2.27.2012

Matéria na revista Silk-Screen




Saiu uma matéria sobre a Ugra Press e o processo de confecção do Tudo o que é grande se constrói sobre mágoa na edição de fevereiro da Silk-Screen, uma revista que desde 1984 se dedica ao mercado serigráfico através de excelentes artigos técnicos e  reportagens sobre as mais diversas aplicações da serigrafia.

A matéria foi feita pela Paula Cabral, editora do Zine Qua Non. Foi uma ótima maneira de mostrar, em um veículo dedicado aos profissionais de serigrafia, que há possibilidades de utilizar o silk também em produção de livros e revistas, com resultados muito interessantes. Fica aqui o meu agradecimento público pela matéria e pelo envio de um exemplar da revista ;-)

                              

Saltan dando uma força, valeu!



2.24.2012

Igreja do Livro Transformador


Desde a infância gosto de igrejas católicas. Formado em um lar onde as imagens de Jesus e Maria estavam (ainda estão) presentes, a admiração por templos do catolicismo conviveu pacificamente com o ateísmo militante que nutri durante anos. Deve ter sido por isso que o nome Igreja do Livro Transformador causou em mim uma sensação de imediata admiração e curiosidade.

Imaginei a princípio que se tratasse de uma dessas novas acefalias evangélicas, que inventam 14778 novo nomes diariamente para seus ridículos cultos que agigantam contas bancárias na exata proporção em que diminuem mentes. Para minha surpresa o livro em questão não era a Bíblia, a transformação não era pela fé, a igreja não era divina: era um convite para as pessoas darem testemunhos sobre o livro que, após lido, proporcionou alguma importante mudança em suas vidas.

A Igreja do Livro Transformador começou como uma brincadeira do escritor Luiz Ruffato, e terminou se espalhando em sites e eventos literários pelo Brasil todo. Novos convertidos ao credo do Livro Transformador ajudaram a espalhar a boa nova, que tomei contato através do site InterrogAção. Lá, eles convidam os novos adeptos a algo muito simples: gravar um depoimento em vídeo sobre o livro que transformou sua vida. 

Eu até gostaria de ter coragem de me filmar falando algo sobre isso, mas todas as vezes que apareço frente a uma câmera o resultado é desastroso, então prefiro a covardia da escrita para fazer isso e dizer que o meu Livro Transformador - assim mesmo, com letras maiúsculas, pois se trata de algo para se venerar - foi Noites Brancas, do Dostoiévski. Essa diminuta novela me ofereceu a oportunidade de mergulhar, profunda e completamente, na desgraça que é experimentar um amor não correspondido. É na primeira juventude que a decepção amorosa acontece como se fosse uma experiência do absoluto, e eu tinha dezesseis anos quando isso aconteceu. Se não me engano, comprei Noites Brancas em um sebo no centro de Santo André, onde eu morava na época, e o li em apenas uma tarde. A dor do personagem era a minha dor, a Nastienka que vai embora e deixa o narrador sozinho em uma rua deserta era a minha Nastienka, para sempre longe e distante. Acho que nunca me envolvi emocionalmente em tão alto grau com um livro, a ponto de a imagem de Nastienka acompanhar-me por longos e longos anos como um arquétipo pessoal do amor sexual não realizado, da promessa impossível de uma felicidade sem limites. 

Mas não foi apenas a produção de fantasmas que esse livro gerou: ele também me ensinou que a literatura pode servir como ponte para experiências internas extremas. O sofrimento intensificado pela leitura de Dostoiévski foi a primeira dessas experiências, e talvez sem a leitura de Noites Brancas, exatamente naquele momento, eu jamais teria me relacionado com a literatura da maneira como faço hoje em dia. 

Abaixo um vídeo de Luiz Ruffato, explicando melhor os preceitos da Igreja.

2.08.2012

O trabalhador, por Frithjof Schuon



"Como definir a posição ou a qualidade do trabalhador moderno? Responderemos em primeiro lugar que o "mundo do trabalhador" é uma criação totalmente artificial, devida à máquina e à vulgarização científica que a esta se liga; dito de outro modo, a máquina cria infalivelmente o tipo humano artificial que é o "proletário" ou, antes, ela cria um "proletariado", pois se trata, em tal caso, essencialmente de uma coletividade quantitativa e não de uma "casta" natural, ou seja, que tivesse seu fundamento em determinada natureza individual. Se se pudesse suprimir as máquinas e reintroduzir o antigo artesanato, com todos os seus aspectos de arte e de dignidade, o "problema do trabalhador" deixaria de existir; isto vale mesmo para as funções puramente servis ou para os ofícios mais ou menos quantitativos, pela simples razão de que a máquina é inumana e anti-espiritual em si. A máquina mata, não somente a alma do trabalhador, mas a alma enquanto tal, portanto também a do explorador: o par explorador-trabalhador é inseparável do maquinismo, pois o artesanato impede esta alternativa grosseira por sua própria qualidade humana e espiritual. O universo maquinista é acima de tudo o triunfo da ferragem pesada e dissimulada; é a vitória do metal sobre a madeira, da matéria sobre o homem, da astúcia sobre a inteligência; expressões tais como "massa", "bloco", "choque", tão frequentes no vocabulário do homem industrializado, são totalmente significativas para um mundo que está mais perto dos insetos do que dos humanos. Não há nada de surpreendente no fato de que o "mundo do trabalhador", com sua psicologia "maquinista-cientificista-materialista" seja particularmente impermeável às realidades espirituais, pois ele pressupõe uma "realidade ambiente" totalmente artificial: ele exige máquinas, portanto metal, ruídos, forças ocultas e pérfidas, uma ambiência de pesadelo, do vaivém ininteligível, numa palavra, uma vida de insetos na feiúra e na trivialidade; no interior de tal mundo, ou antes de tal "cenário", a realidade espiritual parecerá uma ilusão patente ou um luxo desprezível. E não importa qual ambiência tradicional, ao contrário, é a problemática do "trabalhador" — portanto maquinista — que não teria mais nenhuma força persuasiva; para torná-la verossímil é preciso portanto começar por criar um mundo de bastidores que lhe corresponda e cujas próprias formas sugerem a ausência de Deus; o Céu deve ser inverossímil; falar de Deus deve soar falso."

Trecho extraído do livro "O Sentido das Raças" de Frithjof Schuon (1907-1998), principal porta-voz da Escola Perenialista. Sua obra permanece como uma das mais profundas incursões no estudo comparativo entre as religiões ocidentais e orientais, em busca (não apenas intelectual) de uma "verdade essencial" presente em todas as formas reveladas.As partes grifadas são minhas e eu encontrei esse trecho publicado nesse site.

2.06.2012

II Ugra Zine Fest

Já reserve na sua agenda: dias 9 e 10 de março acontecerá em São Paulo a segunda edição do Ugra Zine Fest. 


O evento organizado pela Ugra Press é uma verdadeira overdose de atividades ligadas ao universo dos fanzines e das publicações alternativas. Oficinas, palestras, vídeos, exposições e muito mais, e nesse ano com a presença de caras como o quadrinista Marcatti e o agitador Nenê Altro.