1.06.2009

Natal ateu

Eu deveria ter postado esse vídeo ano passado, como uma mensagem de "Merry Christmas" para todos os que porventura passassem por aqui. Acabei esquecendo, desorganizado por natureza que sou. Utilizei este vídeo como resposta a um comentário do post antecedente, mas creio que Pat Condell merece mais do que isso. E apesar da mensagem chegar até você com atraso, ela não deixa de ser uma mensagem atual.

1.01.2009

O nada do Revéillon

Acordar. Ir ao trabalho após uma noite mal dormida. Nem tomar banho para chegar rápido e rápido ir embora. É dia 31 de dezembro de 2008, um dia como qualquer outro. Um ano acaba e começa todos os anos e as pessoas ainda festejam. Não vejo motivos, mas mesmo assim sempre passo a virada festejando. Contradição, quem não as tem que atire a primeira pedra, disse Jesus (há uma bíblia na sala de minha casa, estranho ter uma bíblia em uma casa de pessoas com tão pouca fé, mas acredito que em todos os lares as coisas são assim). Contradições ou pecados? Não importa, ambos são louváveis. Haverá fogos e bebidas e comida e a tradicionalíssima lentilha. Penso nisso enquanto vou ao trabalho. Ruas vazias. Lojas fechadas. Se não fossem as decorações natalinas, eu diria que o mundo tinha alcançado um estado de semi-perfeição, bastando para isso apenas o ocaso do Sol. Ou talvez nuvens de densidade megalítica, o que daria no mesmo. Choro e ranger de dentes. No Apocalipse de São João o dia do Juízo Final é descrito como um dia de trevas sem Sol (lembrança falha, a bíblia na sala, não quero ir até lá). Seria por isso um dia triste? O elevador sobe dez andares. Sentar na mesa. Nada para fazer. Refletir. Qual o sentido de minha presença neste lugar. Sorrir para as pessoas que como eu acordaram forçadas para chegar, sentar e nada fazer. Passa alguém pela minha mesa para dedicar um feliz ano novo. Não sei como responder. Falar sempre foi uma tarefa difícil, mas responder a isso requer esforço demasiado. Desejar um ano de felicidades é algo muito sério. Cabe em um ano acontecimentos inúmeros. Como desejar felicidade a alguém por 365 dias e ser sincero ao falar isso? Diz-se que todos são sinceros nessa hora. Eu tento ser, mas minha vontade é dizer: "olha, eu não sei como será seu ano, possivelmente será duro e repleto de contratempos, talvez algum ente querido morra, talvez você morra, então esteja preparado, a gente nunca sabe, não é mesmo?". Mas a realidade está aí para ser escondida, deturpada e enfeitada com mil palavrinhas sabor-qualquer-coisa-menos-amargo. Dizemos então "Feliz ano novo!", sorrimos, trocamos beijos, trocamos abraços. O discurso nos salva da chatice dos chatos e brindamos com espumantes, alguns pulam ondas, há aqueles que oferecem presentes para Iemanjá, e isso é também uma forma de discurso. Um forma de salvação. Fujo do trabalho-nada, ganho as ruas novamente, vejo perto do Largo da B. algumas lojas abertas. Não sei o que as pessoas tanto compram. Em breve, os livros escolares ensinarão que as funções vitais do homem são comer, beber, respirar. defecar, reproduzir e comprar. Liberais darão saltos de alegria nesse dia, fiéis loucos que são todos eles da demência do Mercado. O metrô está vazio, sub-percorrendo a Paulista, que em breve estará como um formigueiro, dançando, suando e rebolando ao som de alguma trilha sonora erótica dos grupos de música popular. Haverá brigas, assaltos e vômitos espalhados pelos cantos das ruas próximas. Policiais de saco cheio vão esbofetear uns tantos quantos, e cada tabefe dado será um alívio, o equivalente a um copo de cerveja não bebido. Há aqueles que se embebedam com doses de violência, eu mesmo já tive meus deleites e confesso que isso vicia. Sair do metrô. Chegar em casa. Arrumar a mala. Ir viajar. Repetir o ritual de milhões, jogar-me de cabeça no nada do Revéillon, dar abraços e beijos na primeira hora do ano novo, sorrir, festejar, deixar a Mentira sentar em seu trono de rainha e açoitar com seu cetro as costas arqueadas da Realidade.