4.11.2011

A morte de Bunny Munro: uma tentativa de resenha


Nick Cave talvez dispense apresentações. Mas a regra da clareza me impõe uma introdução, aquela lambidinha básica que todos gostamos antes de... bem, isso  com certeza você sabe.

Então é isso: músico australiano que começou sua carreira nos anos 80 com o The Birthday Party, banda relativamente desconhecida quando colocada ao lado do monstruoso The Bad Seeds, o musical dream team que acompanha Cave desde o fim de sua primeira banda. Canções como “Red right hand", “The weeping song” ou “Straight to you” são verdadeiros hinos catárticos que provam que o universo da música pop é (ou era) capaz de oferecer algo mais do que hits de verão descartáveis. Morou em São Paulo por muitos anos e reza a lenda que freqüentou os puteiros da Rua Augusta em uma época onde aquele ponto da capital paulistana não tinha o aspecto hype dos dias atuais. Além de tudo isso, Mr Cave já escreveu o argumento do filme The Proposition (2007), assinando também a trilha sonora. Também compôs a trilha de “O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford” (2007) junto com Warren Ellis, seu comparsa no Bad Seeds e no Grinderman, banda na qual Cave se dedica a músicas com uma veia mais rock e visceral.

Mais sobre o livro


A revisão do livro, enfim, terminou. Realizada pelo talentoso Jacob Crisis, colaborador da UGRA e parte do grupo de acid neofolk Sleepwalkers Maladies, percebi de forma categórica como é importante que uma outra pessoa leia o original e aponte os erros e imprecisões. Mais do que isso: algumas camadas de significado são inatingíveis para o autor, porém perceptíveis para um leitor atento que, de fora, se debruça sobre o texto.

4.06.2011

Você já deve ter pensado em matar alguém

Se a imaginação é capaz de desenhar as coisas mais atrozes, medonhas e sanguinárias, este nojo repleto de casualidades estúpidas que chamamos Realidade consegue ir muito além, nos apresentando certas coisas que, de tão absurdas, chegamos a duvidar que existam.

Mas não: a Realidade é e sempre será muito pior do que qualquer invenção humana. Por exemplo, a matéria que colocaram ontem no Estadão, Fashion Kids reúne ''socialitezinhas", é de um aspecto tão medonho e tão incrivelmente fora da realidade que duvidamos de sua existência. Comprar um apartamento de 2 milhões de reais, andar de Vectra, saia de R$ 500, viagens à Disney que se tornam polêmica porque -absurdo!- nem todas as crianças da escola foram até lá. Nem que eu tivesse tomando uma dose dupla de LSD teria uma viagem tão delirante.

Contudo não é invenção de algum jornalista: é a Realidade. Isso mesmo, as coisas que acontecem. As coisas que são de verdade.

Gostaria muito de saber o que essas meninas, filhas dessas, hum, nobres senhoras ricas, se tornarão no futuro. O futuro de gente que nasce e é criada em um ambiente de valores puramente materialista, sem nenhuma noção de transcendência, sem nenhuma chance de ir além do que pode ser contabilizado em valores monetários. E não há idealismos em mim para agredir apenas essas burguesas: tenho certeza que a doméstica que lava as calcinhas importadas dessas vadias ricas gostaria de ter os mesmos luxos da patroa; não apenas gostaria como se regozija ao vê-la tão bonita, tão bem cuidada e cheirosa saindo para as compras; deve olhar para os móveis com suspiros, imaginando-se dona de uma casa grande, arejada e com pé direito alto. A guerra de classes cedeu lugar a algo tão baixo que nem é possível chamar o sentimento dessa doméstica de inveja.

Talvez eu esteja sobrevalorizando demais essa manifestação do nosso atual estado de decadência, fruto da da vitória total de Malkuth. A revolta que pode nascer frente a matérias como a do Estadão é, também, uma forma de manifestação daquilo que o pensamento tradicional chamou de "reino da quantidade". Afinal, do que adiantaria exterminar da face da Terra aquelas mulheres e suas filhas quando, na verdade, o que motivou suas existência continua de pé? Nesse sentido, o ato sanguinário configura-se como mero cosmético. Todavia, relembro abaixo algo que escrevi há muito tempo, e que serviu de letra para o Life is a Lie, banda a qual me dediquei alguns anos.


Pensamentos de um assassino serial, comendo
É algo que simplesmente acontece. Tentaram me explicar, contabilizar, enquadrar-me em alguma lei da perversidade humana ou em alguma teoria psicanalítica inútil. Só o que sei é que, de tempos em tempos, surgem pessoas assim como eu, assassinos querendo rasgar o véu da realidade. É só o que sei. Isto é tudo que eu sei. 


Não chore, entenda não é pessoal. Meu espírito é livre , além do Bem e do Mal.
Eu mato frescos de dentes brilhantes e putas burguesas em vestidos elegantes.
Eu mato crianças gorda e saudáveis, sementes de novas elites sanguinárias.
Colunas sociais são o meu cardápio onde busco sedento meus novos pratos.

Para provar e sentir o seu podre sabor

Comentários
Era incontrolável. Tudo tornava-se confuso. Apenas sentia um furor angustiante que precisava ser canalizado pois de outra maneira (tenho certeza) eu enlouqueceria. Veja : nunca quis isso para mim. Apenas fazia sem me importar minimamente com as conseqüências de minhas ações. Tudo era simples, certeiro, matematicamente rápido como um giro de chave na fechadura - tratava-se disso, de abrir portas. Eu nada mais fazia do que abrir portas , mostrando que existem muitas coisas que não querem nos deixar tocar, nem ver, nem sentir. Meu pensamento obstinado não cessava. Conclui então que as pessoas estão insensíveis para tudo que me faz desgraçado. Isto era tudo. Acostumaram seus corpos fracos e mentes infantis a estupidez. Ora, eu não nasci e sofri nesta terra imunda por 23 anos apenas para depois ajoelhar-me frente a qualquer imagem de felicidade e sorrir como um retardado. Não. Isto é desprezível. E então , movido por um vigoroso desejo de vingança, levantei-me deixando de ser fiel a tudo menos a mim mesmo. Não há como moderar meu comportamento : vou nos lugares onde sei que vou encontrar a escória e simplesmente mato quem estiver na minha frente. Não tenho o que esconder de você. Faltam-me motivos para continuar suportando-os. Por que eu não deveria cravar uma faca neles ? Para mim, é como se estivessem mortos. E não se tira vida de cadáveres. Eu estava apenas os enviando para as sepulturas.