Ao som de Corona Barathri & Akhtya "Summum Malum"
Quando lancei o primeiro número do Dissolve Coagula desejei que cada página, cada texto, cada imagem fosse um ato devocional às potências infernais. Elas seriam não apenas um amontado de tinta sobre papel dissertando sobre metal negro e magia obscura, mas verdadeiras ESPADAS DE MORTE que incentivariam a rebeldia, o ódio e a negação da Criação. Espadas que rasgariam pensamentos limitadores e cortariam amarras espirituais. Espadas que, cunhadas nas forjas de Lúcifer, promoveriam a matança dos egos e libertariam as Chamas Negras nos soldados da armada de Maiorial. Eu desejei isso com força, e rezei para que esse desejo infectasse cada exemplar do fanzine, espalhando confusão por onde passasse, como um vírus espiritual propagador de influências nefastas. Para os incautos representaria tão somente diversão, textos sorvidos com pouca (ou nenhuma) profundidade. Mas no solo fértil dos que já tinham em si tendências dissolutivas, eu ansiava plantar sementes que frutificariam em negros frutos de Sabedoria Oculta, possibilitando inclusive na criação de elos com indivíduos e egrégoras que buscassem os mesmos objetivos espirituais que eu buscava. Pois meu caminho até então foi feito de modo solitário, e eu era impelido a buscar conexões com outros para aprender, compartilhar e evoluir.
Devido a esses elos, intensifiquei minha participação junto à egrégora da Corrente LTJ49, no Templo de Quimbanda Maioral Beelzebuth e Exu Pantera Negra. Meu primeiro contato com eles foi através de uma entrevista para o site Rat Hole (essa entrevista aqui http://www.chaosophie.net/?p=1589) e desde o primeiro momento me identifiquei plenamente com a forma como eles pensavam a espiritualidade negra e a Quimbanda. Após alguns contatos por mensagens e a participação em algumas atividades abertas, fui conhecendo mais sobre a Corrente 49 e as pessoas que dela fazem parte. Nessa relação mais próxima com as práticas e alguns membros pude compreender melhor diversos aspectos da Quimbanda, o que me trouxe ainda mais identificação, além de entender também que tudo que se fala de negativo sobre o Templo - que são falsos, aproveitadores, pretensiosos angariadores de black metallers deslumbrados com Dissection, etc - não tem nenhuma base de realidade. Tenho zero interesse em intrigas: assim agi durante toda a minha vida em relação a assuntos mundanos. Quando se trata de questões espirituais, esse desinteresse toma feições quase militantes. Pois bem: as críticas direcionadas ao TQMBEPN me parecem mais o resultado de uma querela egóica do que qualquer outra coisa. Justamente pela postura antidogmática e plural do sistema da 49, ele pode causar certo desconforto em pessoas e seguimentos mais tradicionalistas, e os ataques que vi à Corrente tem exatamente esse desconforto como base, muitas vezes sem um contato direto com seus membros.
De longe considero meu contato com a LTJ49 o mais fecundo dos elos que o Dissolve Coagula me proporcionou. Foi ali, junto ao solo sagrado da Corrente, que tive meus primeiros contatos com Exu e Pombagira. Conversar com os espíritos de modo direto, partilhar de suas energias, intensificar-se nessa egrégora proporcionou-me gnoses que eu jamais havia experimentado. São conhecimentos que não se traduzem em palavras, ou dificilmente conseguimos através delas expressar. Saberes que falam, em um idioma selvagem, sobre aquelas feridas íntimas que desejamos esquecer, sobre aqueles medos inconfessos, sobre as limitações que nos envergonham. Pois é assim a experiência com Exu: no limite do trauma, nos empurrando para abismos cada vez mais profundos onde, em uma escuridão absoluta, encontramos a Luz Verdadeira que liberta. Humildemente reconheço que estou como um simples neófito na minha caminhada junto aos espíritos, mas o pouco que eles já me ofertaram funcionaram como pérolas e, em profunda gratidão, sigo buscando uma conexão mais profunda com eles.
Outro elo construído através do fanzine foi com indivíduos sérios ligados à Corrente 218. Apesar de nosso contato inicial ter tido como pano de fundo o metal negro, a amizade que se desenvolveu e o nível da discussão seguiu um direcionamento muito mais voltado para questões espirituais e magísticas do que puramente musical. Falamos muito sobre as entidades negras, que são energias bastante distintas daquelas que encontramos nas giras de Quimbanda, e as quais estudo e medito com reverência e atenção, mas sem (ainda) buscar uma conexão mais direta. Entendo que tudo deve ocorrer em seu devido tempo e o meu, nesse momento, tem como foco primordial a Quimbanda. Há certas proximidades entre as Correntes, mas por demais abstratas, e no específico da ritualística diferem de maneira bastante acentuada. Por esse motivo, e inclusive como forma de não misturar egrégoras de maneira irresponsável, tenho mantido minha prática e estudos direcionados, embora veja de maneira muito positiva a relação com essas pessoas. Uma maneira de encontrar aliados mais experientes do que eu, e que podem servir como referência e aconselhamento para desenvolvimentos futuros.
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