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4.03.2017

Vishudha Kali


Vishudha Kali é um projeto russo de música industrial que utiliza como base de suas composições sons produzidos pela boca, além de muitas camadas de distorção e efeitos variados. As longas composições - muitas vezes ultrapassando os dez minutos - produzem atmosferas que levam o ouvinte atento a uma jornada por áridos desertos de introspecção.

Encontrei o texto abaixo no site do projeto, onde seu idealizador, Andrei Komarov, fala um pouco mais sobre o conceito do Vishudha Kali. A revolta ao estilo "vamos destruir toda a humanidade" presente nas linhas abaixo pode soar demasiado colegial para muitos (para mim também, e muitas vezes), mas eu não consigo deixar de admirar as mentes obcecadas por inconsequentes sonhos de destruição. Mais de uma vez já escrevi aqui que, em um momento onde fazer arte (seja ela qual for) parece cada vez mais estar vinculado a atender as expectativas do público seguindo uma certa cartilha princípios não declarados, só me interessam os retardados, extremistas e solitários, que estão menos preocupados com reconhecimento (o "valor de mercado" intangível de suas obras) e mais com alargar a percepção que tem sobre si mesmos em um mundo que convulsiona no seu leito de morte.

Antes da leitura, clique no play abaixo para ouvir o som "Rituals from fire", do álbum de estreia "Psenodakh=" lançado em 2002.




"Vishuddha significa em sânscrito antigo o lugar, ou chakra, onde a energia de expressão e criação é concentrada. Está localizado na parte inferior da garganta e opera igualmente com respiração e a voz. Kali é a deusa da idade do ferro - este é o tempo de pensamentos escuros, guerras, muros & destruição, era de involução. 

Vishudda Kali é um projeto musical baseado apenas em sons produzidos através da boca do homem. Todos os sons dos discos são sons vocais, produzidos de diferentes formas de controlar a respiração e modular a fala, e apesar de terem sido gravados com diferentes tipos de processos e bastante distorcidos, são ainda sons da voz somente. As composições não são música propriamente. O trabalho criativo de Vishuddha Kali é devotado ao total genocídio da sociedade humana e ao esforço da humanidade por auto-aniquilação e destruição.

Mas também Vishuddha Kali quer observar que nem todos vocês são humanos reais. Há três tipos de seres humanos: os primeiros têm o espírito, a alma e o corpo. Estes são reais humanos, um tipo raro - um a cada um milhão, provavelmente. Cerca de 1% de toda a população humana. O segundo tipo tem a alma e o corpo - estes estão procurando a evolução. A quantidade de tais seres é próxima de 10% de todos os humanos - um entre milhares. O terceiro tipo tem o corpo somente, e o espírito e a alma estão em grau embrionário. Eles não têm nenhum objetivo espiritual, apenas uma lista de programações sociais - nascer, comer, obter o dinheiro, obter coisas diferentes e finalmente morrer e ter uma tumba apropriada com suas flores. Eles ainda podem confiar em Deus, e fazem isso da mesma forma como limpam os dentes - automática e inconscientemente. São biomassa: nascem, trabalham, tem filhos, morrem; nascem de novo, trabalham, procriam e depois morrem mais uma vez. O universo precisa que eles continuem a humanidade como espécie animal - são a fonte para produzir o homo sapiens.

Também há alguns seres especiais com vetor anti-espiritual em seu ser. Organizam ideologias, religiões e movimentos políticos. Iniciam todas as guerras, promovem progresso científico e econômico; em outras palavras, ensinam as biomassas para deslocar a energia da vida não para o progresso interno, mas para atuar no vazio. Tais seres anti-espirituais manipulam os membros da biomassa e os utilizam como escravos. Estes escravos criam as possibilidades para as pessoas anti-espirituais tenham vidas esplendorosamente ricas. Anti-espirituais criam uma infinidade de coisas vazias, fetiches como religiões, jogos e um monte de produtos diferentes para fazer com que os membros da biomassa sejam dóceis e facilmente manipuláveis. Eles também criam guerras e crises às vezes, e conduzem a energia vital e atenção das biomassas cegas para elas. As pessoas de biomassa existem somente para realizar todos os planos insanos dos anti-espirituais, tornando-se uma refeição para demônios e animais. Anti-espirituais controlam as estruturas do poder. Todos os sacerdotes, políticos, ídolos pop, etc são utilizados como fontes de energia para que consigam seus objetivos. Com isso, fazem com que os seres que têm a alma e o corpo vivam em uma atmosfera estranha, que tenham sua imaginação adoecida. Eles promovem a formação pensamentos idiota e estúpidos onde os indivíduos se imaginam muito importantes e únicos, como uma criação perfeita de Deus, como um rei de natureza, como se houvessem deuses ou anjos ou Satanás em algum lugar. Esse tipo de pessoa é o típico homem culto, ou funcionário do mundo das artes. Eles não são perigosos para um regime anti-espiritual porque eles estão escondidos dentro de sua mente interior. Sua esquizofrenia está progredindo através de diferentes eventos artísticos, naquele tipo de público interessado por colecionar coisas, fanclubs, ciência ou negócio. 

Vishuddha Kali - esta "Arte de Destruição" - tem uma intenção muito séria de mostrar a todos os seres o seu real lugar nesta vida. Sendo criado somente dos sons de respiração, ativa alguns processos de consecução. Mostra a todos que a necessidade de progresso demanda um certo tipo de violência - violência contra todos os pensamentos falsos e os programas sociais, discursos religiosos e idéias falsas. Todos nós necessitamos de um processo através da violência para limpar nossas mentes. Vishuddha Kali ajuda a abrir os olhos, para realizar que agora é tempo de parar de enganar-se, que é tempo de olhar a si mesmo de forma honesta antes de continuar a viver, antes que a poluição informativa e as mais diversas influências em nossas mentes destrua nossas almas e espíritos.

Pare de obedecer aos comandos hipnóticos de sua consciência doente para produzir famílias, crianças, acumular coisas sem sentido, ler jornais e ver TV. Pare de ter medo de qualquer coisa, de orar por qualquer um. É demasiado fácil & difícil simultaneamente - simplesmente pare e comece a viver. Destrua o seu ego. Nós não somos princesas ou reis ou anjos ou demônios - nós nem sabemos qualquer coisa sobre o cosmos e a Terra, sobre químicas e física. Todos os nossos conhecimentos sobre essas coisas estão velhos, ultrapassados  - é somente um conglomerado de ilusões, parte de um processo de involução, como uma magia negra perpetrada pelos meios de comunicação. É hora de parar esta loucura. Nenhuma religião, nenhuma política, nenhuma ideologia. Isso é tudo."


Discografia

Álbuns
Vishudha Kali - "Psenodakh" - 2002
Vishudha Kali - "Prem Genocide" - 2002
Vishudha Kali - "Myths about Srontgorrth" - 2003
Vishudha Kali - "The White Stone" -2004
Vishudha Kali & Chaos As Shelter - "Mirror" - 2004
Vishudha Kali - "Unfinished Devastation Narrative" -2005
Vishudha Kali & Velehentor & Closing The Eternity - "Ishopanishad" - 2008
Vishudha Kali & Moon Far Way - "Vorotsa" - 2011








8.06.2012

Blue Sabbath Black Cheer




Nascida em Seattle em 2005, extensa produção em K7s, vinil e CDs, "black acid noise doom drone hate", várias (e catárticas) apresentações ao vivo, "the end of the world".

Baixei na sexta os LPs que o Blue Sabbat Black Cheer fez em colaboração com o Irr. App. (Ext.) ("Skeletal Copula Remains", de 2009, e o "Skeletal Imposition, de 2011") e ficou em looping durante toda a madrugada de ontem para hoje. Eu tinha aqui o "Doom mantra" e o "The endless blockade", duas mosntruosidades de perturbação e horror (anti)musical, e esses lançamentos colaborativos reacenderam o interesse pela banda.

Site oficial da banda aqui. Vídeo + fotos  + artes de alguns de seus muitíssimos lançamentos abaixo.









7.10.2012

Blood of the Black Owl


Blood of the Black Owl é uma banda de Seattle formada em 2004 por Chet W. Scott. Conhecia dois trabalhos anteriores da banda (os excelentes "A banishing ritual", de 2010, e o split com o Celestial, de 2008); e ontem, através da Hex Magazine, ouvi o seu novo lançamento, o "Light the Fires!", lançado em 3 de julho último pela Bindrune Records - e o sentimento que me assaltou durante a audição foi de completa fascinação.

Musicalmente, Blood of the Black Owl é um monstro que mescla Funeral Doom com densidades etéreas cheias de misticismo e aura ritualística. Aliás, o elemento metal é o que menos comparece em "Light the Fires!", onde a atmosfera xamânica domina praticamente todas as músicas. Ontem, quando comecei a audição, de pronto percebi que não conseguiria fazer nada enquanto estivesse ouvindo o disco. Era necessário apenas ouvi-lo, deixando que as emanações de "Caller of Spirits", a música que abre o disco, controlassem totalmente minha atenção. Daí em diante a experiência foi seguindo por mais seis faixas, todas longuíssimas, que passaram como se fosse um simples abrir e fechar de olhos. Ouça agora:

3.16.2012

Kali, a mãe da destruição

3.12.2012

"Iron", do Woodkid



Woodkid é uma banda francesa formada por um sujeito que parece um designer. Uma descrição assim, colocando as palavras "francesa" e "designer" na mesma frase, faria com que eu perdesse o interesse completo pela banda, ainda mais se depois eu visse uma foto do cara. Preconceitos, eu os tenho aos monte e cultivo boa parte deles com dedicado zelo.

Mas também é importante quebrar a cara algumas vezes. Ajuda a formar o caráter mediante um sorriso amarelo de constrangimento. No caso do Woodkid, fui obrigado a experimentar esse sorriso quando vi o clip da música "Iron". Beleza, heroísmo, clima beligerante: há tudo isso nessa música, condensados em poucos mais de três minutos de batidas marciais acompanhadas de um vocal que destoa de todo o resto - e é nessa estranheza que justamente parece estar o trunfo do Woodkid.

O primeiro álbum deles, "Golden age", sairá ainda esse ano.



1.16.2012

Hinos da The Process Church of the Final Judgement


Lançado em 2010 através de uma parceria entre a casa editorial Feral House e o sêlo de occult black metal Ajna, Restored to One é o disco do Sabbath Assembly que apresenta versões do hinos rituais de um dos cultos mais controversos dos últimos anos, a The Process Church of the Final Judgement.

Agora um pouco de história.

12.25.2011

Ciclos


Termina 2011 como um ano onde, após muita expectativa, meu primeiro livro, o "Tudo o que é grande se constrói sobre mágoa", finalmente foi lançado. O lançamento oficial ocorreu em 10 de dezembro, como foi noticiado aqui na ocasião, e a venda pelo correio começará em 2 de janeiro, segundo a Ugra Press. Aos que estão em busca do livro, aguardem a atualização da loja da Ugra nessa data: http://ugrapress.wordpress.com/ugra_meg/

Além do livro, esse ano que está prestes a terminar também foi importante para a retomada dos projetos musicais, e tive a honra de participar da criação de duas aberrações:

THE CRACKWHORES: 100% sujeira noisecore, sem meios termos, sem tentativas de soar musical.
DISPERARII: minimalismo, lentidão, psicodelia de Mão Esquerda.
Para 2012 os planos são concretizar esses dois projetos musicais. Sem nenhuma pretensão de vê-los como portadores dos vícios de qualquer cena, mais do que certeza que ambos jamais se apresentarão ao vivo. Tocar ao vivo foi, por anos com o Life is a Lie, uma experiência das mais extremas. Hoje, porém, não vejo nenhum sentido em uma apresentação ao vivo, pelo menos nos projetos com os quais estou envolvido. Isso porque me lembro de como foi a experiência com as últimas apresentações do Life is a Lie, onde a vontade que eu tinha era de desaparecer tão logo as últimas notas ecoavam. Talvez porque os shows aconteciam praticamente todos os finais de semana e, então, perderam o sentido... Talvez. Seja como for, pelo menos por agora, nenhuma chance nem do DISPERARII nem do THE CRACKWHORES tocarem ao vivo.

Também estou escrevendo um novo livro. Será um romance dessa vez. O ambiente, os principais personagens e o enredo estão prontos, faltando agora o trabalho braçal de excomungar daqui de dentro a história que imaginei. Pretendo tê-lo pronto no final de 2012, se os deuses me forem favoráveis. Ainda não está decidido, mas talvez saia pela Ugra Press também.

Top acontecimentos/discos/leituras de 2011:

1) lançar em livro os contos do Dissolve Coagula
2) mudar de apartamento
3) ganhar um Mate-couro de 500ml
4) descobrir Devil Makes Three
5) o "Void", do Craft
6) o "Ultimacy", do Blood Axis
7) "A morte de Bunny Munro", de Nick Cave
8) "O livro dos mandarins", de Ricardo Lísias
9) "História do Olho", do G. Bataille

12.02.2011

Black Mass Rising - o trailer


Black Mass Rising é um filme dirigido pela intrigante Shazzula, artista belga nascida em 1977 cuja carreira conta com participações em inúmeras (e diferentes) bandas, um personalíssimo trabalho como ilustradora, DJ em eventos dedicados ao psych rock e, também, como videomaker.

6.14.2011

A grande ampulheta dos desencontros do Universo

E não há quem culpar a não ser o Tempo, essa divindade que tira suas forças do desencontro e da ruína de tudo. Sim, é o Tempo um deus muito severo, a tudo submete a provas, a batalhas demasiado duras e ferozes: essa é sua característica mais forte. Além disso, ele também faz com que os corações vibrem em dissonância, e se diverte com os desencontros que provoca. Não destrói nada com essas suas brincadeiras de mau gosto, mas adia a felicidade de muitos, faz promessas que não sabemos se serão cumpridas, deixa a muitos homens buscando aquelas delicadezas femininas que apenas uma mulher encarna -justamente aquela que lhe escapa, justamente aquela que, antes, tinha lhe acenado com tantas esperanças...

É uma ironia terrível a dos desencontros, e o Tempo adora provocá-las. Justamente quando um está decidido, o outro decide ir para longe, seguindo o canto de algum outro amante, que entrou na história sem ser convidado e, assim, age em sintonia com as perversas decisões temporais de não fazer dois corações se encontrarem. A decepção de um, agora experimentada pelo outro: a Lei da Compensação agindo com sua certeira e implacável justiça.

Mas há muitos que não se rendem aos caprichos desse deus tirânico que derruba de árvores a civilizações, há aqueles que preferem a loucura de não se importar se os desencontros, experimentados com tristeza, irão se repetir ou se serão definitivos. Dotados de uma inconseqüência quase fisiológica, espreitam na tranqüilidade de uma paixão ainda não realizada, aguardando o momento certo para dar livre vazão a um universo de palavras não ditas, de gestos represados, de sentimentos que só podem ganhar vida através do contato entre duas epidermes -enfim, esperam apenas um momento, apenas um instante onde o Tempo, cansado de promover tantos desencontros, possa enfim ser um deus menos injusto.

E até que isso ocorra será de música que viveremos, justamente porque música foi aquilo que fez com que essa inconseqüência me dominasse por completo...



4.11.2011

A morte de Bunny Munro: uma tentativa de resenha


Nick Cave talvez dispense apresentações. Mas a regra da clareza me impõe uma introdução, aquela lambidinha básica que todos gostamos antes de... bem, isso  com certeza você sabe.

Então é isso: músico australiano que começou sua carreira nos anos 80 com o The Birthday Party, banda relativamente desconhecida quando colocada ao lado do monstruoso The Bad Seeds, o musical dream team que acompanha Cave desde o fim de sua primeira banda. Canções como “Red right hand", “The weeping song” ou “Straight to you” são verdadeiros hinos catárticos que provam que o universo da música pop é (ou era) capaz de oferecer algo mais do que hits de verão descartáveis. Morou em São Paulo por muitos anos e reza a lenda que freqüentou os puteiros da Rua Augusta em uma época onde aquele ponto da capital paulistana não tinha o aspecto hype dos dias atuais. Além de tudo isso, Mr Cave já escreveu o argumento do filme The Proposition (2007), assinando também a trilha sonora. Também compôs a trilha de “O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford” (2007) junto com Warren Ellis, seu comparsa no Bad Seeds e no Grinderman, banda na qual Cave se dedica a músicas com uma veia mais rock e visceral.

10.30.2010

Meu amor idiota - Ordo Rosarius Equilibrio

 O Ordo Rosarius Equilibrio foi uma das primeiras bandas de neofolk que ouvi e sem sombra de dúvida a minha preferida. O intricado conceito da banda que mescla sexo, dominação, militarismo e religiosidade transparece grandiosamente não apenas nas espetaculares letras, mas também na sonoridade -que com bases simples e sensuais consegue criar atmosferas admiráveis, perfeitas trilhas sonoras para momentos solitários ou a dois (ou quantos a imaginação e a criatividade permitirem...).

E eis que hoje encontrei esse novíssimo clipe da banda, realizado pela mesma produtora dos novos clipes do Spiritual Front (bandas amigas, já gravaram um disco em conjunto que é uma das coisas mais espetaculares já feitas, como atesta essa música). Produção impecável, música com alta dosagem pop mas ainda assim mantendo a tradição que Tomas Petterson e a bela Rose-Marie Larsen criaram ao longo desses anos.Deliciem-se!



10.22.2010

Sucos naturais para guerreiros

Quando uma banda declara como influências "life, love, anger, heroes, friends, enemies and natural warrior juices" você precisa pensar seriamente em parar tudo o que está fazendo para escutá-la. Mas se essa banda tiver um membro do glorioso Cobalt, então a menos que esteja rolando a farra sexual dos seus sonhos você deve parar imediatamente e prestar atenção na música. É o que você deveria fazer agora, já que duvido que essa farra esteja acontecendo.






10.06.2010

Born Again


"To everything there is season. For those who are cursed, a time to die and to be forgotten. And for the blessed, a time to be born again: to live on, beyond death, in the minds of men." - Blood Axis

Eis a trilha sonora dos últimos dias. Minha predileção por neofolk sempre esteve voltada para bandas que tinham uma sonoridade mais modernizante/industrial, como o próprio Blood Axis no início. Mas o novo CD, calcado em instrumentos antigos, surpreendeu-me positivamente.

Ouvir




3.18.2010

Kashiwa Daisuke

Há algumas experiências que são especiais e que nos valem lembranças inúmeras. Também há músicas assim: chegam até nós com seus acordes banais e então nos vemos hipnotizados. Retiram-nos do ambiente prosaico e vulgar do cotidiano, colocam a vida em um novo patamar de Beleza em sua duração de minutos. Mesmo quando as ouvimos de novo, a fruição estética da primeira audição nunca se repete. Ainda nos emocionamos, mas o impacto não é -e jamais será- o mesmo.

Falei dos minutos que duram as canções. Na verdade, as grandes canções são apreciadas fora da escala de tempo ao qual estamos submetidos. Um professor meu disse certa vez que um relógio no pulso só pode ser visto como uma ofensa; é uma espécie de grilhão, mas discreto; aprisiona em larga escala e, pior, pagamos por ele, ou o ganhamos com imensos sorrisos de satisfação. É como se, ao abrir as portas da senzala, fossemos entrando nelas aos saltos.

É por isso que, quando conhecemos certas músicas, elas nos inspiram uma sensação de profundo deleite; respiramos com a leveza que apenas os libertos experimentam; o tempo de duração da melodia nos escapa, e é como se mergulhássemos em um ambiente onde nenhum ponteiro ou ampulheta faz sentido. O ritmo eterno de auroras e crepúsculos nada nos diz. Apenas ouvimos, e de cada nota escorre um saboroso líquido que embebeda a alma.

Kashiwa Daisuke é uma das bandas que conseguem criar canções assim. Eu fui apresentado a essa preciosidade por um amigo. A música abaixo é a primeira do Kashiwa Daisuke que eu ouvi. Na verdade, trata-se de um trecho, pois a versão completa tem mais de 30 minutos. Nada mais posso dizer a respeito: apenas ouça. Certas coisas são ridículas quanto comentadas e estou me sentindo ridículo por ter escrito tantas infelicidades para tentar explicar a música mais maravilhosa que já pude ouvir em toda a minha vida.

1.21.2010

A moda errada

Esse post foi feito com o intuito de ganhar uma camiseta do Einsturze Neubauten no site da Wrong T-shirts, nova empreitada do cúmplice de velha data em variados tipos de crimes e roubadas, mister Douglas Utescher.

Recomendo que você, amante de música extrema em suas mais diferentes vertentes, dê uma olhada nas camisetas que o rapaz distribui. Tem de Bauhaus a Beherith, passando por Crude SS e uma enigmática estampa chamada "Der Todesking".

5.15.2009

O amor e o desafio de estar vivo - Ordo Rosarius Equilibrio

Ordo Rosarius Equilibrio
Letra da música "The love and defiance of being alive", da banda Ordo Rosarius Equlibrio, presente em seu último trabalho, Onani (Four hands please better than two) - desnecessário qualquer explicação sobre o título desta obra-prima do neofolk.

To live is the strangest of feelings;
it makes you desire so many things

The love and defiance of being alive
The lovers have stopped to believe;
conviction is no longer needed

The feeling of pain it makes us alive
Hate is the strangest of feelings;
it gives you so many things

The love and desire to feel and believe

The children destroy just to see;
a reason has never been needed

They hurt just to feel that they are alive
To live is the strangest of feelings;
it makes you desire so many things

The love and defiance of being alive
The lovers defile to be pleased;
compassion is no longer needed
In bondage they feel that they are conceived
The passion and fire of love is complete
The fire of life is complete;
it makes us conceive so many things
The life we desire corrodes while we dream
To live is the strangest of feelings;
it makes you desire so many things

The love and defiance of being alive
The lovers have stopped to believe;
conviction is no longer needed

The feeling of pain it makes us alive
Hate is the strangest of feelings;
it gives you so many things

The love and desire to feel and believe
The fire of life is complete;
it makes us conceive so many things
The life we desire corrodes while we dream

2.21.2008

Absinthia Taetra


"Green changed to white, emerald to an opal: nothing was changed. The man let the water trickle gently into his glass, and as the green clouded, a mist fell from his mind. Then he drank opaline. Memories and terrors beset him. The past tore after him like a panther and through the blackness of the present he saw the luminous tiger eyes of the things to be. But he drank opaline. And that obscure night of the soul, and the valley of humiliation, through which he stumbled were forgotten. He saw blue vistas of undiscovered countries, high prospects and a quiet, caressing sea. The past shed its perfume over him, today held his hand as it were a little child, and to-morrow shone like a white star: nothing was changed. He drank opaline. The man had known the obscure night of the soul, and lay even now in the valley of humiliation; and the tiger menace of the things to be was red in the skies. But for a little while he had forgotten. Green changed to white, emerald to an opal: nothing was changed."

Este texto é de autoria do poeta inglês Ernest Dowson (1867-1900), cuja obra em geral é associada ao Decadentismo de autores como Baudelaire, Guy de Maupassant e Lautréamont. Curiosamente, a ele cheguei não pela via literária, mas musical: o texto acima foi base de uma composição na obra-prima "Absinthe - Le Folie Verte", produção conjunta dos grupos Blood Axis e Les Joyaux de la Princesse.

O tema, como claro está, é o absinto. Bebida dos poetas, dos artistas e boêmios do XIX, em especial na França, seus efeitos alucinógenos eram tidos como a mais sublime das inspirações, capazes de elevar o intelecto para além das barreiras do normal, de permitir a criação em sua forma mais intensa e voraz. O pequeno texto de Dowson pretende, justamente, transformar em literatura o estado espiritual provocado pela ingestão do absinto. E não apenas os artistas, mas também a burguesia e as camadas mais pobres consumiam a Fada Verde - o consagrado epíteto que ganhou devido a sua coloração - a ponto de, em 1910, registrar-se na França o consumo anual de 36 milhões de litros de absinto. ver verbete na Wikipedia a respeito

Outros poemas e textos de Ernest Dowson pode ser encontrados no site do Project Gutenberg, uma iniciativa de Michael Hart, o criador do e-book, cuja meta é encorajar a produção e distribuição de e-books gratuitamente, das mais diversas áreas do conhecimento. Há um conteúdo absolutamente gigantesco. Ainda não tive tempo de vasculhá-lo como deveria, mas aqui fica a nota mental para fazê-lo mais tarde.

Baixe a música Absinthia Taetra.
Veja a imagem original do quadro de Albert Maignan que ilustra este post.
Mais telas inspiradas no absinto de V. Oliva, Edgard Degas e Edouard Manet.
Veja filmes mudos do século XIX que falaram sobre o absinto.

2.18.2008

Ni Dieu Ni Maitre

"…et dont nous avons tous l'ordre de ne sortir que morts ou vainqueurs, vous gonfliez vos âmes d'ardeur et de décision. C'est à vous que je pense en écrivant, à vous qui devrez mourir en acceptant le baptême de la mort avec la sérénité de vos ancêtres, à vous qui devez passez par-dessus vos morts, et par-dessus leurs tombaux en brandissant dans vos mains le drapeau triomphant, en chantant « et si c'était à refaire, je referais ce chemin…"

"…j'écris au nom de notre famille, je ne me soucis d'aucune des règles imposées à nous – je n'ai pas le temps. J'écris au courant de la plume, sur le chant de bataille, au milieu des combats. A l'heure présente, nous sommes encerclés de toutes parts. Nos ennemis nous frappent lâchement, et la trahison nous dévore, mais nous restons debout, inébranlables, invincibles, immortels…"


"...e da qual todos nós temos a ordem de só sair mortos ou vencedores, você infla a sua alma de ardor e decisão. É em você que eu penso escrevendo, em você que deveria morrer aceitando o batismo da morte com a serenidade dos seus ancestrais, em você que deveria passar por cima de seus mortos, e por cima de suas tumbas brandindo em suas mãos a bandeira triunfante e cantando 'e se fosse refazer, eu refaria este caminho...´"

"... eu escrevo no nome da nossa família, eu não me preocupo com as regras impostas à nós, eu não tenho tempo. Eu escrevo no curso da pluma, na canção de batalha, no meio dos combates. Na hora presente, nós estamos cercados por todas as partes. Nossos inimigos nos espancam covardemente, e a traição nos devora, mas nós permanecemos de pé, inabaláveis, invencíveis, imortais..."

(Introdução da música "Ni Dieu Ni Maitre", do grupo industrial/folk Rome, de Luxemburgo)