9.05.2007

Rebatismo

Desde ontem, este blog passou a se chamar Dissolve // Coagula.

Eu resolvi mudar o nome porque o anterior, Reflexões de um Anticristo, era o nome de um zine que fiz lá pelos meados dos anos 90. Naquela época onde zines eram xerocados, recheei as páginas dos dois números com textos raiovosos, plenos do ateísmo radical que dominava minha mente, convivendo com outras temáticas como elogio dos vícios, heresias de todo tipo e suicídio. Aplicar o nome daquele zine já morto ao meu blog foi mais fruto da comodidade e de uma azeda preguiça mental do que qualquer outra coisa. Pois basta ler uns dois posts para perceber a distância continental entre meu saudoso zine e os escritos virtuais.

Agora, rebatizado de Dissolve //Coagula, além de manter uma firme identidade com a URL do blog, reflete muito melhor o caráter dos textos. Em todos há sempre presente uma luta de polos opostos, alguns mais explícitos que outro, mas sempre há o conflito, o choque, o embate, os caminhos tortuosos e difíceis que caracterizam as relações humanas.

Dissolve//Coagula é um lema que inspira os significados mais intensos e obscuros. Evoca coisas que se repelem, mas que necessitam uma da outra para operar mudanças, momentos de glória e catarse, de purificação pela dor, de redenção em meio à sujeira do dia-a-dia, em meio às misérias do cotidiano. Pois é ali, naquela crise onde tudo é dito aos gritos, ou quando os olhos vêem a traição que antes era uma suspeita, ou quando Deus nos leva ao inferno apenas para mostrar Sua glória infinita, ou quando brota a consciência de que os dias são sempre iguais, de que a Vida nada mais é que a repetição de ciclos eternos, que mesmo o mais apaixonado amor nunca é o bastante para satisfazer nosso vazio, é ali, naquele ponto, é ali, naquele momento, que se tem a chance de ir ainda mais fundo em si e viver com uma intensidade que a média dos homens jamais alcançará. Sim, é necessário sofrer, é necessário uma disposição ao desespero em proporções gigantescas, é necessário nada esquecer, nada perdoar, e deixar uma espécie de coágulo se formar na alma - até que um dia ele explode. A mão direita para cima, a esquerda apontando para baixo, a mutação é feita - nada será como antes.

Sim, como eu já disse em outros momentos: a vida vivida é o combustível do que você lerá aqui. São as tardes sem fim na FFLCH, os passeios sem rumo pelas ruas do centro velho de São Paulo, algum livro folheado nos sebos da Augusta, conversas com amigos nos bares da avenida Paulista, telefonemas de três horas e meia nas madrugadas frias onde não se dorme, e-mails de puro ódio que se escreve por puro amor, viagens para lugares distantes e diferentes que se assemelham a sonhos, problemas de todo tipo, coisas que se perdem, coisas que se conquistam - tudo entra no horizonte de significados onde busco as palavras, estas coisinhas difíceis e escorregadias que sempre dizem tudo quando as esprememos. Ou quase tudo.