3.31.2011

Livro do Dissolve Coagula em andamento

Após algumas alterações nos planos, finalmente o meu primeiro livro será lançado via UGRA PRESS, uma iniciativa experimental da qual participo em conjunto com mais algumas pessoas. Não é a primeira vez que falo sobre isso aqui, mas agora as coisas caminham de fato para a concretização.

Os detalhes do projeto editorial serão apresentados aos poucos. Por enquanto, estou revisando (se não me falha a memória) pela sétima vez os manuscritos. A obsessão pelos detalhes tem se tornado um problema, no sentido de que perco horas de sono rebuscando os originais; e para que não me demore mais nisso, prometi a mim mesmo não mais revisá-los, deixando agora a tarefa para outra pessoa. A foto abaixo mostra uma página com os rabiscos realizados, indicando correções, mudanças, novas idéias, etc.

 
Os textos que farão parte desse livro são todos do Dissolve Coagula, em versões modificadas especialmente para essa edição, além de um conto inédito. Convidei um ilustrador para colaborar com o projeto gráfico do livro também. E seguindo a proposta da UGRA PRESS, será uma edição artesanal e limitada -porém com um nível de capricho e cuidado que irão muito além do amadorismo.

Obviamente que reescrever e revisar os contos tem sido uma experiência apaixonante; porém participar também da concepção do livro como um todo -os detalhes tipográficos, a encadernação, o papel utilizado, etc- está me proporcionando algumas boas horas de diversão. É cedo ainda para falar mais sobre todas essas coisas, conforme elas forem acontecendo vou escrevendo por aqui. O livro se chamará Tudo o que é grande se constrói sobre mágoa e a previsão de lançamento é para junho.

3.13.2011

Rotina

O retorno aos dias cinzas, previsíveis, tolos e inconscientes. A rotina é uma bênção para quem não quer mais se preocupar, a rotina é uma forma de liberdade, uma maneira de viver, ser feliz, mesmo que brincando de faz de conta, mesmo que aceitando bobagens que não dizem nada. A rotina é uma disciplina que cultivo cada vez com mais fervor. Fora dos limites da previsibilidade e do repetitivo há um universo de eventos, pessoas, cores, sons e sensações que não animam sequer uma miserável célula de meu ser. O incessante devir e seu maremoto de acontecimentos, os estímulos, os fatos a analisar, as opiniões a emitir: apenas a lembrança destas coisas me deixa cansado. O exílio voluntário na repetição, na ordem pura e repetitiva, na lentidão que é como um bálsamo para este universo de pura velocidade cada vez mais acelerado: eis a fórmula a qual consagro meus dias, é para esse reduto onde nada de novo acontece que coloco em marcha minhas forças vitais. Evito, em uma palavra, cair no pecado do desperdício -e isso pode ser compreendido de diversas formas. Falo especialmente das diversões mundanas que, por mais que não as queira, acabo delas usufruindo, porém sempre com a sensação de estranhamento; de que nada ali me diz respeito; que as expressões felizes que me rodeiam nada mais são que construções pouco sólidas, e podem ser resumidas como um encontro vulgar entre o efeito do álcool e os apetites do baixo ventre; e que estando ali, mesmo com esses pensamentos, nada me diferencia de todos ao meu redor: sou como eles, exatamente como eles, e o álcool também me deixa eufórico e também danço e me divirto como qualquer outra pessoa. Medianamente como qualquer outra pessoa. Todas as problematizações são lixo, a escritura é lixo, a extravagância é lixo, o cheiro de cigarro impregnando minhas roupas, os aromas etílicos, a roupa amarrotada, os raios de sol já deixando tudo claro, a vida começando novamente e eu ainda sem a possibilidade de dormir pelas próximas horas.