11.15.2007

Caminhos indefinidos



"(...) E você ainda se interessa pelas pessoas? Puxa, isto é mágico. Já vi que cheguei no ponto que não consigo mais amar de forma pura. Quando um sentimento me assalta, eu imediatamente me questiono, é automático, sinto uma espécie de voz interior falando `O que você quer nesta pessoa, de verdade? São os sentimentos dela? As idéias? O corpo? Uma gozada? A possibilidade de dominá-la e fazê-la acreditar que você a ama para, depois da conquista, você rejeitá-la como já fez com tantas? Ora, M., seja sincero, você só ama os seus próprios desejos´. E eu devo concordar com esta voz: eu sou absolutamente egoísta. Até mesmo no sexo, mesmo que eu me preocupe em dar o máximo de prazer para a mulher que está comigo, é porque no fundo me move a suprema vaidade de me considerar uma espécie de deus do amor, capaz de vê-la(s) delirando, e pedindo mais, e eu negando em palavras o que proporciono com gestos. Pois é assim que funciono, que sempre funcionei, mas agora pareço que chego aos últimos estágios de desenvolvimento: eu como um mestre de mim, um déspota, um déspota que quer corações e mentes e corpos, e cuja vontade é insaciável."

"(...) Éramos muito imaturos, mas queríamos mudar tudo dentro de nós, quebrar tabus, criar nossas próprias regras, como se tudo isso estivesse sendo vivido pela primeira vez. Tudo diferente do que estávamos acostumados, diferente do modo que fomos condicionados a lidar com os outros e com nossos sentimentos. Sabe o peso do amor? Era esse peso que queríamos liquidar. E eram muitos sentimentos por muitas horas e ininterruptos. Amor demais. Paixão demais. Ódio demais. Raiva demais. Tristeza demais. Felicidade demais. Liberdade demais. Conversas longas, discussões e consenso. Criamos muito silêncio e caos simultaneamente. Conseguíamos sempre machucar um aos outros sem se ver. Constantemente silenciosamente atacados e atacando. Por ações tão comuns, distraídas. Em três instantes só eu tive tudo com todo mundo ao mesmo tempo. E tudo isso me fez ser cética, imoral, me fez destruir o ciúmes e muitas vezes buscar apenas o desejo. E o que mal existe nisso? Não existe mal. Que mal existe em querer sexo? Ou um corpo? Ou idéias? Precisamos saciar nossos desejos? Com certeza! Somos feitos de desejos. Eles estão dentro de nós e se não sacia-los, alguma hora eles comerão nossas entranhas. "

3 comentários:

  1. Eu fiquei confusa com o texto... acho q vou ler mais uma ou duas vezes, quem sabe eu pegue o espirito da coisa
    auahauihaoiua

    Só entendi a parte em que eu me encaixo...
    Não sou assim...
    Mas estou numa fase, em que nada além de mim e de minha felicidade importam...

    As vezes me sinto vazia...

    e as vezes me sinto completa..

    é realmente um sentimento louco....

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  2. Aspas sem fonte. Duas fontes. É com M. que ela fala e de quem fala?

    Corajoso M. em expor a "consciência" desse nosso egoismo essencial que tentamos esconder a todo custo com palavras contrárias e cínicas. Eu me pergunto como ainda algumas pessoas não notam nosso cinismo, ou como o compreendem bem e assumem melhor ainda tal cinismo? Talvez esse compartilhamento do cinismo seja o que fomenta as melhores horas de sexo/amor/ódio... minha opinião, pelo menos. Q achas, coisa ruim?

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  3. Sim, M. fala com alguém oculto, e muito especial... É isto o trecho de longas conversas internéticas, que achei tão essenciais, que resolvi aqui compartilhar.

    Ora, cinismo? Somos todos um bando de cínicos! Lembra do filme "Closer"? Pois é, aquilo fala muito a respeito disso tudo, e ali, na tela mágica da sétima arte, vi materializado muitos dos meus pensamentos. Mas eu acho, Insurreta brasiliense, que você está certa: é quando compartilhamos verdades a nosso respeito, e principalmente a respeito de nosso cinismo, que boas horas de sexo e ódio surgem, mas não de amor... pois acho que este sentimento só sobrevive pelo excesso, e esta sobrevivência só se garante através de algo maravilhoso e que oculta segredos. Sinceridade demais acaba por tornar o outro previsível demais, plano demais, chato demais...

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