estendemos o convite aos editores de todos os países ibero-americanos.<br /><br />Você pode ver mais informações sobre o projeto nesse link: <a href="http://ugrapress.wordpress.com/3adfzpa-3o-anuario-de-fanzines-zines-e-publicacoes-alternativas/">http://ugrapress.wordpress.com/3adfzpa-3o-anuario-de-fanzines-zines-e-publicacoes-alternativas/</a><br /><br />A participação é totalmente gratuita. Se você tem um zine, uma revista ou qualquer outro tipo de publicação alternativa impressa, está mais do que <b>obrigado</b> a participar.<br /><br />Leandro Marciohttps://plus.google.com/101175625277493088531noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34246343.post-28071855286880911282012-08-29T19:29:00.001+14:002012-08-29T19:32:56.555+14:00Adaptar para diminuir?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-kW-M9TW4R90/UD2oLTjx8hI/AAAAAAAABBM/k_Ivc4Ry8kk/s1600/bonfim.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="http://1.bp.blogspot.com/-kW-M9TW4R90/UD2oLTjx8hI/AAAAAAAABBM/k_Ivc4Ry8kk/s400/bonfim.jpg" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Li hoje no caderno cultural da Folha um crítico lamentando a adaptação de "New York, New York", musical de Martin Scorcese, para os palcos brasileiros. Ele diz que apenas por um pouco não se perde a essência dramática do texto graças ao abuso de situações totalmente caricatas, graças ao "vício dos palcos brasileiros achar que o público deve rir o tempo todo".</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Compartilhando imensamente desse ponto de vista, para mim sempre foi um enigma entender o porquê de adaptações de obras antigas eram, quando aqui encenadas, sofrerem uma modernização que as nivelava ao nível de um Zorra Total (tive essa sensação pela primeira vez ao ver Filosofia na Alcova, no Espaço Satyros, anos atrás, e foi decepcionante). Nunca consegui uma resposta satisfatória, até ler o texto que reproduzo abaixo, publicado originalmente no <a href="http://euterpe.blog.br/interpretacao-e-interpretes/a-malicia-do-desejo-erotico-e-sua-nova-vitima-o-mito" target="_blank">Euterpe</a>, um excelente blog que se dedica à música clássica. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Certamente, esse texto interessará aos que não conseguem entender as razões que motivam certas opções "atualizadoras" em peças e montagens antigas - que não são uma exclusividade dos palcos nacionais, diga-se. A quem puder (e quiser) compreender, o texto a seguir falará claramente.<br /></div><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: large;"><br /></span></b><b><span style="font-size: large;">A malícia do desejo erótico e sua nova vítima: o mito</span></b></div><div style="text-align: justify;">Ontem o Theatro Municipal de São Paulo apresentou a última récita da montagem de Götterdämmerung, “O Crepúsculo dos Deuses” de Wagner. A produção com regência da Orquestra Sinfônica Municipal de Luiz Fernando Malheiro e direção de André Heller-Lopes é a realização da primeira montagem do Anel do Nibelungo criada por uma produção totalmente brasileira, o que assume uma ambiciosa prova de fogo para o que podemos fazer de melhor à altura do projeto colossal de Wagner. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mas não pretendo resenhar a produção da ópera – que já foi um sucesso merecido, deixou a todos otimistas e encerrou suas apresentações ontem. Pretendo comentar uma das escolhas da concepção da montagem, chamada de “Anel Brasileiro” não apenas por ter produtores brasileiros, mas também pelas referências cênicas que transpuseram vários elementos da ópera da sua atemporalidade mítica para a cultura e o folclore brasileiros.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Antes que isso pareça problemático em si, é preciso observar que esse tipo de transposição pode ser feito com coerência e não é incomum hoje em dia, embora não corresponda ao nosso desejo purista que gostaria mesmo é de assistir a uma produção tradicional de Wagner em Bayreuth, e embora represente mais um insight alternativo que, no Brasil, já é uma tendência que supera totalmente a existência de leituras tradicionais.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Concepção</b></div><div style="text-align: justify;">Mas entre bois bumbás, iaôs e fitas do Senhor do Bonfim, uma leitura que a princípio parecia desempenhar uma escolha feita dentro das margens do libreto terminou se mostrando profundamente radical: logo no primeiro ato, depois de se despedir apaixonadamente de Brünnhilde para partir em busca dos feitos heroicos do dia, Siegfried chega ao palácio dos Gibichungen recebido por Gunther e, bem, “rola um clima”. Não apenas Gunther já era retratado como um filho de militares aburguesado e afeminado, mas o seu encontro com Siegfried assumiu uma tensão homoerótica que interferia na própria legenda do libreto projetada acima do palco – após o pacto de amizade estabelecido entre ambos, as referências de Siegfried a Gunther como irmão eram colocadas entre aspas (qual a surpresa em saber que foi o próprio diretor quem traduziu as legendas?). </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Insisto em descrever essa tensão pra que não dependamos de supostas sutilezas: frases de Gunther a Siegfried como “wohin du schreitest, was du ersiehst, das achte nun dein eigen: dein ist mein Erbe, Land und Leut’ - hilf, mein Leib, meinem Eide! Mich selbst geb ich zum Mann” (“por onde caminhares, o que quer que vejas, considera agora teu: tua é minha herança, terra e gente – penhora, meu corpo, meu juramento! A mim mesmo, como homem, ofereço a ti”), ao invés do penhor das posses e da própria vida em função de uma palavra de lealdade e de aliança, ganharam na encenação dos cantores o tom de um processo de sedução. No fim do ato não deu outra: após Siegfried assumir a aparência de Gunther com o uso do Tarnhelm e tomar a própria Brünnhilde como sua noiva (lhe estapeando e tudo!), Gunther aparece em cena (o que não é indicado pelo libreto) e, depois de um sestroso sinal para que Siegfried não diga mais nada, ambos …se beijam! (as luzes se apagam na hora h, mas o recado está dado). Não seria preciso mais nada, mas no segundo ato, quando Brünnhilde está de um lado sofrendo pela traição de Siegfried, Gunther aparece de outro sofrendo do mesmo amor gorado…</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>E…?</b></div><div style="text-align: justify;">Não é inédita a inclinação a enxergar desejo e paixão nas entrelinhas de narrativas que não dizem nada a respeito disso, mas mais do que um Gunther homossexual e mais do que qualquer outra liberdade da concepção do diretor, esta escolha de um caso entre Siegfried e Gunther acarreta consequências drásticas e ao mesmo tempo muito reveladoras para o significado de todo o ciclo de Wagner, o que, após seis apresentações desde o dia 12, eu não encontrei sendo discutido pela crítica. Vejam que, embora possa parecer um desatino feito meramente para um efeito transgressor que nessa condição até mesmo se auto indulgencie de qualquer comentário, a profunda incompreensão que essa escolha revela envolve um significado elementar na obra de Wagner que vale ser comentado. Além disso, nada sendo por acaso, essa escolha pode ter explicação em uma tendência muitíssimo marcante, quem diria, na própria cultura brasileira, o que também merece ser observado. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Um Siegfried ordinário</b> </div><div style="text-align: justify;">A oferta de amizade (“sei mein Freund”) leal entre Gunther e Siegfried, que na produção brasileira se transformou em tensão erótica, acontece antes de Siegfried ser ludibriado pelo efeito da poção que o leva a trair o amor de Brünnhilde. Isto significa que esse caso entre ambos não pode ser influenciado pela poção, e que Siegfried simplesmente decidiu “se oferecer como homem” para Gunther porque estava com vontade. Mas isso nos dá um Siegfried que não é, como dirá Brünnhilde, “der Reinste” (“o mais puro”), nem que “lautrer als er liebte kein andrer” (“mais puro que ele nenhum outro amou”). Não por acaso, na montagem brasileira esse é um Siegfried que aparece agindo de maneira vulgar, que estapeia Brünnhilde – embora se guarde de deitar com ela, preservando o pacto de sangue jurado com Gunther -, que agarra excitado as ninfas do Reno – embora faça menção à atual fidelidade a Gutrune na sua reflexão sobre o comportamento sedutor das mulheres -, e que, menos do que heroico, é ridiculamente ameaçado por essas mesmas ninfas, que o acuam como tigresas (?) – embora ele tenha matado um dragão sem ter aprendido a lição do medo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A função heroica dada a Siegfried pelo mito é desconstruída em muitos aspectos, de onde não há remorso em transformar o seu pacto de sangue com Gunther – uma imagem medieval tradicional – em um concerto de fundo amoroso. Mas duas coisas essenciais em Wagner saem prejudicadas: 1) o status do herói para o mito; e 2) o passo tomado por Brünnhilde na expiação dos pecados desencadeados pelo desejo de poder que vitimou um herói puro. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Quanto ao status do herói para o mito, a teoria a respeito é abundante e se ilude quem pensa que o herói é uma idealização que achata as complexidades da realidade. Realismo puro e simples que justifique o retrato de banalidades não tem nada de complexo, e aniquila a função arquetípica do mito de transcender a própria realidade – pois não há nada melhor no mundo ficcional para se compreender as consequências morais de um ato do que o impulso de um herói. Mas se Siegfried é ordinário – ou seja, não sacrifica inclinações levianas em favor de uma dimensão de sentido superior para as suas ações -, que sentido há na atenção que ele ganha dos próprios deuses como um herói livre diante do destino, ou no seu brinde fiel ao amor de Brünnhilde antes de tomar a poção que o ludibriaria, se pouco antes ele simplesmente se oferecia para Gunther e depois seria seu amante? </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Quanto ao passo expiatório tomado por Brünnhilde, o ciclo de violência e de vingança desencadeado pela maldição do anel só é interrompido pela oposição por excelência à renúncia-do-amor que a originou. E como se opor a essa renúncia? Aceitando o amor e renunciando ao poder, como o faz Brünnhilde na sua autoimolação. Este gesto só alcança o status verdadeiro de uma expiação porque envolveu a queda de um justo sacrificado: Siegfried, o herói puro e livre, que não é ajudado pelos deuses, é enganado e corrompido em sua dignidade por conta de sua inocência, presa fácil dos aproveitadores. E Brünnhilde, tomando posse do conhecimento desse processo insustentável de violência, vem ritualizar o seu desfecho na redenção pelo amor que nasceu com Siegfried (o que na música é mostrado literalmente pela aparição do leitmotif chamado “Redenção pelo amor”). Se Siegfried não for puro, qual pureza foi sacrificada na redenção pelo amor nesse processo?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Por que fazer isso? </b></div><div style="text-align: justify;">A malícia que troca o mito de Wagner por um suposto realismo em que tudo é sujeito a deixar de ser o que seria para se transformar em pura hipocrisia não é uma leitura isolada. É na verdade fruto de uma mentalidade tão arraigada que nós mesmos a essa altura não temos a menor dificuldade em assumirmos uma desconfiança tão absoluta quanto possível em nome de um conhecimento mais verdadeiro. O problema é quando isso nos leva a um relativismo estéril, em que sem saber responder ao sentido daquilo de que aprendemos a desconfiar indiscriminadamente – sem saber justificar o sentido da existência de um herói, por exemplo -, nós ficamos sem nada.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Sem a capacidade de se justificar o sentido de qualquer coisa, tudo o que resta no mundo se torna disfarce: a única realidade verdadeira, desvelado todo o fingimento, torna-se facilmente reduzida a desejo e a egoísmo, o que não dá espaço para a sinceridade senão na “maldade” desse desajuste de pessoas convivendo, em última instância, apenas por interesse. É claro que, como todo relativismo, este cai na contradição de apenas se firmar como visão de mundo caso receba um privilégio incompatível com tudo o mais que é relativizado – quer dizer, assume-se convictamente o princípio de se relativizar a tudo, menos a posição de onde essa crença é fundada! (a consequência não seria também esta perder o valor que reivindica?). Mas essa postura se torna significativa quando arriscamos vê-la como um fruto de diferentes raízes do nosso tempo: niilismo, pós-modernidade, materialismo, existencialismo sartreano, não faltam apostas e todas devolvem alguma identificação com o ponto caricatural que esse extremo alcança. Pensando em nossa cultura, lembro de Paulo Prado rastreando na luxúria, na cobiça e na melancolia da colonização brasileira os seus traços psicológicos formadores. Seja como for, as palavras do próprio diretor André Heller-Lopes e suas contradições com a prática parecem assumir as consequências: ”Nada do original foi mudado, nós respeitamos a tradição. No entanto, tudo é visto a partir dos olhos da cultura brasileira”.</div><div style="text-align: justify;"><i><br /></i></div><div style="text-align: justify;"><i>Publicado originalmente em <a href="http://euterpe.blog.br/interpretacao-e-interpretes/a-malicia-do-desejo-erotico-e-sua-nova-vitima-o-mito">http://euterpe.blog.br/interpretacao-e-interpretes/a-malicia-do-desejo-erotico-e-sua-nova-vitima-o-mito</a></i></div><br />Leandro Marciohttps://plus.google.com/101175625277493088531noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34246343.post-7139212219227985802012-08-29T18:55:00.002+14:002012-08-29T19:33:11.616+14:00Livros insignificantes: resenha de "Devastação", de René Barvajel<div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-dvuaw-_YB84/UD2d-Pq16aI/AAAAAAAABAY/BiaEJwkGNLM/s1600/devasta%C3%A7%C3%A3o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-dvuaw-_YB84/UD2d-Pq16aI/AAAAAAAABAY/BiaEJwkGNLM/s1600/devasta%C3%A7%C3%A3o.jpg" /></a></div><br />Sebos são grandes depósitos de lixo cultural. Isso não significa que tudo o que neles encontramos é ruim - pelo contrário, encontrei alguns dos meus livros mais significativos nesses apaixonantes lugares. Chamo-os assim por neles ficar estocado tudo o que nossa cultura considerou <i>supérfluo: </i>vasculhe o leitor as prateleiras de literatura de um sebo e, entre autores assaz conhecidos, serão encontrados incontáveis nomes que nunca figurarão nos livros escolares, nas revistas especializadas, nos debates acalorados da boêmia letrada de uma cidade qualquer. E isso assim será para todo o sempre, e não apenas na literatura: música, cinema, poesia, todas as disciplinas. A cultura forma o seu cânone através de um processo seletivo que condena ao anonimato das prateleiras dos sebos tudo aquilo que ela considerou supérfluo.</div><div><div style="text-align: justify;"><br /></div></div><div><div style="text-align: justify;">Um dia propus a mim mesmo um peripatético roteiro pelos sebos do gloriosamente imundo centro velho de São Paulo. Ali há muitos deles, concentrados entre o espaço que vai da Praça da Sé até a República. O único objetivo em mente era vasculhar, justamente, as prateleiras mais esquecidas de literatura e, no lixo supérfluo ali encontrado, quem sabe descobrir algo que fosse curioso/desconcertante/enigmático. Tendo como pressuposto que as escolhas das gerações anteriores depuraram a imensa produção literária - depuração esta que foi um processo coletivo envolvendo os modismos do momento, a análise dos críticos, as resenhas nos jornais, a escola, o departamento de publicidade das editoras e (impossível não considerar) uma certa dose de acaso - a minha busca estava repleta de dificuldades. Diante de meus olhos, centenas de livros dos quais nunca ouvi falar, legiões de autores que sequer sabia de onde eram. </div></div><div><div style="text-align: justify;"><br /></div></div><div><div style="text-align: justify;">Graças a tal andança, surgiu a idéia de uma série de posts (sem periodicidade, como sempre) sobre <b>livros que são insignificantes</b>. Livros que ninguém comenta, de autores que ninguém cita, que nunca virarão estampas de camisetas como aquelas do Bukowski, que palermas utilizam na esperança (perdida) de mascarar a própria ignorância. Mas mesmo que existissem camisetas desses autores supérfluos, não importaria absolutamente nada porque, afinal, nunca ninguém se importou com eles - e talvez exista muitos bons motivos para isso.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ok, introdução feita. Agora, a resenha sobre o primeiro livro da série.<br /></div><div style="text-align: justify;"><br />"Devastação (ou a volta à Natureza)" é um livro do francês René Barjavel. Lançado em 1943 com o título "Ravage", foi editado aqui no Brasil pela lendária Círculo do Livro em 1976 (as capas dessa editora eram sempre geniais, e até hoje exalam uma cafonice que me encanta). Encontrei-o em um sebo bem ruim ali na avenida São João, perto do Rei do Mate. O título logo me despertou a atenção; a partir dele era fácil imaginar o que o livro apresentaria: explosões, queda, ruína, cenários apocalípticos, entropia anticivilização, etc. Por mim estava OK (sou daqueles que esperam ansiosamente a estréia de filmes hollywoodianos sobre catástrofes climáticas, cometas que colidem com a Terra, etc), ainda mais pela bagatela de 4 reais.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Cheguei em casa e fui na Wikipedia procurar mais informações sobre o autor. Eis o que encontrei por lá:</div><blockquote class="tr_bq"><div style="background-color: white; font-family: sans-serif; font-size: 13px; line-height: 19.200000762939453px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.4em;"><div style="text-align: justify;"><b>René Barjavel</b> (January 24, 1911 – November 24, 1985) was a <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/France" style="background-image: none; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; color: #0b0080; text-decoration: none;" title="France">French</a> author, journalist and critic who may have been the first to think of the <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Grandfather_paradox" style="background-image: none; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; color: #0b0080; text-decoration: none;" title="Grandfather paradox">grandfather paradox</a> in <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Time_travel" style="background-image: none; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; color: #0b0080; text-decoration: none;" title="Time travel">time travel</a>. He was born in <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Nyons" style="background-image: none; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; color: #0b0080; text-decoration: none;" title="Nyons">Nyons</a>, a town in the <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Dr%C3%B4me" style="background-image: none; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; color: #0b0080; text-decoration: none;" title="Drôme">Drôme</a> department in southeastern France. He is best known as a <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Science_fiction" style="background-image: none; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; color: #0b0080; text-decoration: none;" title="Science fiction">science fiction</a> author, whose work often involved the fall of civilisation due to<a class="mw-redirect" href="http://en.wikipedia.org/wiki/Technocratic" style="background-image: none; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; color: #0b0080; text-decoration: none;" title="Technocratic">technocratic</a> hubris and the madness of war, but who also favoured themes emphasising the durability of love.</div></div><div style="background-color: white; font-family: sans-serif; font-size: 13px; line-height: 19.200000762939453px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.4em;"><div style="text-align: justify;">René Barjavel wrote several novels with these themes, such as <i><a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Ravage_(novel)" style="background-image: none; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; color: #0b0080; text-decoration: none;" title="Ravage (novel)">Ravage</a></i> (translated as <i>Ashes, ashes</i>), <i>Le Grand Secret</i>, <i><a class="mw-redirect" href="http://en.wikipedia.org/wiki/La_Nuit_des_temps" style="background-image: none; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; color: #0b0080; text-decoration: none;" title="La Nuit des temps">La Nuit des temps</a></i> (translated as <i>The Ice People</i>), and <i><a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Une_rose_au_paradis" style="background-image: none; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; color: #0b0080; text-decoration: none;" title="Une rose au paradis">Une rose au paradis</a></i>. His writing is poetic, dreamy and sometimes philosophical. Some of his works have their roots in an empirical and poetic questioning of the <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Existence_of_God" style="background-image: none; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; color: #0b0080; text-decoration: none;" title="Existence of God">existence of God</a>(notably <i>La Faim du tigre</i>). He was also interested in the environmental heritage which we leave to future generations. Whilst his works are rarely taught in French schools, his books are very popular in France.</div></div></blockquote><div style="text-align: justify;">Bom, já tinha uma idéia, ainda que meramente protocolar, sobre o livro que tinha em minhas mãos. E por ser o primeiro livro dessa série, creio que tive muita sorte, pois em "Devastação" encontrei passagens dotadas de uma beleza muito específica, que é a de descrever catástrofes. Descrições estas que sempre são acompanhadas de um discurso extremamente crítico em relação ao mito do progresso e, mais do que isso, à civilização como um todo. Hoje isso pode ser familiar a qualquer um que se interesse por temas filosóficos e sociais: até mesmo em jornais diários é possível encontrar textos que discutem os limites estruturais da civilização ocidental e os impactos indubitavelmente destrutivos que o nosso modo de vida causa ao planeta. Porém, em 1943, quando o livro foi lançado, acredito que tal discurso não era algo assim tão popular (um olhar desconfiado perante a sociedade capitalista e seus caminhos obviamente já existia desde o século XIX, mas entre criticar o capitalismo até condenar a <i>civilização</i> há um passo que acredito ser gigantesco). Não sei dizer se o romance gerou algum impacto no momento em que foi lançado, até mesmo porque o mundo girava em uma roda de fogo naqueles anos e prestar atenção a livros soaria como uma bobagem. Mas como Barjavel aparece, pelo menos nos links que visitei, como um autor de ficção científica, deve ter sido de imediato relacionado àquele tipo de literatura que se lê "para passar o tempo", como <i>literatura de entretenimento </i>para quem gosta de robôs, demônios, viagens no espaço e outras bobagens nessa linha. Imediatamente assim relacionado a esse tipo de literatura, o potencial efeito questionador do livro ficou, assim, um tanto quanto obscurecido.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-oukDElLltNk/UD2fa2KpTKI/AAAAAAAABAg/wNAG7eJjz2U/s1600/sebo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="288" src="http://3.bp.blogspot.com/-oukDElLltNk/UD2fa2KpTKI/AAAAAAAABAg/wNAG7eJjz2U/s400/sebo.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">o sebo onde comprei o livro, ali na Avenida São João, próximo ao Largo do Paiçandu.</td></tr></tbody></table>Resumindo o livro da maneira mais simples possível: estamos no ano 2052 e o mundo alcançou um nível tal de desenvolvimento tecnológico que viagens intercontinentais podem ser realizadas através de trens velocíssimos; carnes de todos os tipos são produzidas em laboratório, e a matança de animais não é mais necessária; telefones projetam imagens tridimensionais dos falantes, como se fossem reais; os carros voam; as cidades crescem sobre outras cidades, e vemos uma Paris (cidade onde se passa o romance) como uma imensa megalópole que guarda a antiguada arquitetura do século XX debaixo das estruturas da Cidade Elevada, posicionada vertiginosamente a mais de 500 andares do solo; estufas enormes mantém a produção de vegetais e frutas de modo constante: não há mais intervalos das colheitas, o solo produz o tempo todo sem a necessidade dos antiquados ciclos naturais; até mesmo a morte parece ter sido vencida: os cemitérios foram extintos, e em todas as casas existe uma espécie de mortuário onde os entes que se foram permanecem empalhados, em dimensões reduzidas, geração após geração - revitalizando o antiqüíssimo culto ao <i>gens</i> em uma roupagem sofisticada. Nesse mundo de maravilhas tecnológicas sem precedentes, subitamente a energia elétrica perde sua propriedade de se transmitir por fibras metálicas. Sem eletricidade, a vida torna-se impossível, iniciam-se distúrbios e saques, a barbárie irrompe - é desse ponto crítico que a saga dos personagens François e Blanchete começa, na busca por um único objetivo: fugir da cidade enlouquecida pela destruição e ir rumo ao campo, onde estariam a salvo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Um enredo simples, banal ao extremo, e até mesmo bastante previsível. Entretanto, ele convence justamente por isso: a vida atual é impossível sem eletricidade. Imaginemos que, de uma hora para outra, acabasse a energia em toda uma cidade. No começo, as pessoas esperariam, resignadas que são, com suas velas a postos. Mas imaginemos que a espera se alongasse por um dia inteiro, e depois por outro, e por muitos outros mais até perder-se a conta: Barvajel imaginou esse mundo, e ao fazer isso tocou no ponto mais frágil da civilização, no elemento invisível que funciona como o sangue desse complexo organismo de relações sociais/políticas/econômicas que se instaurou mundialmente e determina o modo de vida de bilhões de seres - esse sangue invisível chamado Eletricidade. Citando um trecho do livro:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Mas a eletricidade não desapareceu, meu jovem amigo. Se ela tivesse desaparecido, nós não existiríamos mais, teríamos retornado ao nada, nós e o universo. Nós, esta mesa, este seixo, tudo isso não são senão combinações maravilhosas de força. A matéria e a energia são uma única coisa. Nada pode desaparecer, ou tudo desaparecerá junto. O que se passa é uma mudança nas manifestações do fluído elétrico. Uma mudança que nos aborrece, que demoliu todo o edifício da ciência que construímos, mas que sem dúvida não tem nem mais nem menos importância para o universo que a batida da asa de uma borboleta. (...) Capricho da Natureza, advertência de Deus? Vivemos num universo que acreditamos imutável porque sempre o vimos obedecer às mesmas leis, mas nada impede que tudo possa bruscamente começar a mudar, que o açúcar se torne amargo, o chumbo leve, e que a pedra voe ao invés de cair quando a mão o solte. Não somos nada, meu jovem amigo, não somos nada...</span></i></blockquote><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">É o tema anticivilizacional que se faz presente, a desconfiança perante os rumos do "progresso" infinito mediante os esforços da Razão. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Barvajel também antecipa/flerta com a crítica foucaultiana sobre a biopolítica, isto é, sobre como os poderes instituem práticas e modalidades de controle dos corpos. Abaixo o trecho:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;"><i>Em 2026, uma vaga de nervosismo e de pessimismo ameaçou a nação e provocou uma recrudescência enorme de divórcios e suicídios. Avisado pelo Grande Conselho Médico, o governo lançou um decreto urgente. Toda a população passou pela cadeira de choque. (...) O resultado foi tão convincente que uma lei instituiu um exame mental anual obrigatório para todo mundo (...) Os que eram simplesmente nervosos, ansiosos, teimosos, afetados, gagos, tímidos, os que ficavam ruborizados por nada, e os que dormiam em pé, os sem memória, os faladores noturnos, os distraídos, os comedores de mosca, os rangedores de dentes, os medrosos, os pretensiosos, os tagarelas, os taciturnos, os boquiabertos, os excitados, os mudos, os coléricos, os contritos, em poucas palavras, os desarranjados, recebiam apenas uma pequena sacudidela que os repunha no caminho certo do homem médio de que eles tendiam a se desviar.</i></blockquote><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O que motivou, afinal, o fim da eletricidade? Isso não fica claro no livro: não se sabe se foi um capricho da Natureza, ou o prometido ataque de uma arma secreta do "Imperador Negro" (um déspota de origem africana que governava a América do Sul: esses franceses não perderiam a chance de estigmatizar mais uma vez o continente...). Isso não compromete a história, mas chega-se ao final com a enorme interrogação latejando na mente. Ou talvez fosse esse o objetivo exato de Barvajel: as catástrofes acontecem <i>simplesmente porque acontecem, </i>sem nenhuma razão aparente, sem nenhuma explicação a amenizar nossas dores. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Catástrofe que não foi sentida por todos igualmente: após um tempo indeterminado fugindo de uma Paris transformada em cenário de violência e fome, o grupo de peregrinos finalmente alcança um povoado rural. Ao encontrar um velho camponês, François, o líder do grupo, os apresenta como sendo "os sobreviventes da catástrofe":</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><blockquote class="tr_bq"><div style="text-align: justify;"><i>O velho levantou em direção a François seu rosto negro de sujeira e de rugas, abriu a boca, pigarreou, fez um grande esforço e rangeu:</i></div><div style="text-align: justify;"><i>- Que catástrofe?</i></div></blockquote><div style="text-align: justify;">Fica clara a mensagem: o mundo que terminara era o mundo da Cidade, o mundo da civilização. O mundo rural, a esfera da Cultura, pouco ou nada sentiu o abalo que aqueles citadinos famintos e machucados deixaram para trás. Lentamente, vão se adaptando ao modo de vida encontrado na região rural, que continuou sua marcha de modo muito mais tranquilo e sem os sobressaltos bárbaros que destruiram Paris (e possivelmente todas as demais cidades do mundo, se é que foi um fenômeno global - a incerteza domina o livro). Nesse mundo rural, gradualmente, vemos o autor caminhando agora em largas descrições, cuja temporalidade se acelera: anos se passam em apenas duas, três páginas. Os eventos, narrados com maior velocidade, mostram como o mundo rural foi se adaptando à nova realidade sem eletricidade; de como pequenas propriedades, por necessidade de garantirem a própria segurança (havia grupos saqueadores, apesar de em menor quantidade quando comparado a Paris), foram se aglutinando em cooperativas; de como essas cooperativas foram aos poucos evoluindo para comunidades mais fortificadas, como pequenos castelos; e de como entre elas existia um pacto de honra e reciprocidade - em suma, o mundo pós-eletricidade vai ganhando contornos cada vez mais feudais. A figura do chefe, cristalizada em François, ganha contornos heróicos e patriarcais, a ponto de que, por necessidade de repovoarem o mundo, é instituída a poligamia (para os homens); novas comunidades surgem, todas sob o mesmo espírito de manter-se fixadas a uma terra, aos costumes frugais, completamente hostis ao mundo da técnica e do progresso, até que nas novas gerações as antigas máquinas se transformam em carcaças de um passado que felizmente jamais retornará.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Convenhamos que se trata de um final um tanto quanto forçado, e que parece ter sido encaixado à narrativa de modo até mesmo arbitrário. Essa sensação de estranhamento deve-se, justamente, à mudança de ritmo que o romance adota em seu final, onde ao grande nível de detalhamento presente na primeira e na segunda partes (a vida em Paris e depois a fuga para o campo) adota-se na terceira e última uma descrição <i>en passant </i>que recobre quase sessenta anos. Além dessa questão formal, a aposta que Barvajel faz de um retorno a um modo de vida feudal não convence nem mesmo o medievalista mais entusiasta em reviver os gloriosos anos da vassalagem. Em suma: trata-se de um final decepcionante, apostando em um otimismo sem reservas que contrasta terrivelmente com o quadro de descrença que o autor pinta sobre a civilização nas primeiras partes do livro, e que termina por tornar opacas as excelentes descrições dos acontecimentos que transformaram Paris em uma cidade completamente enlouquecida após o fim abrupto da eletricidade.<br /><br /></div></div>Leandro Marciohttps://plus.google.com/101175625277493088531noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34246343.post-81588804688464301572012-08-26T11:19:00.001+14:002012-08-26T11:19:34.912+14:00"I, Pet Goat II" - o vídeo e sua simbologia<iframe allowfullscreen="allowfullscreen" frameborder="0" height="276" src="http://www.youtube.com/embed/f_OawJA68jI" width="491"></iframe> <br /><div style="text-align: justify;">Conheci esse vídeo hoje através de um amigo (obrigado!), e já o assisti incontáveis vezes. E cada vez que o assisto, descubro novos elementos. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">De longe, é um dos vídeos mais interessantes que já assisti em toda a minha vida. Só a a sua extrema carga simbólica (que ainda não consegui apreender totalmente, e tenho a modéstia de reconhecer que dificilmente conseguirei) renderia um volumoso tomo de análises. É inegável a força que tais símbolos conservam, a ponto de não ter nenhuma fala no vídeo, e ao mesmo tempo ele ser capaz de comunicar muito mais coisas em seus breves de sete minutos do que a tediosa verborragia de muitas pessoas por aí. Fez-me refletir que calar, mais do que falar, é o que importa nesse mundo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Uma obra de arte que mostra como os sofisticadíssimos recursos de animação podem ser utilizados para fins muito mais profundos do que na produção de <i>blockbusters </i>para crianças e adultos infantilóides. Abaixo, traduzi um artigo publicado no site The Vigilant Citizen, que aborda alguns aspectos do simbolismo de "I, Pet Goat II". Recomendo, entretanto, assistir ao vídeo algumas boas vezes antes de lê-lo - afinal, o grande encanto é a sensação de perplexidade e fascínio que os símbolos suscitarão. Valerá, e muito, cada segundo de sua atenção.</div><br /><br /><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b>O simbolismo esotérico do vídeo "I, Pet Goat II" </b></span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">“I, Pet Goat II” é uma animação carregada com mensagens silenciosas e simbolismo esotérico. O filme não tem diálogos e cada símbolo conta uma parte de uma história que abrange os campos da história, da política, conspirações ocultas e espiritualidade. Vamos olhar para o significado esotérico por trás da sensação viral "I, Pet Goat II". </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Produzido pela produtora canadense <a href="http://www.heliofant.com/index.html" target="_blank">Heliofant</a>, "I, Pet Goat II" é uma animação que rapidamente se tornou viral através da internet. Elogiado por suas proezas visuais e seu fantástico imaginário, o vídeo deixou muitos confusos sobre o significado de seu simbolismo. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Política, conspirações e operações de manipulação por falsas bandeiras são misturados com espiritualidade esotérica e simbolismo oculto de maneira grandiosa e hipnotizante.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Após assistir ao vídeo, muitos podem dizer algo como "O que diabos eu acabei de assistir?". A história é um pouco não-linear e há muitos elementos enigmáticos do filme. Esse artigo não vai decodificar totalmente cada quadro do vídeo, mas muitas das mensagens são facilmente compreensíveis devido ao seu alto nível de simbolismo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em geral, o filme parece ser sobre o clima político e social da década passada - com presidentes fantoches, terrorismo e estratégias de controle mental. Então, através do surgimento de uma figura similar a Cristo, deixamos toda a tristeza para trás para entrar uma nova era de sol. Em suma, a história é sobre o triunfo da iluminação espiritual contra as forças das trevas. Vamos olhar para o filme e em alguns de seus muitos detalhes.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O vídeo começa com uma cena interessante: uma bode dentro de uma caixa, no que parece ser algum tipo de campo de concentração. O bode tem um código de barras em sua cabeça com o número "666" debaixo dela. Se "I, Pet Goat" é sobre a liberação das forças das trevas, esta primeira cena parece representar exatamente o oposto. Será que o bode representa aqueles que foram "encaixotados", sofrendo uma lavagem cerebral pelo sistema corrupto? O uso do pronome "eu" no título implica que o cabra pode ser, de fato, o próprio espectador.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>O Puppet Show que é a política</b></div><div style="text-align: justify;">Na primeira parte do vídeo, um mestre das marionetes escondido controla George "Dubya" Bush dentro de uma sala de aula. Quando os aviões bateram no World Trade Center em setembro de 2001, Bush estava dentro de uma sala de aula fazendo uma leitura do livro "My Pet Goat" para as crianças. O chão quadriculado ao estilo de uma loja maçônica da sala de aula pode significar que esta farsa tinha um componente ritualístico para ele.</div><br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-Z0RSbA62KaI/UDk5hKZdBVI/AAAAAAAAA-M/ZQZHe3hiBTE/s1600/bush.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="225" src="http://3.bp.blogspot.com/-Z0RSbA62KaI/UDk5hKZdBVI/AAAAAAAAA-M/ZQZHe3hiBTE/s400/bush.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Bush dança, faz caretas assustadoras e diz coisas aleatórias para manter as massas sem pistas sobre a verdade. Acima de Bush há um gráfico interessante mostrando a evolução da humanidade a partir de peixes para macaco e depois ao homem segurando uma arma. O que é a etapa final da evolução? O homem iluminado, representado por um sol em torno de sua cabeça.</td></tr></tbody></table><br /><div style="text-align: justify;">Bush usa um chapéu de burro, este chapéu cônico que foi dado aos estudantes "mais lentos" para humilhá-los. Quando Bush se dá conta de que é um tolo, ele se transforma em Obama, um homem encantador e distinto usando um boné de graduação. Ele começa agradável e amável, mas depois começa a rir o público. Enquanto ele parecia ser a resposta e contraponto perfeitos para a idiotice da era Bush, o fato é que ele é simplesmente um outro fantoche controlado pelo mesmo mestre das marionetes, que permanece oculto.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Enquanto a maioria do público está totalmente alheio ao que está acontecendo, uma menina não está comprando isso.</div><br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-x3gceC844M4/UDk53yAji3I/AAAAAAAAA-U/4VP8GQPfXXE/s1600/menina.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="223" src="http://1.bp.blogspot.com/-x3gceC844M4/UDk53yAji3I/AAAAAAAAA-U/4VP8GQPfXXE/s400/menina.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Enquanto as massas parecem ser surdas, mudas e cegas (e contidas por arame farpado), esta menina percebe que "esta maçã não é dela e deixa-a cair". Obama se mostra preocupado com o despertar dessa menina. (Nota:a maçã é o símbolo do Pecado, e ao deixá-la cair de suas mãos, a menina está rejeitando o caminho do Mal - e tanto é que, da maçã, da pecaminosa maça, surge uma Flor de Lótus, símbolo oriental da Iluminação Espiritual. Esse símbolo retornará adiante.)</td></tr></tbody></table><br /><div style="text-align: justify;">Estamos, então, levado para o mundo frio de neve em volta da escola. Em uma parede, há uma pichação com uma mensagem importante por trás disso: na parede da escola há uma pichação dizendo "Salmo 23".</div><br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-022X8SPmERE/UDk6GpE1l8I/AAAAAAAAA-c/a20dctqro14/s1600/salmo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="223" src="http://3.bp.blogspot.com/-022X8SPmERE/UDk6GpE1l8I/AAAAAAAAA-c/a20dctqro14/s400/salmo.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O versículo bíblico que é referido pelo grafite parece prever a viagem telespectadores estão prestes a embarcar: "O Senhor é meu pastor, nada me faltará. Ele me faz repousar em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranqüilas, porque refrigera a minha alma. Ele me guia pelos caminhos corretos por amor do seu nome. Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte não temerei mal algum, porque tu estás comigo: a tua vara e o teu cajado me consolam. Você prepara uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos. Unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda. Certamente a sua bondade e misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor para sempre."</td></tr></tbody></table><br /><br /><div style="text-align: justify;"><b>Um mundo em decadência</b></div><div style="text-align: justify;">O mundo lá fora está escuro, frio e, literalmente, em decadência. É triste, corrupto e tudo está a tremer e ruir. Em um ponto, duas torres - clara alusão ao WTC - caem. Depois, aprendemos que foi um trabalho interno: Bin Laden está usando um crachá da CIA, insinuando para o fato de que ele era uma ferramenta usada pelo governo americano para avançar sua agenda. A lua crescente, um símbolo associado com o Islã, é invertida, que pode ser uma forma de dizer que tudo o que a Al-Qaeda faz é uma perversão e uma exploração do Islã.</div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-4rsEiuGiciA/UDk6dpiOCDI/AAAAAAAAA-k/C-rPE4K4BIc/s1600/bin+laden.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="222" src="http://2.bp.blogspot.com/-4rsEiuGiciA/UDk6dpiOCDI/AAAAAAAAA-k/C-rPE4K4BIc/s400/bin+laden.jpg" width="400" /></a></div><br />Enquanto vazamentos de óleo de todos os lugares, uma estrela de seis pontas aparece sob a Estátua da Liberdade, rebatizada pelos criadores do filme "A Dama da Servidão". É a estrela de seis pontas (ou Estrela de David) aparecendo sob a Senhora da Servidão uma forma de dizer que os EUA são altamente influenciados por Israel?<br /><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Enquanto o mundo está desmoronando, muitas instituições antigas desaparecem ou são destruídas.</div><br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-WJwNKLFJ8Ws/UDk62D04U2I/AAAAAAAAA-0/J6OXZQs74EE/s1600/mesquita.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="223" src="http://4.bp.blogspot.com/-WJwNKLFJ8Ws/UDk62D04U2I/AAAAAAAAA-0/J6OXZQs74EE/s400/mesquita.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Esta mesquita é destruído por caças</td></tr></tbody></table><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-WIviwVg3Miw/UDk60c234mI/AAAAAAAAA-s/BUd3w5FGY2g/s1600/latino.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="220" src="http://4.bp.blogspot.com/-WIviwVg3Miw/UDk60c234mI/AAAAAAAAA-s/BUd3w5FGY2g/s400/latino.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Esse trabalhador latino está afundando, junto com sua foice e o martelo - representando o desaparecimento do marxismo em países do Terceiro Mundo. No site oficial do Heliofant é dito: "Depois de anos de exploração econômica e da degradação ambiental, Juan" Pepito "tem uma sensação decididamente afundando."</td></tr></tbody></table><br /><br /><div style="text-align: justify;"><b>Controle das massas</b></div><div style="text-align: justify;">O mundo está sob o controle de um malvado feiticeiro chamado Drako. De acordo com os criadores do filme, Drako é: <i>"O Feiticeiro, a mão invisível e espírito de loucura buscando o controle cada vez maior através de trapaças, mentiras, venenos, bandeiras falsas, eventos, guerras e montanhas de leis e burocracia para desviar a energia dos habitantes da Terra. Ele teme a luz do dia como ele teme a própria vida, e opera nas sombras. Seu maior poder é o seu poder sobre a emissão da moeda."</i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Isso soa com o que chamamos de Illuminati? Sim, sim, sim.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Da mesma forma que os Illuminati procuram fazer lavagem cerebral em crianças desde o nascimento, Drako coloca suas garras nesse nascituro chamado Ludovic.</div><br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-QEIgYx-N2AI/UDk7YcLXcJI/AAAAAAAAA-8/dRTs5YxxJTg/s1600/feiticeiro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="223" src="http://2.bp.blogspot.com/-QEIgYx-N2AI/UDk7YcLXcJI/AAAAAAAAA-8/dRTs5YxxJTg/s400/feiticeiro.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Olho reptiliano Drako o espera o nascimento de Ludovic</td></tr></tbody></table><br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-Vkf7xESpfx0/UDk7eU1MbYI/AAAAAAAAA_E/LUaPCZpAN1k/s1600/ovo+%C3%B3rfico.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-Vkf7xESpfx0/UDk7eU1MbYI/AAAAAAAAA_E/LUaPCZpAN1k/s1600/ovo+%C3%B3rfico.jpg" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Na tradição esotérica, o símbolo do ovo de serpente entrelaçada é conhecido como o ovo órfico. Em suma, ela representa a semente latente de vida e do potencial infinito da criação.</td></tr></tbody></table><br />Quando o ovo é chocado e a criança nasce, Drako literalmente toma o controle de sua mente de uma forma assustadora e parasitária.<br /><br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-rJR9kuxAVSM/UDk7pNB76lI/AAAAAAAAA_M/3UClx2GVj_0/s1600/drako.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="221" src="http://3.bp.blogspot.com/-rJR9kuxAVSM/UDk7pNB76lI/AAAAAAAAA_M/3UClx2GVj_0/s400/drako.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Drako tem a pirâmide e "O Olho que tudo vê" encontrado na nota de dólar dos EUA em seu queixo. Não só representam o fato de que ele controla a moeda, como também representa os Illuminati. Debaixo dos olhos Drako há o ditado "Ordo ab Chao" - slogan favorito da elite ocultista. Além disso, o cara tem apenas um olho aberto. Ele poderia, assim, representar mais o Illuminati?</td></tr></tbody></table><br /><b>O Libertador</b><br />Em meio a todo esse caos, uma figura surge com o poder de renovar todas as coisas.<br /><br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-sJymzc6yYjo/UDk76bn3Z1I/AAAAAAAAA_U/K7D0nyUHxyM/s1600/cristo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="221" src="http://4.bp.blogspot.com/-sJymzc6yYjo/UDk76bn3Z1I/AAAAAAAAA_U/K7D0nyUHxyM/s400/cristo.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Navegando em um barco egípcio cerimonial, Jesus Cristo parece estar em transe.</td></tr></tbody></table><br /><br /><div style="text-align: justify;">A figura similar a Cristo tem um terceiro olho sobre a glândula pineal, que se refere ao conceito de iluminação espiritual. O triângulo acima do olho representa a divindade, significando que a iluminação leva ao contato com a própria natureza divina. Os símbolos na testa de Cristo estão em completa oposição a pirâmide no queixo do Drako. Embora ambas as figuras tenham símbolos similares em seus rostos, Cristo os tem "direito" e Drako em reverso / invertido, o que significa que ele (e os Illuminati) corromperam estes símbolos antigos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Chamado pelos criadores do vídeo "O Fogo da Verdade", a figura de Cristo não é para ser o próprio Jesus Cristo, mas uma representação do conceito de Cristo Íntimo como definido pelo gnosticismo. De acordo com esta corrente esotérica do cristianismo, o Cristo Íntimo é o potencial encontrado em todos para chegar a divindade através da iluminação espiritual. No site Heliofant, O Fogo da Verdade é descrito como:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><blockquote class="tr_bq"> <span style="font-size: small;"><i>"É VOCÊ! quando você está na consciência de sua filiação com o Divino e da irmandade da humanidade! "</i></span></blockquote><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Quando a figura de Cristo respira o Fogo da Verdade sobre o mundo, alguns personagens oprimidos ou angustiado voltam à vida, como Ludovic, a criança com cabeça de ovo. Além disso, Aali, um menino muçulmano que apareceu golpeado e morto sobe de volta à vida.</div><br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-4breEBgrXNw/UDk8JvGCDiI/AAAAAAAAA_c/HnBVmztixIM/s1600/aali.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="221" src="http://2.bp.blogspot.com/-4breEBgrXNw/UDk8JvGCDiI/AAAAAAAAA_c/HnBVmztixIM/s400/aali.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O pequeno Aali sobe nos destroços da mesquita destruída, girando vestido e um tradicional traje dervixe. O menino está executando a antiga arte de dança Sufi, que é praticada pelos dervixes sufis da ordem de Mevlevi. Os dervixes são uma corrente esotérica antiga do Islã. "<i>Os mistérios da fé islâmica estão agora sob a guarda dos dervixes - homens que, renunciando ao mundo, resistiram ao teste de mil e um dias de tentação. Jelal-ud-Din, o grande poeta persa sufista e filósofo, é credenciado por ter fundado a Ordem Mevlevi, ou os "dervixes dançantes", cujos movimentos exotericamente significam os movimentos dos corpos celestes e esotericamente resultam no estabelecimento de um ritmo que estimula os centros de consciência espiritual dentro do corpo do dançarino."</i> - Manly P. Hall, The Secret Teachings of All Ages</td></tr></tbody></table><br /><div style="text-align: justify;">O renascimento do menino muçulmano como um dervixe sinaliza que existe uma ligação entre ele eo Cristo interno: ambos representam iniciação em escolas esotéricas, escolas que têm um objetivo comum - o contato com a divindade através da iluminação espiritual. Outras religiões com correntes esotéricas como o hinduísmo (representada por um Shiva dançante), também são representados no filme. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Quando a figura de Cristo sai da Catedral, o edifício (que era guardada por um gárgula) desmorona atrás dele.</div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-4Ot2AS5oiUY/UDk8siAds4I/AAAAAAAAA_k/-TEl1FcgD5Y/s1600/cristo+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="223" src="http://3.bp.blogspot.com/-4Ot2AS5oiUY/UDk8siAds4I/AAAAAAAAA_k/-TEl1FcgD5Y/s400/cristo+2.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Nesta nova era de iluminação espiritual, edifícios elaborados pelo homem tornam-se desnecessários e ultrapassados. Eles, portanto, desintegrar-se-ão e desaparecerão.</td></tr></tbody></table><div style="text-align: justify;">Quando a noite se transforma em dia, a figura de Cristo abre os olhos de fogo e navega em direção à luz do sol. Flores de lótus, símbolo da iluminação espiritual na filosofia oriental, aparecem novamente no vídeo, surgindo atrás dele, confirmando para os telespectadores de que o caminho para a liberdade é, na verdade, um caminho espiritual.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><b>Em Conclusão</b></div><div style="text-align: justify;">""I, Pet Goat II" tem recebido muitos elogios por sua habilidade técnica e sua narrativa original. Embora não haja nenhuma narração ou diálogo, uma história elaborada é entregue usando a língua mais antiga e universal na História: símbolos. Através de símbolos, o filme consegue entregar uma crítica mordaz da civilização ocidental de hoje, para descrever seus males numerosos e mesmo prever sua queda inevitável. Mais importante, uma decodificação completa do simbolismo do filme revela uma poderosa mensagem de iluminação espiritual com base em antigos mistérios. Embora este aspecto esotérico do filme possa não ser entendida por muitos, é o cerne do filme e é apresentado como a solução definitiva para os males e corrupção do mundo de hoje. A conclusão do filme é, portanto, muito pessoal: ou você se torna um bode de estimação com um 666 em sua testa ou então um Cristo com um terceiro olho na testa. Esta noção de iluminação pessoal é definitivamente gnóstica e é comum à maioria das escolas esotéricas de todas as civilizações.Concordando ou discordando com a conclusão espiritual do filme, é mais que óbvio que os criadores de "I, Pet Goat II" são conhecedores de temas esotéricos. Cada cena tem uma profunda história subjacente - seja histórica, política ou espiritual - que levaria páginas e páginas para explicar minuciosamente. Aí está o poder dos símbolos: eles podem simplesmente ser admirado por sua beleza estética ou podem, quando totalmente compreendidos, revelarem uma história profunda sobre a humanidade, Deus e muito mais.</div><br />Fonte: <a href="http://vigilantcitizen.com/moviesandtv/the-esoteric-symbolism-of-the-viral-video-i-pet-goat-ii/">http://vigilantcitizen.com/moviesandtv/the-esoteric-symbolism-of-the-viral-video-i-pet-goat-ii/</a><br /><br />Leandro Marciohttps://plus.google.com/101175625277493088531noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34246343.post-52767233634710781742012-08-20T23:34:00.000+14:002012-08-20T23:45:27.070+14:00Ph'nglui mglw'nafh Cthulhu R'lyeh wgah'nagl fhtagn<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><br /><a href="http://2.bp.blogspot.com/-v418kKmx_Xc/UDIGRrb35RI/AAAAAAAAA9I/745HLcuiAtA/s1600/lovecraft.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-v418kKmx_Xc/UDIGRrb35RI/AAAAAAAAA9I/745HLcuiAtA/s1600/lovecraft.jpg" /></a><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />Esboço do Cthulhu com data de 1934 feito por seu criador, Howard Phillips Lovecraft (20/08/1890 a 15/03/1937).<br /><br /><br />Leandro Marciohttps://plus.google.com/101175625277493088531noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34246343.post-83963803827821858162012-08-12T21:01:00.005+14:002012-08-12T21:05:12.734+14:00Exposição "Gatinhos fofinhos"<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-ap7FPKgVZhM/UCdUXb12_yI/AAAAAAAAA5c/cEloKJjijBI/s1600/shoker+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="380" src="http://2.bp.blogspot.com/-ap7FPKgVZhM/UCdUXb12_yI/AAAAAAAAA5c/cEloKJjijBI/s640/shoker+1.jpg" width="490" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">Conheci o Shoker faz alguns anos, no circuito psychobilly de São Paulo. E como é comum nesse tipo de subcultura, acabamos por conhecer apenas uma faceta das pessoas, mesmo que se mantenha algum grau de relacionamento com ela. Assim, após anos de contato, eis que descobri que Shoker é, também, um artista de engenhosa habilidade, produzindo telas que já abocanharam duas recentes exposições em São Paulo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A mais recente série de telas dele, "Gatinhos fofinhos", foi analisada recentemente para a exposição que ocorreu na festa de dois anos da casa Lab, na rua Augusta. Rigorosamente analisada, diga-se de passagem, e trazendo à tona as diversas camadas de significado e influências pop que instigam sua produção. Resolvi publicar essa análise aqui. Você pode ver as obras e saber mais sobre o Shoker em sua página do Facebook: <a href="https://www.facebook.com/shokerart">https://www.facebook.com/shokerart</a></div><br /><b>Gatinhos fofinhos</b><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-mD5_DkEEPWI/UCdUfSqioWI/AAAAAAAAA5k/S2bta7SuYUY/s1600/shoker+2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="150" src="http://2.bp.blogspot.com/-mD5_DkEEPWI/UCdUfSqioWI/AAAAAAAAA5k/S2bta7SuYUY/s200/shoker+2.jpg" width="200" /></a></div><div style="text-align: justify;">O tema unificador da coleção, como seu curioso título "Gatinhos Fofinhos" indica, está no uso sugestivamente exagerado de padrões decorativos com o formato dos felinos sobre cenários bélicos, místicos, industriais e psicodélicos. Dentre as obras expostas, dou destaque para "Ronronando", na qual o interior de gatos movidos por engrenagens é retratado - engrenagens estas que remetem diretamente ao ícone da 'clockwork fruit', eternizado na arte de "Laranja Mecânica" de Anthony Burgess. Tomo esta obra por exemplar pelo fato de ela poder, de forma elucidativa, trazer à luz o tipo de registro conceitual que ganha corpo no trabalho do artista conforme nos deparamos com o restante de suas obras. Autodidata no campo, o início do envolvimento prático de Shoker com o campo das artes plásticas não se dá nas academias, mas diretamente na prática, mais propriamente em seu trabalho conjunto com o ex-restaurador da Pinacoteca do Estado e artista multitalentos Luiz Antônio Barbosa, o "Labar"( @Luiz Antonio Barbosa ). Na condição de pupilo, Shoker aprende com o mestre o ofício da restauração de patrimônio histórico e técnicas mistas exploradas por grandes nomes do Modernismo brasileiro. As marcas mais evidentes destes anos de aprendizagem se deixam ver na série em atual desenvolvimento - sugestivamente entitulada 'Restauração de patrimônio histórico' - na qual restaura-se, ao invés de painéis e catedrais, escapamentos e objetos de uso pessoal de tempos imemorais - objetos achados relegados ao esquecimento que tomam forma novamente nas mãos do artista, recuperando não apenas seu estatuto de coisa propriamente dito, como também ganhando marcas do questionável gosto atual pelo decorativo, pelo ingênuo, pelo 'cute'. Em outras palavras: há neste rito de passagem da técnica, digamos, do mestre para o pupilo, um polêmico questionamento acerca dos fins da arte enquanto repositório de resultados histórico-culturais, da convicção daquilo que precisa ser restaurado, para quem algo precisa ser restaurado... Aqui reside o cerne conceitualmente frutífero presente nos trabalhos do jovem pintor. Ao voltarmos nossa atenção para a coleção 'Gatinhos Fofinhos', reencontramos o mesmo jogo com a razão de ser do objeto de arte, ainda que em chave distinta. Nela, opta-se pela exposição de signos quaisquer espalhados pelo mundo (pentagramas, baús de armamentos, vasos), sendo retratados na tela sempre em conjunto com padrões decorativos. Este se trata não de um decorativo que representa, mas que sobra, que banaliza, ao menos em face daquilo que ele traz por trás de si. Ele é um decorativo que lá está ironicamente com o fim de garantir seu apelo para nosso tipo de geração de fruidores de imagens; uma geração de especialistas em coisas que lhe causam apelo visual, cujo apetite estético é alimentado por mecanismos que nos propõem o mundo sem que tenhamos que sair de casa. A última série que tive oportunidade de ver, 'Jogatina frenética', instalação autodeclarada "mista: beneficiada por técnicas como 'cocaína sobre tela' e mais objetos achados", deixa ver o interesse no uso de técnicas multivariegadas do artista - assim como seu repertório ganhando corpo e maior solidez. Aguardo desenvolvimentos posteriores deste empenho em explorar algumas questões básicas da expressividade artísticas - estranhamente repletas de tabús e protecionismos por parte da academia - a partir da delicada percepção de que produzir algo em um formato 'artístico' corre o constante risco de resultar em uma incorporação de mais um objeto a este gigantesco repositório de signos que reconhecemos sob a alcunha de 'artes plásticas'.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Leandro Marciohttps://plus.google.com/101175625277493088531noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-34246343.post-8976881920320354102012-08-06T06:53:00.001+14:002012-08-06T07:03:22.264+14:00Blue Sabbath Black Cheer<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-KNRP6pBEr9c/UB6iDNhz5QI/AAAAAAAAA4Y/LRdzkDPPCmU/s1600/bsbc3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><br /><img border="0" height="400" src="http://2.bp.blogspot.com/-KNRP6pBEr9c/UB6iDNhz5QI/AAAAAAAAA4Y/LRdzkDPPCmU/s400/bsbc3.jpg" width="400" /></a></div><br /><br /><div style="text-align: justify;">Nascida em Seattle em 2005, extensa produção em K7s, vinil e CDs, "black acid noise doom drone hate", várias (e catárticas) apresentações ao vivo, "the end of the world".</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Baixei na sexta os LPs que o Blue Sabbat Black Cheer fez em colaboração com o Irr. App. (Ext.) ("Skeletal Copula Remains", de 2009, e o "Skeletal Imposition, de 2011") e ficou em looping durante toda a madrugada de ontem para hoje. Eu tinha aqui o "Doom mantra" e o "The endless blockade", duas mosntruosidades de perturbação e horror (anti)musical, e esses lançamentos colaborativos reacenderam o interesse pela banda.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Site oficial da banda <a href="http://gnarledforest.blogspot.com/" target="_blank">aqui</a>. Vídeo + fotos + artes de alguns de seus muitíssimos lançamentos abaixo.</div><br /><iframe allowfullscreen="allowfullscreen" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/5LzAPYMgv4Q" width="480"></iframe><br /><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-PJPoy4H86h0/UB6jeDhepaI/AAAAAAAAA4o/ssqjKW4hMek/s1600/bsbc8.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="http://4.bp.blogspot.com/-PJPoy4H86h0/UB6jeDhepaI/AAAAAAAAA4o/ssqjKW4hMek/s400/bsbc8.jpg" width="480" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-Oj5CAcKQQ9k/UB6jfCLNbCI/AAAAAAAAA4w/VkH-epxccFg/s1600/bsbc6.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="286" src="http://2.bp.blogspot.com/-Oj5CAcKQQ9k/UB6jfCLNbCI/AAAAAAAAA4w/VkH-epxccFg/s400/bsbc6.jpg" width="480" /></a></div><br /><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-XoAPklovdfg/UB6hyRRLalI/AAAAAAAAA4I/udrdZ6nmbpY/s1600/bsbc+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="http://3.bp.blogspot.com/-XoAPklovdfg/UB6hyRRLalI/AAAAAAAAA4I/udrdZ6nmbpY/s400/bsbc+1.jpg" width="480" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-UNw-GSOG7T8/UB6irIND7pI/AAAAAAAAA4g/iPxjxigTMcM/s1600/bsbc7.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="132" src="http://2.bp.blogspot.com/-UNw-GSOG7T8/UB6irIND7pI/AAAAAAAAA4g/iPxjxigTMcM/s400/bsbc7.jpg" width="400" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-awRU9nXM68E/UB6h8H6_ujI/AAAAAAAAA4Q/RLR16cQemA0/s1600/BSBC2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="201" src="http://2.bp.blogspot.com/-awRU9nXM68E/UB6h8H6_ujI/AAAAAAAAA4Q/RLR16cQemA0/s400/BSBC2.jpg" width="480" /></a></div><br />Leandro Marciohttps://plus.google.com/101175625277493088531noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34246343.post-21616733336439643312012-08-06T05:10:00.000+14:002012-08-07T03:38:34.233+14:00Tarifa Zero<div style="text-align: justify;"><br /><br /><iframe allowfullscreen="allowfullscreen" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/G09QoUV7mOE" width="480"></iframe> Quando ouvi há tempos atrás falar do projeto Tarifa Zero - aquele que faria com que o transporte público fosse gratuito em São Paulo - de imediato considerei uma idéia legal, mas impraticável em todos os sentidos. </div><div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div><div style="text-align: justify;">Até que eu assisti ao vídeo acima e mudei de opinião: o Tarifa Zero é perfeitamente possível de ser implantado e, mais do que isso, é uma necessidade cada vez mais premente. E não apenas pelo transporte "gratuito" em si, mas por dar um fim ao absurdo das concessões que são fechadas como acordos entre criminosos; por diminuir os gastos públicos com manutenção de ruas e avenidas; e principalmente por afetar a lógica de organização da cidade como um todo, colocando sob um prisma mais público a locomoção diária e a apropriação do espaço pelas pessoas, colocando em segundo plano a adequação de todas as vias urbanas para o fluxo de automóveis - como acontece hoje em dia. </div></div></div><div><div style="text-align: justify;"><br /></div></div><div><div style="text-align: justify;">Inclusive, você sabia que em São Paulo durante o período de 1990 a 1992, teve na zona sul um projeto piloto do Tarifa Zero, que ligava um terminal de ônibus gratuitamente com várias linhas dos bairros próximos? E que, como esperado, aumentou bastante a utilização dos ônibus, mas sem prejuízo do serviço? E contrariando todas as perspectivas catastróficas (que transparecem claramente preconceitos de classe) não houve vandalismo, nem quebra-quebra, nem nada disso?<br /><br />Além das questões referentes ao transporte público há dois elementos que aparecem indiretamente no vídeo, que não dizem respeito ao Tarifa Zero em si, mas que gostaria de comentar. O primeiro: para cargos públicos, sejam quais forem, é necessário que o indivíduo tenha uma formação minimamente adequada. Desde os tempos da Suméria, questões públicas tem componentes ideológicos (que já são complexos) e técnicos (por vezes ainda mais complexos que os antecessores). Sendo assim, quando vejo tipos folclóricos como Tiririca sendo eleitos, me pergunto: eles teriam a capacidade de analisar questões complexas, de cruzar informações e emitir um juízo adequado a respeito delas? Teriam uma ampla visão para enxergar as minúcias, pensar a cidade (ou estados, ou até mesmo o país) em uma perspectiva de médio e longo prazo? O Inferno está abarrotado de almas cheias de boas intenções e, na política, elas podem embelezar os discursos, mas poucos frutos trazem para a vida prática. Já o outro elemento é algo ainda mais difícil de ser visto, em especial no estágio atual de decadência do mundo: para enfrentar determinadas questões públicas é necessário ter um grau quase heróico de coragem. Bate-se de frente com interesses, com egos inflados, com esquemas criminosos mamando nas tetas dos submundos do poder. Que homens públicos atuais teriam tal capacidade? </div></div><div><div style="text-align: justify;"><br /></div></div><div><div style="text-align: justify;">É sobre isso e muito mais que Lúcio Gregori, idealizador do Tarifa Zero, fala no vídeo. Vale muito a pena assistir.<br /><br />Mais sobre o Tarifa Zero em <span style="background-color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"><a href="http://tarifazero.org/">http://tarifazero.org</a></span></div></div>Leandro Marciohttps://plus.google.com/101175625277493088531noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-34246343.post-27924771290198377862012-07-29T07:50:00.003+14:002012-07-29T07:50:47.266+14:00O horror urbanístico de São Paulo<div style="text-align: justify;">Foi o espírito de porco de um jacú classe média que transformou São Paulo na cidade horrível de hoje, assim como é esse mesmo espírito que a mantém como uma das metrópoles mais feias que já tive a oportunidade de conhecer. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">É sobre isso que fala o texto a seguir, surrupiado do blog <a href="http://anivelde.org/sorryperiferia/2012/07/27/nos-anos-1920-a-encruzilhada-urbanistica-em-que-sao-paulo-se-perdeu.htm" target="_blank">Sorry Periferia</a>, comentando sobre o documentário <i>Entre rios.</i> Ele ajudou a clarear muitos aspectos da cidade, trazendo dados sobre a história urbanística de São Paulo, e ajudando a entender por que uma cidade antes elegantíssima se tornou a vanguarda do mau gosto até chegar no limite da inviabilidade.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Sem mais delongas, eis o texto + o vídeo.<br />______________________________________________<br /><span style="color: #444444;"><br /></span><br /><span style="color: #444444; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; text-align: left;"><b>Nos anos 1920, a encruzilhada urbanística em que São Paulo se perdeu</b></span><br /><span style="color: #444444; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; text-align: left;"><b><br /></b></span><br /><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="280" src="http://www.youtube.com/embed/Fwh-cZfWNIc" width="490"></iframe></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em 2007, o chef americano Anthony Bourdain veio a São Paulo e começou seu programa de TV definindo a cidade assim: </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> “São Paulo é feia. Ou melhor: é feia à beça. É como se Los Angeles vomitasse em Nova York”. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> O comentário causou alguma indignação, ainda mais vindo de um americano de Nova York que, se não é feia, ao menos não é famosa por sua beleza. Mas é impossível negar o fato de São Paulo ser paisagisticamente uma das sucursais do inferno na Terra, embora ela compense em outros fatores (como a gastronomia, elogiada por Bourdain no <i>Sem reservas</i>). </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> Vivo nela há 11 anos e tenho o hábito de me debruçar na janela que dá vista para o Minhocão lá no fundo enquanto penso sobre os descaminhos urbanísticos dessa vida. Eu, que nasci em Jundiaí, uma província cuja única vantagem sobre a capital são o ar respirável e os constantes pontos verdes ao alçance da visão, nunca me acostumei à filosofia paulistana, onde ganhar dinheiro e tolerar o microondas de angústias urbano são a marca registrada (não que eu não goste de ganhar dinheiro, mas essa não pode ser a única filosofia possível de um lugar pra se viver). </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Graças ao amigo Thiago Foresti, conheci um documentário curta-metragem chamado <i>Entre Rios</i>, trabalho produzido pelo coletivo Santa Madeira, que deu várias respostas ao que eu há anos tentava entender.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Resumidamente: a São Paulo de hoje é a confluência da cultura brasileira do “vai do jeito que dá e tem que ser logo”, especulação imobiliária e caipirismo de elite ao estilo “precisamos ser a Europa e os EUA na América do Sul”. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">São Paulo foi surgindo na confluência de vários rios. No início do século 20, as doenças causadas por mosquitos e a especulação imobiliária (sempre ela) fizeram com que o Anhangabaú fosse canalizado, e o Tamanduateí, modificado em seu percurso e tamanho. O Tamanduateí passava onde hoje é a 25 de março, daí a existência da Ladeira Porto Geral – era ali o porto do rio. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Nos 1920, época de desenvolvimento e de reformulação urbana nas principais cidades do país, houve o embate entre dois nomes da engenharia urbanística. De um lado, Saturnino de Brito, o homem que projetou com sucesso os canais de Santos, viu a metrópole caminhando pra cima dos rios Tietê e Pinheiros e passou a pregar a organização de parques no entorno dos dois rios. Como os rios tinham cheias no verão, a várzea deles seria preservada, ninguém ali construiria e teria-se um enorme cinturão verde em torno deles. Isso faria com que São Paulo fosse brilhantemente verde. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Do lado oposto de Saturnino de Brito havia Francisco Prestes Maia. Era o jacu classe média/elite tipicamente brasileiro: queria transformar São Paulo numa metrópole americana, com arranhas-céus e carros, e sempre do jeito mais fácil possível. Em vez de desapropriar casas pelo caminho, o projeto dele previa simplesmente canalizar ou encurtar os rios e fazer avenidas sobre eles. Prestes Maia ganhou a queda de braço e ainda tornou-se prefeito entre 1938 e 1945. E assim nasceram a 23 de maio, Consolação, Pacaembu, Ricardo Jafet, 9 de julho, Turiaçu, do Estado, Sumaré, Águas Espraiadas, Cupecê e tantas outras. Não preciso nem lembrar o quanto esse projeto também foi malsucedido socialmente (claro, não só por causa disso): as periferias cresceram sem qualquer ordenamento. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Hoje não temos mais rios limpos, tampouco navegáveis – e do jeito que São Paulo era interligada por eles, poderíamos ter um complexo hidroviário impressionante nos dias atuais. Assim deu-se a expansão paulistana. O jeitinho brasileiro também deu as caras na arquitetura, que segue padrão nenhum (o padrão quem escolhe são as construtoras), os prédios não fazem sentido no ambiente do bairro ou da cidade, como deveriam fazer. O transporte público até hoje é preterido pelo automóvel, e as novas faixas das marginais estão aí para não me deixar mentir. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Acima, você pode assistir ao Entre Rios. Tem só 20 minutos, recomendo muito. O documentário me fez lembrar daquele momento no De volta para o futuro em que Marty e o Dr. Brown voltam para 1985, mas tudo estava diferente. A conclusão era que eles pegaram uma outro caminho na linha do tempo que desembocava em uma outra vida em 1985, e que precisariam voltar correndo para a 1985 deles. Esse momento na vida paulista foi entre 1920 e 1940. Infelizmente, na vida real paulistana, não temos muito o que fazer.<br /><br /></div>Leandro Marciohttps://plus.google.com/101175625277493088531noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34246343.post-20881873678591921332012-07-10T13:40:00.001+14:002012-07-10T13:42:08.035+14:00Blood of the Black Owl<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-llPkTKFASk0/T_tqzHbKPoI/AAAAAAAAA3k/QscqQPCbKes/s1600/l.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-llPkTKFASk0/T_tqzHbKPoI/AAAAAAAAA3k/QscqQPCbKes/s1600/l.jpg" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;"><b>Blood of the Black Owl</b> é uma banda de Seattle formada em 2004 por Chet W. Scott. Conhecia dois trabalhos anteriores da banda (os excelentes "A banishing ritual", de 2010, e o split com o Celestial, de 2008); e ontem, através da <a href="http://hexmagazine.com/" target="_blank">Hex Magazine</a>, ouvi o seu novo lançamento, o "Light the Fires!", lançado em 3 de julho último pela <a href="http://www.bindrunerecordings.com/pages/mani_body.html" target="_blank">Bindrune Records</a> - e o sentimento que me assaltou durante a audição foi de completa fascinação.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Musicalmente, Blood of the Black Owl é um monstro que mescla Funeral Doom com densidades etéreas cheias de misticismo e aura ritualística. Aliás, o elemento metal é o que menos comparece em "Light the Fires!", onde a atmosfera xamânica domina praticamente todas as músicas. Ontem, quando comecei a audição, de pronto percebi que não conseguiria fazer nada enquanto estivesse ouvindo o disco. Era necessário apenas ouvi-lo, deixando que as emanações de "Caller of Spirits", a música que abre o disco, controlassem totalmente minha atenção. Daí em diante a experiência foi seguindo por mais seis faixas, todas longuíssimas, que passaram como se fosse um simples abrir e fechar de olhos. Ouça agora:</div><br /><iframe allowtransparency="true" frameborder="0" height="410" src="http://bandcamp.com/EmbeddedPlayer/v=2/album=2489456815/size=grande3/bgcol=fbf0c5/linkcol=4285BB/" style="display: block; height: 410px; position: relative; width: 300px;" width="300">&lt;p&gt;&amp;amp;amp;amp;lt;p&amp;amp;amp;amp;gt;&amp;amp;amp;amp;amp;amp;amp;amp;lt;p&amp;amp;amp;amp;amp;amp;amp;amp;gt;&amp;amp;amp;amp;amp;amp;amp;amp;amp;amp;lt;a href="http://bindrunerecordings.bandcamp.com/album/light-the-fires"&amp;amp;amp;amp;amp;amp;amp;amp;amp;amp;gt;Light The Fires! by Blood of the Black Owl&amp;amp;amp;amp;amp;amp;amp;amp;amp;amp;lt;/a&amp;amp;amp;amp;amp;amp;amp;amp;amp;amp;gt;&amp;amp;amp;amp;amp;amp;amp;amp;lt;/p&amp;amp;amp;amp;amp;amp;amp;amp;gt;&amp;amp;amp;amp;lt;/p&amp;amp;amp;amp;gt;&lt;/p&gt;</iframe>Leandro Marciohttps://plus.google.com/101175625277493088531noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-34246343.post-68301672822321797972012-06-15T18:34:00.000+14:002012-07-03T11:13:51.861+14:00In hoc signo vinces - Paul Veyne e o cristianismo<br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-Ix92vKJK50I/T9q4QuBeU3I/AAAAAAAAA2o/BDsTtjwtXOE/s1600/urso+morto.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="340" src="http://2.bp.blogspot.com/-Ix92vKJK50I/T9q4QuBeU3I/AAAAAAAAA2o/BDsTtjwtXOE/s640/urso+morto.jpg" width="480" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">satanismo popular-fudido</td></tr></tbody></table><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />29 de outubro do ano 312: na Ponte Mílvia, a cerca de 15 quilômetros de Roma, o exército do general Constantino enfrenta os soldados de Maxêncio pelo controle da metade ocidental do Império. Constantino estava em defasagem numérica: algumas fontes indicam que para cada homem de seu exército, Maxêncio contava com quinze. Mesmo assim, Constantino empreende o ataque – e vence. Sagra-se Imperador de Roma e atribui a vitória não ao valor de seus homens, não a um golpe de sorte, mas a um único e grandioso motivo: a vontade de Deus. É nesse momento que nasce o Cristianismo.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Afirmar que o cristianismo nasce em 29 de outubro de 312 d.C. parece ser um erro conceitual: passados já quase três séculos desde a morte de Jesus, não existiam milhões de cristãos em todo o Império? A Igreja já não era uma instituição respeitada, com homens poderosos em suas fileiras? Os deuses do paganismo não eram encarados, e isso desde Virgílio, como simples mitologia esvaziada de qualquer realidade? Ao menos era mais ou menos isso o que eu sempre tinha ouvido: o cristianismo, evoluindo lentamente, minou as reservas espirituais do paganismo e tornou-se a religião oficial do Império Romano e, por conseqüência, virtualmente de todo o mundo.<b> É justamente essa tese que o historiador francês Paul Veyne contesta e maciçamente destrói no livro “Quando o nosso mundo se tornou cristão”.</b> Esse post é uma tentativa mais do que modesta de comentar alguns pontos da obra lançada em 2007 (tenho a tradução em português de Portugal de 2009).</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A tese de Veyne é, em certa medida, bem simples: <b>sem Constantino, o cristianismo teria permanecido uma seita de vanguarda.</b> O Império estava repleto de outras crenças e, nos tempos da batalha da Ponte Mílvia, as perseguições aos cristãos não aconteciam mais. Ao mesmo tempo, é enganoso imaginar que o cristianismo estava minando as crenças pagãs: em 312 d.C., apenas 5% do território romano estava cristianizado. Contudo, 80 anos depois, o cristianismo tornou-se a religião oficial de todo o Império. Como explicar uma expansão assustadoramente rápida? </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Os fatores são variadíssimos, mas um ponto chave na tese de Veyne é que, com Constantino, o cristianismo não era a religião <i>do Império</i>, mas a religião <i>do imperador</i>: sabendo-se senhor de massas amplamente pagãs (e como todas as massas, contrárias a mudanças bruscas em sua meia vida de homens-gado) o imperador soube usar de sua influência para, gradativamente, ir dotando de cada vez mais poder no sistema imperial a instituição mais longeva de todos os tempos – a Igreja Católica. Apesar de não excluir os pagãos de seu séquito de conselheiros e oficiais, Constantino contava com muitos cristãos para as funções mais importantes dentro das hierarquias imperiais. Em seus (numerosíssimos) éditos, fazia questão de afirmar as vantagens de sua crença e, ainda que indiretamente, instituía mudanças que preparavam o advento do cristianismo como religião de todos. Por exemplo, em 312 ele impôs ao Império a criação do descanso dominical: a vida ainda era pagã, a moral pública e privada ainda era a da Roma vetusta, mas com essa simples instituição de um dia dedicado ao descanso – e simbolicamente o domingo, o Dominus, dia do Senhor – Constantino colocou certo ritmo cristão a um cotidiano que ainda não o era (e pensar que, até hoje, o domingo é o dia do descanso oficial para bilhões de seres humanos, chega a ser espantoso). Constantino parece agir com um espírito engenhoso, visionário até, em sua preparação algo silenciosa de <i>condições</i> para a futura hegemonia cristã.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><br /><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-SrA_Ip22_Wk/T9q5deq3qfI/AAAAAAAAA3A/LpILiHtFhzk/s1600/21781435_4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-SrA_Ip22_Wk/T9q5deq3qfI/AAAAAAAAA3A/LpILiHtFhzk/s320/21781435_4.jpg" width="201" /></a>Mas não foi apenas Constantino o responsável pela vitória do cristianismo: a crença em si mesma possui certas “qualidades competitivas” em relação ao paganismo. A primeira é a sua <i>atualidade histórica</i>: as histórias de Cristo e seus seguidores eram recentes, eventos passados há cem, duzentos anos. Os mitos do paganismo estavam distantes no tempo, nenhum homem era contemporâneo das façanhas que os deuses desempenhavam em suas visitas ao mundo dos homens, que não aconteciam mais há séculos. Já o cristianismo tinha seus mártires, os milagres de homens santos, o testemunho dos perseguidos que viram maravilhas. Há também a <i>relação amorosa</i> <i>e próxima</i> do cristão com o divino: não basta se dizer cristão, mas é vital proclamar o amor que se tem a Deus, que sempre é um amor em retribuição ao que Ele ofereceu a <i>todos os homens:</i>um pagão poderia muito bem ser um fervoroso adepto de Marte sem nunca dizer que o amava, pelo simples fato de que isso era impensável no paganismo. E muito menos havia no paganismo a <i>universalidade cristã: </i>o<i> </i>paganismo nunca foi igualitário, e mantinha ritos específicos para aristocratas e outros para a plebe; já o cristianismo tinha o conceito de conversão: todos os que aceitam o Deus Vivo serão salvos. Mas a vantagem competitiva que me parece a mais forte (Veyne também a salienta) é a <i>transcendentalidade para além da narrativa mitológica: </i>o cristão é um indivíduo convicto de que a vida eterna, a Salvação, é uma realidade tão forte quanto o seu próprio corpo. Citando Veyne, com o cristianismo “a nossa existência sobre a terra já não apresentava o absurdo de uma breve passagem entre dois nadas”; na época de Constantino, o debate sobre o que existia após a morte era <i>o grande</i> debate, e nada no paganismo se assemelhava à idéia cristã da “salvação”. Os deuses pagãos pareciam completamente distantes: quando muito favoreciam uma colheita, faziam vencer uma guerra, curavam uma doença; o Deus dos cristãos ouvia as preces de todos, confortava os corações, prometia uma vida de eterno deleite ao seu lado após a morte. Para alguém que estivesse em apuros, desiludido de tudo e todos, ir a uma igreja parecia uma alternativa melhor do que sacrificar uma pomba a Júpiter; na igreja, em comunhão com outros cristãos, todos seus <i>irmãos, </i>suportar o mundo de repente se tornava mais fácil.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Outro ponto onde Veyne investe em polêmica: certo discurso coloca o cristianismo como uma religião monoteísta e, portanto, superior ao politeísmo, colocado como algo mais “arcaico”, menos “civilizado”. Nada mais equivocado: vale lembrar que o Deus Uno cristão é, ao mesmo tempo, três (Pai, Filho e Espírito Santo); que a figura dos santos é imensamente forte no catolicismo, e certas devoções os colocam no mesmo patamar dos pequenos deuses do paganismo; que Maria, mãe de Jesus, que nos evangelhos tem um papel não mais que secundário, ocupando algumas poucas páginas, no catolicismo ganha o epíteto de Mãe de Todos os Homens, em uma espécie de re-significação do culto à Grande Mãe de eras ainda mais afastadas. Não é, portanto, por seu pretenso “monoteísmo” que o cristianismo vence, mas pelos demais elencados. Apesar disso, é certo que a religião de um deus único é, em comparação com a miríade de deuses do paganismo, uma “religião mais forte”. Devido a isso, certa crítica de esquerda coloca o monoteísmo como algo menos “democrático” que o politeísmo; Veyne rebate isso muito bem, ao dizer que <b>“não é o monoteísmo que pode tornar ameaçadora uma religião, </b><i><b>mas o imperialismo de sua verdade”</b> </i>(grifo meu). E é aí que está a diferença essencial entre o “monoteísmo cristão” e o paganismo: enquanto que, em um debate qualquer, um devoto de Júpiter poderia falar para um devoto de Vênus que “o meu deus é <i>muito mais poderoso</i> que o seu”, um cristão falaria de modo sutilmente diferente que “o meu Deus <i>é o verdadeiro</i>, e os seus são superstições”. Em uma palavra: no paganismo não se colocava em cheque a existência de outros deuses: todos eram válidos, até mesmo os dos inimigos, e no máximo o que se colocava era uma questão de poder e glória; com o cristianismo, há uma desqualificação da crença do outro, colocada em um patamar de irrealidade, de mentira, e que seus adoradores estão enganados. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Esse imperialismo de crença motivou as ações de Constantino e seus sucessores, até que em 8 de novembro de 392, Teodósio proclama o cristianismo como religião oficial do Império e torna todos os cultos pagãos ilegais. A motivação para isso não foi nada religiosa: era uma foram de esmagar um golpe de Estado orquestrado pela ala pagã resistente nas entranhas do poder. Mas passado isso, essa ala não se levantará mais. O cristianismo tinha se tornado a religião do Império e formada estava uma dinastia que o levava no coração e na alma. O “mundo” já era cristão e as massas, principalmente nas regiões mais urbanizadas, estava nas mãos da estrutura hierárquica da Igreja. Demoraria ainda alguns séculos para todos os resquícios do paganismo serem extintos completamente, principalmente no Oriente, que não vivenciou uma ampla cultura eclesiástica e beata como no lado ocidental do Império.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></div><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-jytz81VUVA8/T9q4xpT24EI/AAAAAAAAA24/F_ROx2v1CAw/s1600/AVT2_Veyne_1844.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="160" src="http://2.bp.blogspot.com/-jytz81VUVA8/T9q4xpT24EI/AAAAAAAAA24/F_ROx2v1CAw/s200/AVT2_Veyne_1844.jpeg" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Paul Veyne, sensualizando</td></tr></tbody></table><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i>Paul Veyne, nascido em 1930 em um meio popular que ele gosta de definir como “inculto”, é um historiador afeiçoado a teses polêmicas e com certeza o homem mais feio do mundo. Especializado em Roma Antiga, formado pelo Collège de France e atuando lá até hoje como professor honorário, suas obras são amplamente traduzidas no mundo todo.</i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><br /></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Compre <b><a href="http://www.submarino.com.br/produto/1/21781435/quando+o+nosso+mundo+se+tornou+cristao" target="_blank">Quando o nosso mundo se tornou cristão</a></b><br /><br />p.s.: a foto que ilustra o post é o grafite mais genial que já pude ver na minha vida, e é obra do <a href="http://www.ursomorto.com/" target="_blank">Urso Morto</a></div>Leandro Marciohttps://plus.google.com/101175625277493088531noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-34246343.post-62483363406271770482012-06-11T09:40:00.000+14:002013-01-17T03:54:26.160+14:00Interpretação de sonhos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-5vhD6dd4oo8/T9T3qfZEseI/AAAAAAAAA2U/OkmNn6OEMBc/s1600/horror-hotel.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="296" src="http://4.bp.blogspot.com/-5vhD6dd4oo8/T9T3qfZEseI/AAAAAAAAA2U/OkmNn6OEMBc/s400/horror-hotel.jpg" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Dormir no sofá = ter sonhos estranhos. No último que experimentei, eu estava em um hotel antigo, com suas portas pesadas e piso de madeira lustroso, espelhando o andar dos seus poucos hóspedes. Em um determinado momento, tenho que fugir de lá. Ignoro o motivo, apenas tenho a certeza que devo sair daquele hotel o mais rápido possível. Na fuga encontro uma caixa e, em seu interior, um livro: tem encadernação artesanal e muitas páginas marcadas pelo tempo. De repente, me vejo rodeado de muitíssimos outros livros, e tenho que carregar a todos; como são muitos, desisto da tarefa que atrapalharia minha fuga (pois precisava dali fugir, mesmo não ficando claro o motivo) e pego apenas o livro velho que encontrei dentro da caixa. Caminho apressado pelo largos corredores do hotel antigo, que vão ficando mais e mais labirínticos. E sem me recordar de detalhes percebo que carrego, além do livro, um pesado porrete de ferro, e que ao meu lado também corre agora uma pequena menina japonesa aleijada. Chego a uma sala apertada e vazia, aperto o botão de uma máquina estranha e uma quantidade absurda de balas de hortelã são despejadas no chão.Entro em um elevador carregando o livro, o porrete e algumas balas. Aperto o botão para subir para um andar superior, não me recordo qual. No canto do elevador, me observando, a Daniela Cicarelli.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Pergunta: se eu estava fugindo, por que então subi mais andares? </div> <script type="text/javascript"><!-- descrColor="000000";titleColor="000000";urlColor="000000";borderColor="eeeeee";bgColor="FFFFFF";altColor="FFFFFF";coddisplaysupplier="6d15faae38634fcab73ab5a2741a9843";formatId="9";numads="2";type="1"; --></script><script type="text/javascript" src="http://adrequisitor-af.lp.uol.com.br/uolaf.js"></script>Leandro Marciohttps://plus.google.com/101175625277493088531noreply@blogger.com0