Inspirado pelo post anterior sobre Deleuze, andei a pensar nestes dias a respeito das relações existentes entre literatura e filosofia, ou melhor dizendo, da literatura e seus "personagens filosóficos".
Aqui, obviamente, é impossível não lembrarmos de alguns nomes. E em minha lista, Raskholnikov ocupa o topo, pela sua fúria destruidora de mundos, cujos questionamentos não pouparam sequer a si mesmo. Mas apenas ele não basta, e também podemos colocar aqui Herman Hesse, Álvaro de Campos, Saramago, Kundera... (se alguém estranhar que comecei com um personagem e continuei a lista apenas com autores, aviso que para mim Raskholnikov é tão real quanto eles, e até mais vivo que muita gente que anda por aí, cheia de saúde).
Eu tinha 17 anos quando li Crime e Castigo. Hoje, 12 anos e muitos outros romances depois, posso dizer que os que mais gostei foram aqueles que mais filosofia me trouxeram. É por isso que "Seara Vermelha" me causa tédio: ali há enredo, há personagens, há situações, há cenários, mas me falta o choque de idéias e questionamentos que encontro ao ler "Crônica da Casa Assassinada". O que os separa não é apenas a opção política, Jorge Amado o comunista, Lúcio Cardoso o católico liberal, mas a amplitude das questões que afetam as personagens e o próprio narrador. Tampouco isso se determina pelo comunismo chato de Jorge Amado, já que Saramago é um vermelho de carteirinha e me fez chorar e destruir uns dois conceitos antiquados sobre a vida com "O Ano da Morte de Ricardo Reis".
Imagino que romances Cioran escreveria, se tivesse estômago para criar um mundo e nele colocar personagens. Aspirante que era a ser um eterno objeto, certamente consideraria a tarefa desonesta demais. Este texto ainda não acabou e certamente escreverei mais a respeito do diálogo sempre fecundo entre literatura e filosofia.
O que na vida é real (ouso em usar a palavra "real")sem algum questionamento filosófico?
ResponderExcluirbjs
Inicio agora o meu interesse pela literatura. Interesse por gramática e português, nunca me foram ausentes.
ResponderExcluirMas faltava alguma coisa!!!
...
Faltava uma exelente professora, baixinha, que tinha uma voz suave, e sabia dar uma aula como ninguém.
O Fundo da Sala: onde ninguém a ouvia e ficava conversando. Poucos(3, 4 ou 5) sentavam nas cadeiras mais próximas da professora para contemplar aquela ótima aula, todos aproveitavam para conversar. Não nego, que até eu durante algumas aulas não saia do lugar, e ficava a bater papo. Mas na maioria delas, eu puxava a minha cadeira pra frente e ouvia o som da minha corda estourar, logo eu caí nesse mundo mágico do interesse literário.
PS: Quando eu acabar o meu primeiro livrinho interessante de Saramago, pretendo ler "O Ano da Morte de Ricardo Reis", não sei exatamente o por quê, mas algo me faz querer muito ler esse livro.