8.21.2007

Desencontros


E é difícil para M. até hoje aceitar que N. já não era mais sua. É que ela era o oásis, a salvação, o Éden perdido de M., e isso era tão puro e bonito que a feiúra de um mundo inteiro não ofuscava os brilhos do sol que eram aqueles-dois-em-um-só. Sim, pois a metade da alma de cada uma estava no outro, "dimidium animae meae", assim eles se chamavam, metade da minha alma, e eram sinceras palavras quando ditas, ou escritas. Pois sempre existiam cartas para serem entregues e lidas, e sempre muita coisa para trocar, de beijos até as carícias mais obscenas, e nunca nem mesmo isso era mundano.

Mas eis que os ventos batem, os amantes se separam, o tempo passa.

Um dia eis que em uma rua qualquer se encontram - e os segundos que duram aquela eternidade do reconhecimento são apenas um momento - e fogem um do outro. Correm como loucos, e sentem medo, mas também sentem desejo, e aumenta a vontade de ali mesmo se entregarem ao Grande Excesso, e ficam correndo com esta contradição por dentro, parece que vão tomar coragem e enfim fazer o que deveriam ter feito.

Mas só o que conseguem é correr mais depressa e ir cada vez mais longe. Para sempre.

2 comentários:

  1. "(...) eles corriam, voavam. Não era o vento que os soprava, eram as tempestades que os alava.
    E chocaram. Caíram cada um para o seu lado. E, pancada forte que fora, estavam depois da queda, distantes."


    Saudades de ti!
    Sempre bom ter seus textos maravilhosos ao alcance dos meus olhos =]

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  2. Legal Leandro, não sabia que vc escrevia, sou um admirador de literatura, escrevo, mas estou mais pra roteirista mesmo.

    Sorte e produza mais ae.

    Paulo

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