1.16.2012

Hinos da The Process Church of the Final Judgement


Lançado em 2010 através de uma parceria entre a casa editorial Feral House e o sêlo de occult black metal Ajna, Restored to One é o disco do Sabbath Assembly que apresenta versões do hinos rituais de um dos cultos mais controversos dos últimos anos, a The Process Church of the Final Judgement.

Agora um pouco de história.


The Process, como é mais conhecida, nasceu nos anos 1960 na Inglaterra, pelo enigmático casal Mary Anne e Robert DeGrimston. Em poucos anos, espalhou-se por outros países europeus e alcançou os Estados Unidos durante a década de 70. Sua teologia sustenta que há Três Grandes Deuses no Universo: Jeová, Lúcifer e Satã, sendo Cristo seu mensageiro. Aproximando-se das teorias junguianas, assim DeGrimston os descreve no início de seu livro The Gods and their people:

Conscientemente ou não, apaticamente, entusiastica ou fanaticamente, sob incontáveis outros nomes pelos quais nós os conhecemos, e sob numerosos disfarces e descrições, os homens seguiram os Três Grandes Deuses desde o início da Criação. Cada um de acordo com sua natureza.
Pois os Três Grandes Deuses representam os três padrões humanos básicos da realidade. Dentro do panorama de cada um desses padrões há incontáveis variações e permutações, com variadíssimos graus de presença e intensidade. No entanto, cada um representa um problema fundamental, uma força motriz de raízes profundas, uma coleção de instintos e desejos, terrores e revulsões.
Acreditavam que o amor era o elemento fundamental que faria com que a Criação se consumasse, através da reconciliação entre Satã e Cristo - reconciliação que ocorreria no Dia do Juízo Final, quando "Jesus julgaria, e Satã executaria o Julgamento". Ou como era dito nas cerimônias da The Process, denominadas "Sabbath Assembly":

Pure Love, descended from the Pinnacle of Heaven, united withe Pure Hatred raised from the Depths of Hell
A atração e repercussão gerada pela The Process no ambiente cultural underground durante os anos 70 não é de se ignorar. Inúmeras publicações trataram de dar conta desse culto, ligando-o, como é de se esperar por parte de certo jornalismo, a sacrifícios humanos, adoração do demônio, etc. Soma-se ainda à mitologia da The Process o fato de que o proscrito Charles Manson publicou uma carta na revista que mantinham, e justamente no exemplar chamado Death, como meio que antecipando os acontecimentos com Sharon Tate. Contudo, foi na revista Apocalypse Culture #1 que encontrei a declaração mais interessante sobre a The Processe, por partir de um sujeito que teve a  oportunidade de presenciar alguns de seus Sabbath Assembly em Chicago, durante os anos 70: trata-se de Rober N. Taylor, criador do grupo folk Changes. Eis como ele resume sua experiência:

Certamente, grande parte da minha atração para a The Process estava em minha busca por algo que estivesse além da atmosfera melancólica que a tecnologia e a burocracia tinham imposto a nossas vidas. Ecologia ainda não era um slogan atrativo para yuppies materialistas,  ativistas de internet e relatórios trimestrais de acionistas de multinacionais. Nós sentíamos  todo o peso de uma era deturpada em que slogans publicitários tomavam o lugar da poesia, acordos contratuais substituiam o amor, e o televangelismo crescia mascarado como espiritualidade. E ao contrário do traje alienígena e decadente dos gurus do Oriente, a The Process tinha um aspecto exterior tipicamente ocidental, neo-gótico: longos cabelos aparados na altura do ombro, barba igualmente comprida, todos eles vestindo capas de mágicos e todos vestindo uniformes pretos. 
Era um vácuo que a The Process preenchia para aqueles que buscavam uma espiritualidade radical, mas sem o pacote exótico que vinha do Oriente, figurado na explosão do movimento Hare Krishna. E os seus elementos mitológicos, buscados na tradição ocidental, deve ter facilitado a sua absorção por certos setores juvenis, especialmente aqueles intoxicados pelo LSD.

Nessa entrevista da Vice, a bela Jex Thoth diz que em uma das apresentações do Sabbath Assembly antigos membros da The Process compareceram, e todos opinaram que as versões modernas dos hinos não tem nenhuma semelhança com as originais. Também pudera: já se vão 40 anos desde que foram criados. Além disso, os cânticos eram sobretudo entoados a capella - enquanto que na gravação atual há instrumentos musicais tradicionais, como guitarra e bateria.

Todavia, algo é inegável: a atmosfera mística que os músicos conseguiram reproduzir. Com uma sonoridade que não deixa dúvidas de sua escola setentista, as canções de Restored to One são um convite para uma apreciação estética de sons que não são deste mundo, que estão na contramão do lodo vulgar que domina a produção musical contemporânea. Sua loucura e demência estão na exata proporção de sua autenticidade, e isso é mais válido do que qualquer hype que bomba na MTV ou na desgraçada cena underground de uma cidade qualquer.

O CD contém nove músicas, ou melhor, hinos, que foram descobertos em um livreto que contem mais de sessenta. É provável que no futuro novos sejam regravados. O CD, além da versão pela Ajna, também acompanha o livro Love Sex Fear Death: The Inside Story of The Process Church of The Final Judgment, que foi lançado pela Feral House

Duas canções do álbum para finalizar. Minha preferida é Judge of Mankind.


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