8.14.2007

Em uma noite, sonhando com Lúcifer, Ele me disse:

"E que de hoje em diante nenhum momento seu seja feito de alegrias vãs e sentidos vazios; ocupará o seu tempo com criações, as mais belas e terríveis, e nenhum segundo de noites que se arrastam será desperdiçado com ternuras que não te querem e nem com sonhos que jamais foram seus; pois além de qualquer coisa pela qual o seu coração se incline, nenhuma será maior que o firme propósito que está aí, oculto em seu espírito, acessível apenas ao teu íntimo e a mais ninguém; pois queres a fuga de um leito bem aquecido? Ou as carícias de uma mulher que te olha como se fosse Deus? Ora, meu infante, meu doce bobinho, esqueça de uma vez por todas o que te foi ensinado e aprenda: a vida que tu queres é a vida que você mais odeia! Pois o teu Destino, aquele que pulsa desde sempre no Livro da Vida, aquele Destino da qual não se escapa, este Destino diz que a você nada mais há a não ser os seus próprios tormentos. Pois é sua sina estar para sempre apartado de tudo que é trivial, de tudo que conforta, de tudo que poderia fazer as noites mais próximas do Fabuloso. Sim, sim, sua vida é uma ânsia eterna que não se completa.

Quê? Pois isso é uma lágrima? Apague de seu rosto esta fraqueza - pois será a última. Suas noites e dias serão entregues ao confinamento em si. Estás para sempre sozinho. Quando muito, alguns caminharão ao seu lado por tempos. Mas eles irão embora, como todos sempre vão, até mesmo os amigos eternos, lembre-se apenas de quantas amizades você disse que eram para sempre e hoje são apenas fotos colocadas em caixas velhas. Nada mais sensato que aceitar a total dissolução de tudo que vive, e regozijar-se em caminhar breves passadas ao lado de quem lhe é caro - pois apenas passos vocês darão juntos e no final todos estão imutavelmente sós. E todo cansaço físico das noites a fio trancados em seu quarto - o seu único e verdadeiro mundo - jamais será recompensado, se por recompensa você desejar qualquer coisa que não seja conhecimento. Sim, pois conhecimento é o que lhe ofereço, conhecimento de si mesmo e de tudo que a ti se relaciona. Queres paz? Paixão? Felicidade? Pois tudo isso não são conceitos, invenções de homens que vivem febres como as tuas, desejos de aniquilamento como os teus? Nada há para você admirar que não seja a disciplina dos antigos sábios, a sede de Absoluto dos fanáticos, o impulso corajoso dos grandes heróis. Nada fora isso merece teu respeito. Crie, crie sem parar, até que sem forças adormeça, até que o sol volte a aparecer, até que todas as lembranças do passado cessem, até que os anjos venham em coro cantar para embalar seus sonhos, que serão adocicados e cheios de vida - a vida que não tens, a vida que nunca teves, a vida que jamais terás."

Um comentário:

  1. Legal terminar no sonho, que foi em que começou dizendo não ser seu.
    Conhecimento é o que oferece? Pois conhecimento é poder e de nada serve o poder - outro conceito dos seres - se não para para ser mostrado, imposto, comparado. Ele é relacional, não é dado, depende do outro, exige um resultado: algums ganhos, admiração e quem sabe, felicidade, orgulho,sonhos de mais poder, paixão, prazer... Tudo aquilo que não podes ter, mas é sua razão de viver.

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