3.18.2010

Kashiwa Daisuke

Há algumas experiências que são especiais e que nos valem lembranças inúmeras. Também há músicas assim: chegam até nós com seus acordes banais e então nos vemos hipnotizados. Retiram-nos do ambiente prosaico e vulgar do cotidiano, colocam a vida em um novo patamar de Beleza em sua duração de minutos. Mesmo quando as ouvimos de novo, a fruição estética da primeira audição nunca se repete. Ainda nos emocionamos, mas o impacto não é -e jamais será- o mesmo.

Falei dos minutos que duram as canções. Na verdade, as grandes canções são apreciadas fora da escala de tempo ao qual estamos submetidos. Um professor meu disse certa vez que um relógio no pulso só pode ser visto como uma ofensa; é uma espécie de grilhão, mas discreto; aprisiona em larga escala e, pior, pagamos por ele, ou o ganhamos com imensos sorrisos de satisfação. É como se, ao abrir as portas da senzala, fossemos entrando nelas aos saltos.

É por isso que, quando conhecemos certas músicas, elas nos inspiram uma sensação de profundo deleite; respiramos com a leveza que apenas os libertos experimentam; o tempo de duração da melodia nos escapa, e é como se mergulhássemos em um ambiente onde nenhum ponteiro ou ampulheta faz sentido. O ritmo eterno de auroras e crepúsculos nada nos diz. Apenas ouvimos, e de cada nota escorre um saboroso líquido que embebeda a alma.

Kashiwa Daisuke é uma das bandas que conseguem criar canções assim. Eu fui apresentado a essa preciosidade por um amigo. A música abaixo é a primeira do Kashiwa Daisuke que eu ouvi. Na verdade, trata-se de um trecho, pois a versão completa tem mais de 30 minutos. Nada mais posso dizer a respeito: apenas ouça. Certas coisas são ridículas quanto comentadas e estou me sentindo ridículo por ter escrito tantas infelicidades para tentar explicar a música mais maravilhosa que já pude ouvir em toda a minha vida.

2 comentários:

  1. Não é ridículo falar em infelicidades pra se ter a idéia do maravilhoso. Afinal, vc precisou do percurso completo pra poder chegar até aqui e distinguir uma coisa de outra. Ouvi e devo dizer que teu texto foi condizente com a música. Sensacional!

    ResponderExcluir