Se todo mundo prefere ficar feliz, por que a gente não desiste de vez da bandeira da ordem e progresso e assume definitivamente essa ficção barata da felicidade moribunda, podre, mijada, essa imagem aprimorada da brasilidade enlatada que é boa pra todo mundo?"
Esse é a fala de um trecho do filme Cronicamente inviável, do Sérgio Bianchi. Lançado em 1999, sua crítica implacável aos costumes brasileiros ainda permanece com o mesmo grau de virulência. Mesmo grau? Não, não, dizer isso é completamente equivocado: passados onze anos desde o lançamento do filme, o trecho que acima transcrevi, que fala sobre a Bahia, pode ser muito bem aplicado a todo o país. Nunca se desejou tanto a felicidade, agora não mais uma promessa longínqua, um prêmio no futuro, a construção de uma vida. A felicidade tornou-se essa arrebatadora demência de se jogar em um bundalelê festivo de qualquer espécie, do Norte ao Sul do país. A "genialidade do projeto baiano" que Bianchi apontou há mais de uma década conquistou, enfim, a hegemonia nacional.
E nessa busca pela felicidade há opções para todos. Noites de gala em camarotes de milhares de reais, viradas culturais embaladas a álcool e vômito, shows punks que são mais como seitas religiosas de fanáticos alheios ao mundo, estupidificantes rebolations de corpos esculpidos em academia. Opções não nos faltam nessa ânsia por um pouco de felicidade, na esperança que a música alta nos induza a uma catarse dos males que nos aborrecem.
Esse mundo fica cada dia melhor. Agora, o trecho do filme:
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