Em um minuto, S. precisava tomar uma grande decisão. Pouco tempo para muita responsabilidade. Afinal, quase como o destino de seu coração o que estava sendo decidido: precisava escolher entre o cheiro de um perfume que lhe causava as mais fortes ereções ou o prazer de tórridas aventuras sexuais nas suas tardes de vagabundagem.
Era uma decisão difícil. A primeira tinha xx anos, a segunda yy. Era uma diferença banal, mas significativa para S., que beirava os 30 e estava em busca de alguém que pudesse, quem sabe, regar com ele as flores de seu jardim no futuro vetusto. Ele adorava esta imagem, regar com juntos as flores de seu jardim, leu isso em Voltaire e achou lindo, e a imagem dele com brancos cabelos, alguns netos e um jardim era coroada pela presença da esposa, igualmente de cabelos brancos, junto com ele no cuidados de crisântemos e papoulas.
Mas tudo poderia ser apenas sexo, tanto com uma ou com outra. Pegou o telefone da primeira, pegou o da segunda, somou números, procurou combinações, tentando achar algum indício cabalístico de quinta categoria. Explicar número de telefone pela cabala, era só o que faltava, realmente S. precisava de ajuda, ou ao menos de um pouco mais de canalhice, ficava com uma hoje e a outra amanhã, elas jamais saberiam, bastaria levá-las para lugares diferentes. Lembrou dos seios de T., logo em seguida da bunda de M., comparou-as, bela bunda, belas tetas, seria bem melhor se S. fosse algum tipo de deus que pudesse leva a bunda de uma pro corpo com as tetas da outra. Por um momento este pensamento o absorveu, nem deu tempo de dar-se conta do absurdo no qual se metera, e logo sacou os papéis de telefone de novo e ficou pensando para qual delas ligar.
Não deu tempo: o celular tocou. Olhou o visor, era uma garota de tempos atrás. Que estranho ela ligar assim, mas alegrou-se, ela era um avião, S. adorava gírias antigas. A conversa fluiu imbecil como todas as conversas entre pessoas que há tempos não se vêem, saudades, vamos sair?, eu te ligo, a gente combina, e assim ficou acertado que S. ligaria para ela na sexta, iriam num bar para matar saudades, certamente ela queria mesmo era o velho vai-e-volta acelerado, mulheres também são filhas de deus.
Então S. viu os telefones em sua mão, olhou bem para cada um deles, xx anos em um, yy anos no outro, em uma aquela vida de delícias sentimentais, na outra uma ninfeta tarada na qual era difícil confiar - anotou ambos na agenda do celular, acendeu um cigarro e foi até a janela. Não ligaria para nenhuma das duas, estava decidido, disse baixinho para si mesmo. Tentava levar o pensamento para longe daquela confusão de nomes e seios fartos, para longe daqueles nomes, para longe daquelas vozes femininas cheias de veneno. E por mais que tentasse apaziguar seus pensamentos, S. olhava a cidade com a estranha sensação de que estava perdendo a mulher de sua vida para sempre.
Muito bom! O tipo de erro — ou o melhor dos acertos — que costumamos cometer várias vezes durante nossa vida.
ResponderExcluirParabéns, cara!
Bom saber q sua cabeça funciona como a de um homem normal, simples. Sempre achei q vc fosse Deus.
ResponderExcluirÉ por isso que escrevo, ser anônimo: já que (ainda bem) que não Deus, brinco de ser o Criador manipulando sujeitos, verbos e predicados. Assim crio mundos que são só meus ;-)
ResponderExcluirAh, é pedir demais que vc se identifique? Fiquei curioso o.O
Um Deus sendo rebaixado a condição de homem normal. Como alguém já disse, é bom saber.
ResponderExcluirTenho também a vontade de sumir que você se refere na apresentação do blog, quem dera aliás fosse apertar um botão no controle remoto e fazer todo o mundo sumir ou ao menos se calar. Assim, permaneço na sombra. Gosto dos seus textos, estarei sempre por aqui, um dia lhe mostro o que escrevo .......... Até.
ResponderExcluirObrigado, Anônimo!
ResponderExcluirAgora as postagens serão mais constantes por aqui. E por favor, mande-me os textos. Até lá, permanecerei em curiosidade.