9.17.2018

Sobre desejo e conexões




O que desejamos com paixão e intensidade, quando acompanhado de ações concretas, tende a realizar-se mais cedo ou mais tarde. O desejo atua como um combustível para o agir: nos impulsiona a ir além, cada vez mais ao extremo, cada vez mais na fronteira de nossos limites.

Quando lancei o primeiro número do Dissolve Coagula desejei que cada página, cada texto, cada imagem fosse um ato devocional às potências infernais. Elas seriam não apenas um amontado de tinta sobre papel dissertando sobre metal negro e magia obscura, mas verdadeiras ESPADAS DE MORTE que incentivariam a rebeldia, o ódio e a negação da Criação. Espadas que rasgariam pensamentos limitadores e cortariam amarras espirituais. Espadas que, cunhadas nas forjas de Lúcifer, promoveriam a matança dos egos e libertariam as Chamas Negras nos soldados da armada de Maiorial. Eu desejei isso com força, e rezei para que esse desejo infectasse cada exemplar do fanzine, espalhando confusão por onde passasse, como um vírus espiritual propagador de influências nefastas. Para os incautos representaria tão somente diversão, textos sorvidos com pouca (ou nenhuma) profundidade. Mas no solo fértil dos que já tinham em si tendências dissolutivas, eu ansiava plantar sementes que frutificariam em negros frutos de Sabedoria Oculta, possibilitando inclusive na criação de elos com indivíduos e egrégoras que buscassem os mesmos objetivos espirituais que eu buscava. Pois meu caminho até então foi feito de modo solitário, e eu era impelido a buscar conexões com outros para aprender, compartilhar e evoluir.

Devido a esses elos, intensifiquei minha participação junto à egrégora da Corrente LTJ49, no Templo de Quimbanda Maioral Beelzebuth e Exu Pantera Negra. Meu primeiro contato com eles foi através de uma entrevista para o site Rat Hole (essa entrevista aqui http://www.chaosophie.net/?p=1589) e desde o primeiro momento me identifiquei plenamente com a forma como eles pensavam a espiritualidade negra e a Quimbanda. Após alguns contatos por mensagens e a participação em algumas atividades abertas, fui conhecendo mais sobre a Corrente 49 e as pessoas que dela fazem parte. Nessa relação mais próxima com as práticas e alguns membros pude compreender melhor diversos aspectos da Quimbanda, o que me trouxe ainda mais identificação, além de entender também que tudo que se fala de negativo sobre o Templo - que são falsos, aproveitadores, pretensiosos angariadores de black metallers deslumbrados com Dissection, etc - não tem nenhuma base de realidade. Tenho zero interesse em intrigas: assim agi durante toda a minha vida em relação a assuntos mundanos. Quando se trata  de questões espirituais, esse desinteresse toma feições quase militantes. Pois bem: as críticas direcionadas ao TQMBEPN me parecem mais o resultado de uma querela egóica do que qualquer outra coisa. Justamente pela postura antidogmática e plural do sistema da 49, ele pode causar certo desconforto em pessoas e seguimentos mais tradicionalistas, e os ataques que vi à Corrente tem exatamente esse desconforto como base, muitas vezes sem um contato direto com seus membros. 

De longe considero meu contato com a LTJ49 o mais fecundo dos elos que o Dissolve Coagula me proporcionou. Foi ali, junto ao solo sagrado da Corrente, que tive meus primeiros contatos com Exu e Pombagira. Conversar com os espíritos de modo direto, partilhar de suas energias, intensificar-se nessa egrégora proporcionou-me gnoses que eu jamais havia experimentado. São conhecimentos que não se traduzem em palavras, ou dificilmente conseguimos através delas expressar. Saberes que falam, em um idioma selvagem, sobre aquelas feridas íntimas que desejamos esquecer, sobre aqueles medos inconfessos, sobre as limitações que nos envergonham. Pois é assim a experiência com Exu: no limite do trauma, nos empurrando para abismos cada vez mais profundos onde, em uma escuridão absoluta, encontramos a Luz Verdadeira que liberta. Humildemente reconheço que estou como um simples neófito na minha caminhada junto aos espíritos, mas o pouco que eles já me ofertaram funcionaram como pérolas e, em profunda gratidão, sigo buscando uma conexão mais profunda com eles.

Outro elo construído através do fanzine foi com indivíduos sérios ligados à Corrente 218. Apesar de nosso contato inicial ter tido como pano de fundo o metal negro, a amizade que se desenvolveu e o nível da discussão seguiu um direcionamento muito mais voltado para questões espirituais e magísticas do que puramente musical. Falamos muito sobre as entidades negras, que são energias bastante distintas daquelas que encontramos nas giras de Quimbanda, e as quais estudo e medito com reverência e atenção, mas sem (ainda) buscar uma conexão mais direta. Entendo que tudo deve ocorrer em seu devido tempo e o meu, nesse momento, tem como foco primordial a Quimbanda. Há certas proximidades entre as Correntes, mas por demais abstratas, e no específico da ritualística diferem de maneira bastante acentuada. Por esse motivo, e inclusive como forma de não misturar egrégoras de maneira irresponsável, tenho mantido minha prática e estudos direcionados, embora veja de maneira muito positiva a relação com essas pessoas. Uma maneira de encontrar aliados mais experientes do que eu, e que podem servir como referência e aconselhamento para desenvolvimentos futuros.

2.03.2018

Dissolve Coagula fanzine - número 1 disponível



Oficialmente lanço hoje o primeiro número do fanzine Dissolve Coagula. Com 64 páginas, ele é resultado de um trabalho iniciado em outubro de 2017 e consolida um interesse antigo em voltar a produzir fanzines impressos, algo que eu não fazia desde o início dos anos 2000, quando publiquei o último número do Reflexões de um Anticristo.

Um breve resumo sobre essa primeira edição:

VALORES
O fanzine sai por R$ 25,00 + frete. Para adquirir, você deve entrar em contato pela página do Dissolve Coagula no Facebook ou pelo e-mail archeo@riseup.net para que eu te passe os dados de depósito. Trocas e pedidos de distribuidores serão analisados.

A prováveis imbecis que vão falar que estou ganhando dinheiro com o fanzine e sendo um "sanguessuga da cena", já aviso: MORRAM.

ENTREVISTAS
Foram quatro entrevistados: Lucifer Luciferax, publicação voltada para o Caminho da Mão Esquerda editada pelo camarada Pharzhuph, é seguramente uma das publicações mais interessantes sobre o tema aqui no Brasil e com certeza figura entre as principais inspirações para a produção do fanzine; Vulturine, veteranos do black metal que estão prestes a lançar seu novo opus em março pela Drakkar Brasil, uma das bandas com mais personalidade na cena nacional; Círculo Hermético Pvtridvs Vox, grupo de cunho necro-esotérico que congrega algumas hordas nacionais profundamente conectadas com os aspectos espirituais do metal negro, tem desenvolvido atividades bastante interessantes e compromissadas; Vazio, horda paulistana com pouco mais de um ano de existência cujos integrantes, com raízes na cena punk, criaram um som que se conecta espiritualmente com a Corrente 218, fato que me chamou a atenção e motivou a entrevista. 

RESENHAS DE LIVROS
Leituras são sempre importantes para todos aqueles interessados pelos caminhos opositores da Mão Esquerda. São quatro as obras resenhadas: Cabala, Qliphoth e Magia Goética, de Thomas Karlsson; O Renascer da Magia, de Kenneth Grant; Thursakyngi, de Ekortu; A Arte dos Indomados, de Nicholaj de Mattos Frisvold; O Despertar de Cthulhu em Quadrinhos, da editora Draco. Todas as resenhas são muito particulares, não tendo nenhum objetivo de servir como guia de leituras ou uma visão definitiva e "correta" sobre tais obras. 

RESENHAS DE DISCOS
Música é algo que não passo sem ouvir um dia sequer. Meu gosto musical não se prende a apenas um estilo, mas para o fanzine eu procurei manter o material resenhado restrito a alguns estilos: black metal, power electronics, noise e dark ambient. Para o primeiro número as resenhas ficaram em sua esmagadora maioria em discos black metal, todavia isso irá mudar para os próximos números, onde os outros estilos citados terão incisivamente mais espaço. Por uma razão: são estilos onde vejo borbulhar o desejo de ir além da simples música (ou anti-música, no caso do noise), algo que aprecio fanaticamente. Também contarei com mais algumas pessoas escrevendo resenhas para os números futuros.

MATÉRIA SOBRE A ORDEM DOS NOVE ÂNGULOS (ONA)
Essa foi uma das primeiras ordens que conheci, na época onde os fóruns de discussão do Yahoo! bombavam e a Internet vivia sua infância, aquele tempo quase mítico onde nem o Orkut ainda existia. O extremismo físico de seus ordálios, sua aposta na clandestinidade e em um panteão formado por entidades longínquas e inomináveis conquistaram minha atenção, e eu li tudo o que pude a respeito da ONA ao longo dos anos. Essa matéria é uma espécie de acerto de contas com esse interesse, onde faço uma espécie de linha do tempo da Ordem dos Nove Ângulos, descrevo os tópicos de suas principais obras e a estrutura de seu sistema iniciático. As controvérsias envolvendo as ligações da Ordem com o neonazismo também são tratadas nesse texto, inclusive não se limitando a uma simples exposição de "fatos", mas sim buscando uma visão crítica a respeito do tema. 

NOISE E AFINS
Thiago Miazzo é um amigo que se dedica a produzir noise/harsh e outras (anti)musicalidades, e eu o convidei a escrever uma coluna sobre o tema, buscando abordar obras que tenham mais ou menos relação com temas mágicos/esotéricos. Nessa primeira coluna, que dá o tom de suas participações futuras, escreve um apanhado geral de diversas iniciativas, a maioria nacionais. Já tenho falado com o rapaz sobre como poderemos ampliar a discussão para os números vindouros, de modo mais amplo e radical.

FICÇÃO
São três textos. Um deles, "Nos braços de Nuit", compareceu primeiramente no fanzine "A Primeira Vez", do amigo Márcio Sno, produção que compilou textos onde homens falavam (de modo literal ou inventado) sobre suas primeiras experiências sexuais. Eu gostei muito de escrever esse texto, e pedi ao Sno permissão para inclui-lo no Dissolve, pois via nele certas conexões com o tema geral do fanzine. Adianto a eventuais curiosos que jamais confirmarei se a narrativa corresponde de fato a experiências vividas ou inventadas (e no final das contas isso realmente importa?). Outro é uma carta que escrevi a uma pessoa que gostaria, muito, de ter em meu círculo de amigos, mas que por motivos de força maior jamais terei essa possibilidade. O outro é parte de um projeto mais amplo, que será lentamente desenvolvido nas páginas do Dissolve, projeto que apenas os que tiverem olhos para ver nas entrelinhas entenderão a motivação.

CAPA E CONTRACAPA
Um dos pontos que coloquei como princípio para o Dissolve Coagula foi sempre ter artistas diferentes desenhando a arte das capas e contracapas. Mas não quero apenas contar com o talento artístico: para mim é importante que a pessoa tenha conexões verdadeiras com a espiritualidade canhota e um real interesse pela Força Opositora da Escuridão. Acredito que isso fortalecerá a egregóra que criei em torno dessa publicação. É por isso que pedi para a Paula Rueda fazer a capa dessa primeira edição. Já conhecia o trabalho dela como ilustradora e tatuadora, e eu não podia ter feito melhor escolha para essa edição inaugural do fanzine. Paula captou com perfeição o clima que eu queria dar e fez dois desenhos espetaculares, carregados de simbolismo e densidade. Sua participação também é um marco para dar a esse fanzine ainda muito masculino uma participação feminina de peso, algo que pretendo equilibrar na próxima edição com a participação de mais mulheres em suas páginas. Embora o Sinistro despreze as distinções entre os sexos como meros traços mundanos, vejo que há características energéticas e astrais típicas de cada um, e que pretendo congregar mais e mais nas páginas do Dissolve. 


ÚLTIMAS (E NECESSÁRIAS) PALAVRAS
Todo o processo de montagem foi feito 100% na base de tesoura, régua e cola. Apenas o arquivo final foi fechado em Photoshop, e sem a ajuda do Douglas Utescher da Ugra Press, comparsa em tantas presepadas ao longo dos anos, eu estaria provavelmente a esta hora ainda tentando finalizar o arquivo para enviar à gráfica. Fiquei extremamente satisfeito com o resultado final, pois conseguiu alcançar o nível que eu tinha em mente. Para os próximos números, teremos algumas alterações no esquema da diagramação, mas o compromisso de ser 100% manual está mais do que mantido. É honesto com meus interesses e gostos, além de impregnar cada centímetro da obra com uma "irreprodutibilidade técnica" que gosto muito, uma espécie de aversão em nível simbólico da produção serializada de bugigangas do capitalismo. Ao mesmo tempo, não vejo e não quero fazer desse caráter artesanal algo que tenha estatuto artístico. Foda-se isso! Nada do que é feito no Dissolve Coagula tem intenção de ser meramente arte ou entretenimento. Ele é e sempre será, sem nenhuma modéstia, a cristalização do meu desejo de criar verdadeiras Espadas de Morte, de cujas páginas que escorrerão sangue; páginas que conduzirão mentes pelos territórios inóspitos do questionamento, da dúvida e da incerteza, essas bênçãos da Escuridão; páginas de onde emanações adversárias, transformadas em textos, agirão como venenos nas consciências escravizadas pela Falsa Luz Demiúrgica e instigarão nos portadores da Chama Negra ímpetos de rebelião e ódio.


1.22.2018

Fanzine Dissolve Coagula: reta final



Desde outubro de 2017 eu estava trabalhando em um fanzine impresso. Pois bem: hoje, 21 de janeiro de 2018, finalizei o arquivo digital para envio à gráfica, com o cuidadoso auxílio do mestre da diagramação, o ugro Douglas Utescher da Ugra Press, valoroso aliado há mais de 20 anos em uma série de projetos sempre marcados pelo extremismo.

O fanzine terá um total de 64 páginas em formato A4 e serão produzidas 150 cópias. Começo de fevereiro estará disponível. Valores e esquema de distribuição estão ainda a definir, mas a proposta é manter tudo de forma acessível, sem apelar para exclusivismos burgueses para elevar o preço artificialmente - o Dissolve Coagula antes de qualquer coisa é um fanzine que coloca suas fichas na velha tradição contracultural que acredita no poder subversivo e anti-comercial dos artefatos emanados dos subterrâneos.

Além da aposta na tradição contracultural, eu também faço do fanzine Dissolve Coagula um material com intenções claras de estabelecer elos com espíritos livres interessados pelos mesmos temas que neles serão abordados, a saber: magia, metal negro, literatura, noise, power electronics e outros assuntos mais ou menos relacionados com o Caminho da Mão Esquerda, o grande eixo temático da publicação.

Especialmente nos últimos três anos tenho dedicado mais tempo ao desenvolvimento de minha espiritualidade, não somente através do estudo mas da prática. 2017 foi um ano marcado por revelações e experiências profundas nesse campo, em mais de um aspecto. O fanzine é uma forma de reverenciar e aprofundar essas experiências. Não seria correto dizer que ele é o meu "grimório aberto", mas haverá ali, em suas páginas, muito da minha busca, uma espécie de "diário de viagens" pelos reinos selvagens da espiritualidade obscura que, desde muito cedo, me cativavam por suas belezas raras.

Aos que seguem o blog desde o seu nascimento em 2006, que naquele então tinha exclusivamente um foco em textos ficcionais de minha autoria, talvez esse direcionamento seja de pouco interesse. Entretanto, eu já tinha uma tendência de cada vez mais deixar a ficção de lado aqui no blog, e de uns quatro anos para cá o teor dos textos foi mudando de tom, indo mais para o ensaio/resenha do que especificamente literário. Entretanto não abandonei a ficção, e nesse número inaugural do fanzine há dois textos inéditos. Pretendo, inclusive, aumentar a quantidade de ficção no próximo número.

Volto aqui quando estiver disponível.