As cruzes humanas, pesadas, megalíticas cruzes, atormentam as costas dos desgraçados que as carregam. Suas formas são as mais diversas: ora são dívidas, às vezes são paraísos artificiais, outrora uma família que nos deixava feliz e agora só nos vitima com desgostos.
Há cruzes que são filhos inesperados, os quais é obrigatório amar, mesmo que nada nos ligue a eles a não ser as lembranças de um coito sem brilho, apenas mais um coito entre tantos, e que resultou em um ventre fecundo e um novo ser amaldiçoado desde a concepção. Para outros a cruz é um amor cuja voracidade engoliu a tudo, até mesmo da dignidade este amor fez refeições, a tudo devorou, como em geral acontece.
Tudo isso, todas essas cruzes, quando compartilhadas, pesam menos - é o que dizem. Mas a aqueles que renunciaram à própria renúncia, a aqueles cujo prazer supremo é rolar a pedra depois e depois, que mediante o efeito das noites em claro compreenderam a cíclica marcha das eras, lua após lua, sol após sol, a esses nenhuma cruz será mais pesada que o ar que os constrangem. A esses que, do peso infinito das horas, em uma alquimia que apenas os fortes conhecem, são capazes de rir e manter-se firmes, as cruzes que carregam jamais poderão ser compartilhadas totalmente - e cientes disso caminham para as altas montanhas, cientes disso descem para as profundezas dos abismos.
Tô lendo Genesis do Crumb...faz refletir também...
ResponderExcluirAnselmo - minervapop.blogspot.com